Para Bolsonaro de 2018, culpa do diesel caro era do presidente da República

Mas o Jair de hoje terceiriza a responsabilidade para a Petrobras, como se ele não fosse presidente, mas candidato à Presidência

Foto: Divulgação
Bolsonaro


Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook 

O Bolsonaro de quatro anos atrás apoiaria protestos contra o Bolsonaro de 2022 por conta do aumento no preço do diesel. Mas o Jair de hoje terceiriza a responsabilidade para a Petrobras, como se ele não fosse presidente, mas candidato à Presidência.

"Os caminhoneiros buscam soluções para esses problemas, que interessam aos 200 milhões de brasileiros. Não têm encontrado eco no Legislativo. Sobrou-lhes o Executivo, que teima a se omitir. Assim sendo, apenas a paralisação prevista poderá forçar o presidente da República a dar uma solução para o caso."

Quem disse a frase acima, diante de mais um aumento no preço do diesel e convocando os caminhoneiros a se levantarem contra o governo, foi Jair Bolsonaro em maio. De 2018.

Em 21 de maio daquele ano, a Petrobras avisou que o preço médio do litro do diesel nas refinarias iria de R$ 2,3488 para R$ 2,3716, uma alta de 0,97%. Jair postou o vídeo com a declaração acima em suas redes na época desse anúncio.

Nesta segunda (9), a Petrobras informou que, a partir de amanhã, o litro do diesel passará de R$ 4,51 para R$ 4,91 nas refinarias, um reajuste de 8,87%.

Aumentos nos combustíveis preocupam Jair, não apenas pelo impacto inflacionário da alta no transporte de carga nos alimentos, mas porque isso atinge seu eleitorado.

Muitos caminhoneiros apoiaram Jair Bolsonaro em 2018 pelo comportamento do presidente diante da greve, há quatro anos, que parou o país. Ao mesmo tempo, o presidente vê motoristas de aplicativos e entregadores em motocicletas como eleitores em potencial.

Com isso, Bolsonaro vem lidando com as críticas pelos aumentos da mesma forma que lida com a maior parte das críticas a seu governo: terceirizando. Campeão olímpico na modalidade de Arremesso de Culpa à Distância, foge da responsabilidade como o diabo foge da cruz.

O presidente tem tanta inveja do Bolsonaro de 2018 que continua agindo como tal, como se presidente não fosse, apenas candidato. Tem o apoio do bolsonarismo-raiz, que defende que nunca deixaram Jair governar de fato. Agora, resta saber ser os caminhoneiros e entregadores, que levam o Brasil nas costas, vão cair nessa cascata.