Piauí lidera preservação de sítios arqueológicos

MapBiomas revela avanço do desmatamento e uso humano em áreas históricas entre 1985 e 2023

Uma iniciativa inédita revelou, com riqueza de detalhes, a distribuição e o estado de conservação de quase 28 mil sítios arqueológicos em todo o Brasil, e o Piauí desponta como um dos estados com maior preservação de áreas ao redor desses locais históricos. De acordo com os dados do Projeto MapBiomas – Cobertura e Uso da Terra nos Sítios Arqueológicos no Brasil (1985–2023), 78,7% dos sítios arqueológicos piauienses ainda estão cercados por vegetação nativa, o que representa uma das maiores taxas de conservação do país, atrás apenas de Roraima.

Ao todo, foram identificados 27.974 sítios arqueológicos no território nacional, com base no acervo georreferenciado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Agora tornados públicos com acesso gratuito, os dados permitem comparações inéditas sobre as transformações ocorridas no entorno dessas áreas entre 1985 e 2023. O levantamento mostra uma inversão preocupante: o avanço de atividades humanas nos arredores desses locais aumentou significativamente, ameaçando a integridade dos sítios e o patrimônio histórico que guardam.

“Esses dados permitem identificar tendências e emitir alertas. A sobreposição de imagens temporais mostra claramente onde houve pressão por desmatamento, urbanização ou uso agropecuário”, explica Thiago Berlanga Trindade, chefe do Serviço de Registro e Cadastro de Dados do Iphan.

A análise revela que quase metade dos sítios arqueológicos brasileiros (49,6%) estão hoje em áreas ocupadas por atividades humanas, como agricultura, pastagens e zonas urbanas. Em 1985, esse percentual era de 41,5%. Já a cobertura de vegetação nativa no entorno imediato (100 metros) caiu de 53,5% para 44% no mesmo período. O impacto é ainda mais visível em biomas como a Mata Atlântica, onde 63% dos sítios estão em áreas antropizadas, e na Amazônia, que passou de 19% para 47,5%.

A Amazônia, aliás, concentra o maior número absoluto de sítios arqueológicos: 10.197. A Caatinga vem em seguida com 7.004, destacando a riqueza cultural das regiões Norte e Nordeste. O Cerrado e a Mata Atlântica também registram números expressivos, com 4.914 e 4.832 sítios, respectivamente.

No recorte estadual, a Bahia lidera com 2.718 sítios identificados, seguida pelo Paraná (2.363) e Minas Gerais (2.029). Já estados como Acre, Rio de Janeiro e Espírito Santo aparecem como os que mais perderam cobertura vegetal no entorno de seus sítios arqueológicos, com mais de 75% desses locais impactados por ocupações humanas.

O estudo também incorporou dados de alertas de desmatamento entre 2019 e 2024. Nesse período, 122 sítios arqueológicos brasileiros foram atingidos por algum tipo de desmatamento, principalmente nos biomas da Mata Atlântica, Caatinga e Amazônia. A maior parte desses casos — 79 sítios — está diretamente relacionada à expansão agrícola.

“Essas áreas são registros físicos da ocupação humana ancestral no Brasil, e estão agora sob pressão crescente de novas formas de ocupação, inclusive por empreendimentos considerados sustentáveis, como projetos eólicos e solares”, alerta Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. Um exemplo é o Rio Grande do Norte, onde 13 dos 19 sítios em áreas desmatadas estão vinculados a esse tipo de desenvolvimento.

Para a professora e cientista Marina Hirota, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas urgentes. “A crescente pressão antrópica nos biomas brasileiros, especialmente ao redor de sítios arqueológicos, exige medidas de gestão e conservação mais robustas para garantir que esse patrimônio histórico não seja perdido”, conclui.

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