Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles
A essa altura, apesar da forte queda de popularidade, não se pode dizer que Lula é uma página virada à espera apenas do apito final do juiz para descer aos vestiários, trocar de roupa e sair de cena.
Página virada é, sim, Bolsonaro, inelegível até 2030, e que uma vez condenado em breve pelo Supremo Tribunal Federal devido a uma série de crimes, não mais será candidato a nada.
Berre, promova o estardalhaço que quiser, só por artes do acaso ele escapará à guilhotina. Exemplos de acasos: Bolsonaro morre antes de ser condenado. Ou morre o ministro Alexandre de Moraes.
Os dois gozam de boa saúde. Faço votos para que vivam muito. Mas se Moraes ficasse inabilitado, seria substituído por outro ministro e o resultado para Bolsonaro seria o mesmo.
Bolsonaro sabe disso há muito tempo. E tanto sabe, como também sabe que não haverá anistia, que mandou às favas os conselhos dos seus advogados para moderar-se e retomou os ataques à justiça.
Ultimamente, voltou a espancar Moraes, seus pares, e as urnas eletrônicas. Foi esse o discurso que já o levou a ser condenado duas vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Ao repeti-lo, que vantagem imagina tirar? Que benefício pensa extrair? Tem algum trunfo escondido? Ou é o desespero, tão somente o desespero, que explica seu comportamento suicida?
Quando condenado e preso em 2018, Lula acreditou que acabaria libertado em pouco tempo, talvez em menos de uma ou duas semanas. Depois acreditou que seria solto antes da eleição.
Ficou 580 dias preso. E só saiu porque o Supremo anulou sua pena, alegando erros no ato processual. Deveria ter sido julgado em São Paulo, e não em Curitiba. Sérgio Moro foi um juiz parcial.
O Supremo é imune a erros? Não. Mas como última instância da justiça, cabe a ele acertar ou errar por último. Bolsonaro confrontou-o por quatro anos. Agora será por ele confrontado.
Não é uma questão de vingança. O Supremo só age se provocado. Foi provocado a agir. A Polícia Federal indiciou Bolsonaro e a Procuradoria-Geral da República o denunciará.
Para Lula, outra vez salvo o acaso, a página só será virada se ele não se reeleger em 2026. Até lá seguirá jogando e é muito cedo para se concluir que sua derrota é quase certa.