Maluco Beleza, Metamorfose Ambulante. É impossível resumir Raul Seixas a uma única definição. Independentemente das classificações musicais e biográficas, seu legado continua relevante nos dias atuais, mesmo com a breve carreira de apenas 26 anos. Se estivesse vivo, o artista completaria 80 anos neste sábado (28). Autor de 17 álbuns, Raul Seixas é considerado pai do rock brasileiro, cultuado por sucessivas gerações.
Em depoimento exibido no documentário Raul: O início, o fim e o meio, do diretor Walter Carvalho, o artista definiu assim sua música:
"Minha música inclusive não vem propor nenhuma verdade absoluta, porque verdade absoluta não existe. E eu venho, assim, com a música, apenas, abrir as portas para que as verdades individuais possam surgir livremente".
Nascido em Salvador, em 1945, Raul Seixas era um adolescente quando o rock surgiu no cenário musical, nos anos 50, e chegou ao Brasil. Influenciado e fascinado por toda a efervescência cultural da época, o artista criou um estilo próprio, que combinou rock e baião, além das referências a Elvis Presley. A pesquisadora musical Cris Fuscaldo explica essa mistura:
"Raul Seixas combinou rock com baião. Era um grande fã de Elvis Presley, mas também de Luiz Gonzaga — baiano, né, então, não tinha como ser diferente. Absorvia música do Nordeste e também, claro, a que vinha do exterior. Essa mistura que ele traz para a música é inovadora, é diferente".
Frequentemente lembrado por suas músicas questionadoras e contestadoras, que valorizavam a liberdade individual e a crítica social, Raul emplacou sucessos como Ouro de Tolo, Eu nasci há 10 mil anos atrás e Sociedade Alternativa.
Músicas que foram eternizadas na voz do artista embalaram legiões de fãs. Para Cris Fuscaldo, seu legado é inestimável:
"Raul Seixas deixou um legado muito grande porque ele não foi só um músico. Não foi só um cantor, compositor, guitarrista. Ele foi um artista provocador. Ele provocou muito, questionou muito".
A escritora Heloisa Seixas, prima de Raul, destaca algumas lembranças dele quando criança. Para ela, o primo já era provocador desde pequeno:
"O Raul já era Raul Seixas, por incrível que pareça, quando era criança, porque era o menino mais levado que eu já vi na vida. Fazia as maiores loucuras e arrastava o irmão dele para essas loucuras. Muito levado e muito inteligente também — e já louco por rock".
Raul Seixas enfrentou o alcoolismo e teve vários problemas de saúde provocados pela doença. Morreu em 1989, aos 44 anos, vítima de uma parada cardíaca por pancreatite. Suas composições, além de reconhecidas pela qualidade e originalidade, guardam as marcas de um poeta voraz, um eterno inconformado.