Perfil de Luiza Trajano, empresária que recebe confetes da esquerda

Ela é a segunda mulher mais rica do Brasil

Foto: Montagem pensarpiauí
Luiza Trajano

Da fanpage Pensar a História 

A empresária Luiza Trajano é a segunda mulher mais rica do Brasil, com uma fortuna estimada em 5,6 bilhões de dólares - mais de 30 bilhões de reais. É proprietária do Magazine Luiza, rede varejista que possui mais de mil lojas espalhadas por 18 estados do Brasil e forte presença no comércio eletrônico, responsável por produzir quase um bilhão de reais de lucro em 2019.

Luiza Trajano herdou a Magazine Luiza de seus tios, que fundaram a rede varejista em 1957. A empresária ocupou o cargo de diretora-superintendente na empresa da família até 1991, quando assumiu a presidência. A rede teve um crescimento expressivo a partir da década de 1990, fomentado por estratégias de marketing bem sucedidas e por uma série de parcerias com instituições financeiras como o Banco Itaú e o grupo Cardif. O holding Magazine Luiza ingressou no setor de fintech, passando a oferecer financiamentos, crediários e seguros, além de estabelecer uma estratégia agressiva de aquisição de redes varejistas menores. Em 2011, Luiza abriu oferta pública de ações, listando a companhia na BM&FBovespa. Desde então, o Magazine Luiza se consolidou como a rede varejista mais valorizada na bolsa de valores.

A extraordinária trajetória ascendente do Magazine Luiza angariou farta admiração à sua proprietária. Luiza Trajano passou a ser incensada por palestrantes e ideólogos do livre mercado como um exemplo de empreendedorismo - um "case de sucesso" de construção de fortuna por meio da meritocracia e da competência gerencial. O crescimento do patrimônio de Luiza Trajano, entretanto, está menos ligado à inovação do que à adoção de práticas comerciais ilícitas ou contestáveis - incluindo manipulação do mercado de ações, estratégias de dumping, concorrência desleal e exploração implacável de seus funcionários. Em 2020, por exemplo, a rede Magazine Luiza recebeu uma multa de 10 milhões de reais, aplicada pelo PROCON de Minas Gerais, pela realização de cobranças indevidas de seguros e produtos não contratados em faturas de cartões de crédito. O PROCON estima que a empresa tenha amealhando mais de um bilhão de reais apenas com essa prática ilegal.

O Magazine Luiza também esteve entre as corporações que mais concentraram reclamações trabalhistas no setor de varejo desde os anos noventa. Somente em 2013, a empresa enfrentou 1.959 processos trabalhistas. A essa altura, já tinha acumulado 87 autuações do Ministério do Trabalho e firmado nove termos de ajustamento de conduta com o Ministério Público. As reclamações versavam sobre jornadas de trabalho excessivas, descumprimento dos intervalos previstos em lei, retenção parcial dos salários e benefícios, descontos irregulares nas folhas de pagamento, abuso do poder diretivo do empregador, assédio moral, assédio sexual, etc. Em 2012, o Magazine Luiza foi condenado pela Justiça do Trabalho a pagar multa de 1,5 milhão de reais pela prática de dumping social, que consiste em eliminar direitos trabalhistas para diminuir os encargos e aumentar a competitividade. A empresa recorreu, mas a condenação foi confirmada em segunda instância. Comprovou-se durante o julgamento que os funcionários da empresa eram obrigados a trabalhar mais de 12 horas por dia e aos domingos, sem amparo da convenção coletiva da categoria.

O crescimento da rede Magazine Luiza foi em grande parte impulsionado pela expansão do consumo e do aumento do poder de compra da população brasileira durante os governos do PT. Essa conjuntura favoreceu a aproximação entre a empresária e o governo Dilma Rousseff - que chegou a indicá-la para presidir o Conselho Público Olímpico. Luiza angariou a simpatia de muitos petistas ao sustentar um discurso dissonante da narrativa midiática majoritária sobre a crise do varejo no segundo mandato de Dilma. Não obstante, quando a presidente perdeu sustentação política e foi apeada do cargo pelo golpe parlamentar de 2016, a empresária não apenas se recusou a apoiá-la como se aproximou imediatamente de seu sucessor, Michel Temer, passando a endossar o discurso da necessidade de implementar as reformas impopulares.

Luiza Trajano deu apoio integral à reforma trabalhista do governo Temer, alegando ser uma medida necessária pra dinamizar o mercado de trabalho e gerar milhões de empregos. A reforma, entretanto, gerou apenas aumento do desemprego e da informalidade. Além de remover direitos e extinguir órgãos de fiscalização, a reforma burocratizou e encareceu a abertura de ações trabalhistas. Para o Magazine Luiza, foi um ótimo negócio, resultando em uma queda de 70% no número de reclamações trabalhistas movidas contra a empresa. Ainda em 2017, Luiza Trajano apoiou a Lei da Terceirização, que via como "necessária para aumentar a produtividade da economia". A lei autorizava empresas a contratarem funcionários terceirizados para executar atividades-fim. Novamente, o Magazine Luiza se beneficiou enormemente da reforma, passando a substituir seus funcionários celetistas por trabalhadores com contratos de trabalho intermitente.

