“Prefeita gostosa”: o machismo por trás da polêmica com Patrícia Alencar

As pessoas recriminaram a atitude dela, acusando-a de não ter o decoro necessário para uma prefeita

Por Nathalí Macedo, escritora, no DCM

Mais uma polêmica sem sentido: a prefeita de Marituba (PA), Patrícia Alencar, viralizou (com mais haters do que fãs, obviamente) ao postar um vídeo dançando de biquíni.

As pessoas, sobretudo os homens, recriminaram a atitude da mulher, acusando-a de não ter o decoro necessário para uma prefeita.

Pergunto: ela dançou em horário de expediente? Em uma reunião com seus aliados?

Não, ela dançou em casa, na sua rede social, e isso não é problema de ninguém.

Os homens, acostumados à nudez que só existe para seu voyeurismo, foram baixos: quem não chamava a pobre da prefeita de puta fazia questão de tratá-la como objeto — e não, o fato de ela dançar de biquíni não a coloca na condição de ser objetificada, ou ao menos não deveria.

Agora, ela provavelmente será sempre lembrada como “a prefeita do TikTok”, mas poucos sabem que ela é muito mais que isso: mãe de três filhos, já vendeu baldes na feira para sustentá-los. Está no seu segundo mandato e, em sua primeira gestão, fez questão de criar políticas públicas para mulheres — as mesmas mulheres que hoje a criticam, por moralismo barato ou inveja, ou os dois.

Esse moralismo — obsoleto e cafonérrimo — é comum em algumas profissões, como agentes da polícia e, claro, membros do poder executivo.

Agora, pronto: uma mulher gostosa não pode ser gostosa em paz sem sofrer os mais cruéis julgamentos.

Antes de ser prefeita, Patrícia é uma mulher que gosta de cuidar do corpo e sabe que o que é bonito é pra se mostrar. Qual o problema?

Ninguém fala que ela foi reeleita com folga porque fez uma gestão com base popular e apoio aos movimentos sociais. Só no Instagram, é seguida por 800 mil pessoas.

Mas quando uma mulher tenta dispor de seu corpo como lhe é de direito, ela se torna apenas mais uma gostosa aos olhos das pessoas que reproduzem o machismo — homens e mulheres.

A verdade é que homem só gosta de nudez quando a mulher não quer — a boa e velha cultura do estupro, como sempre, dando as caras.

Uma mulher pode ser inteligente, bem-sucedida e gostosa, e tem o direito de mostrar isso da forma que quiser, uma vez que tal exposição não lhe retira a inteligência, tampouco a dignidade.

Espero que Patrícia saiba aproveitar o hype e saia por cima, com ainda mais admiradores.

E que todas as mulheres possam dispor de seus corpos para fazerem tudo que bem entenderem — inclusive dancinha de biquíni. Um ode às gostosas inteligentes, e que cada vez mais mulheres tomem consciência: nosso corpo não é território colonizável, e com ele podemos fazer o que quisermos — por bem ou por mal.

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