Paulo (Malvadeza) Magalhães e o moralismo seletivo: deputado agressor tenta cassar Glauber Braga por agressão

Ele é sobrinho de ACM e tem como profissão ser deputado

Com mais de 40 anos ocupando cargos eletivos e uma trajetória marcada por alianças poderosas e episódios polêmicos, o deputado Paulo Magalhães (PSD-BA) tenta agora se apresentar como paladino da ética no Congresso Nacional. Membro titular do Conselho de Ética da Câmara, ele protocolou um pedido de cassação contra o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) sob a justificativa de agressão a um militante do Movimento Brasil Livre (MBL). Mas o moralismo de Magalhães revela um padrão seletivo, repleto de contradições e oportunismos.

Não é a primeira vez que o deputado baiano protagoniza um caso de violência dentro da própria Câmara. Em 2001, Magalhães partiu para cima do jornalista Maneca Muniz, agredindo-o com socos e pontapés por conta de um livro com denúncias contra seu tio, o ex-governador Antônio Carlos Magalhães. Apesar da brutalidade do ataque, Magalhães não sofreu qualquer punição. Agora, mais de duas décadas depois e exercendo sucessivos mandatos desde os anos 1970, ele usa justamente o Conselho de Ética — o mesmo que ignorou seus próprios excessos — para perseguir um deputado da oposição.

A incoerência fica ainda mais gritante quando se observa sua conduta recente. Em agosto de 2024, Magalhães foi o único parlamentar a se abster na votação que aprovou a cassação de Chiquinho Brazão, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. Enquanto todos os demais membros votaram pela cassação, Magalhães lavou as mãos.

Agora, o deputado age com pressa para tirar o mandato de Glauber Braga. O processo diz respeito a um episódio ocorrido em abril de 2024, quando Braga reagiu fisicamente à provocação de Gabriel Costenaro, militante do MBL, dentro da Câmara. Segundo o parlamentar do PSOL, o militante o vinha perseguindo e, naquele dia, ofendeu sua mãe, a ex-prefeita Saudade Braga, que estava com Alzheimer e faleceu semanas depois.

O parecer favorável à cassação foi apresentado por Magalhães sob a alegação de que Braga teria abusado das prerrogativas parlamentares e atentado contra a integridade da Casa. Mas a votação foi adiada após pedido de vista do deputado Chico Alencar (PSOL-RJ). O documento, apesar de datado de dezembro — ainda durante a gestão de Arthur Lira (PP-AL), desafeto político de Braga —, só foi tornado público agora, por ser sigiloso.

Ao se defender, Glauber não poupou críticas ao relator, acusando-o de articular o parecer com Lira e de usar o episódio como pretexto para persegui-lo politicamente. “Todos sabem que minha reação ao mini-bandido do MBL é só uma desculpa. A perseguição é por conta de Lira e das denúncias que fizemos ao orçamento secreto!”, afirmou em suas redes sociais. “Fingem que a cassação é por ‘agressão’, mas o deputado que fez o pedido já agrediu um escritor dentro da Câmara com socos e pontapés. A hipocrisia não tem limites!”

Braga reiterou que a agressão foi uma resposta emocional à ofensa contra sua mãe: “Talvez eu merecesse uma chamada de atenção se não tivesse feito a defesa da honra da minha mãe naquele momento”. O deputado também lembrou que já vinha sendo perseguido por integrantes do MBL antes do incidente em Brasília.

A reação de parlamentares de esquerda foi imediata. Chico Alencar chamou o parecer de “injustiça”, e lembrou a abstenção de Magalhães no caso Chiquinho Brazão. A líder do PSOL, Talíria Petrone (RJ), foi ainda mais dura: “É uma decisão desproporcional e chocante. O mesmo conselho que se cala diante de deputada que correu atrás de um homem negro armada ou de um parlamentar acusado de mandar matar uma vereadora, agora quer punir alguém por defender a própria mãe”.

A crise escancara o uso político do Conselho de Ética da Câmara, muitas vezes instrumentalizado para proteger aliados e perseguir adversários. No centro desse processo está Paulo Magalhães — um veterano do Congresso, sobrevivente de inúmeros escândalos, que tenta agora apagar seu passado turbulento com o verniz da moralidade seletiva.