Luiza Trajano também defendeu a reforma da previdência, afirmando que se tratava de medida imprescindível para o ajuste fiscal e para impulsionar o crescimento econômico. Muito criticada pelos movimentos sociais que a definiram como "lei do fim da aposentadoria", a reforma foi aprovada pelo governo de Jair Bolsonaro em 2019. Entre as mudanças, está o aumento da idade mínima para a aposentadoria (62 anos para mulheres e 65 anos para homens) e a instituição de tempo mínimo de 20 anos de contribuição para ter direito ao benefício do INSS.

Luiza Trajano segue apoiando as reformas levadas a cabo desde o golpe parlamentar de 2016. A empresária já deu seu apoio à reforma administrativa, que visa sucatear os serviços públicos e impulsionar o desmonte do funcionalismo. Também manifestou apoio à reforma tributária, que pretende manter intocados os impostos regressivos e a alta carga tributária sobre a renda dos pobres e da classe média. Ademais, Luiza Trajano criou um grupo de empresários e banqueiros chamado Manifesto Convergência Brasil, que tem por objetivo articular o processo de privatização das estatais brasileiras. A bilionária tem interesse especial na aquisição dos Correios, tendo defendido abertamente a privatização da cadeia logística da estatal, vista como estratégica para controlar todas as etapas de comercialização dos produtos ofertados pela holding Magazine Luiza.

Malgrado esse vasto histórico de ações predatórias, Luiza Trajano tem conseguido mascarar os empreendimentos nocivos sob um falso verniz de progressismo. A empresa tem investido em ações de marketing mirando em nichos estratégicos do liberalismo identitário como forma de interditar críticas e angariar a simpatia do público progressista. A própria Luiza Trajano passou a se identificar como "feminista" e, ao lado de outras 40 empresárias, fundou uma ONG dedicada à promoção da igualdade de gênero e formação de lideranças corporativas femininas, além de criar cotas para mulheres nos conselhos da holding Magazine Luiza. Em 2017, "Lu", a mascote virtual da empresa, "assumiu-se" bissexual. O Magazine Luiza também publicou um vídeo com uma funcionária transexual nas vésperas das paradas do orgulho LGBT de 2018 - financiadas pela empresa em troca de espaço publicitário nos eventos. E em setembro de 2020, o Magazine Luiza anunciou que o programa de trainees em 2021 seria dedicado exclusivamente a candidatos negros, com o objetivo de "consolidar a diversidade corporativa".

A estratégia foi tão bem sucedida que quando Washington Quaquá, vice-presidente do PT, teve a infeliz ideia de propor que Luiza Trajano integrasse uma chapa com Fernando Haddad para disputar a Presidência da República em 2022, muitos correligionários do partido aplaudiram com entusiasmo. Muitos petistas ingenuamente justificaram o apoio citando episódios como a suposta boa vontade da empresária em adquirir vacinas contra o covid-19 - numa ação que mais parece um ensaio para a futura privatização do Sistema Único de Saúde - ou o fato de que ela não demitiu nenhum funcionário durante a pandemia - o que seria absurdo, haja vista o aumento de 148,5% das vendas online do Magazine Luiza durante a pandemia, um salto de 70% no lucro da empresa. Poucos se recordaram da reveladora entrevista da bilionária ao Roda Viva, em que ela afirma ser contra a taxação de grandes fortunas. "Não pode só taxar pelo fato de taxar", disse Luiza, justificando em seguida seu temor de que o dinheiro "seja usado de forma indiscriminada e ineficaz pelo governo". A solução, diz a bilionária, é fortalecer a "cultura da doação" - isso é, dar incentivos fiscais para que os ricos façam caridade - quando e se quiserem.

Enquanto recebe confetes de uma esquerda desorientada no espaço e no tempo, Luiza Trajano continua a consolidar seu império com uma velocidade assustadora. Entre 2015 e 2019, as ações do Magazine Luiza subiram 18.000%. O patrimônio pessoal da empresária cresceu 181% em um intervalo de apenas dois anos. Entre 2019 e 2020, Luiza saltou 16 posições no ranking de bilionários brasileiros da Forbes. É dinheiro suficiente para que os bisnetos dos seus bisnetos nunca precisem trabalhar - o que, certamente, deve facilitar o apoio enfático que a bilionária tem dado à política de escravização moderna dos trabalhadores que compram seus produtos e ajudam a edificar sua fortuna.