Os dilemas à esquerda do PT

Como apoiar o governo e defender suas bandeiras

Foto: Divulgação
Boulos

Por Ricardo Noblat, jornalista, no Metrópoles  

Após ameaças de racha, o PSOL decidiu no último sábado que integrará a base do governo Lula na Câmara e autorizou seus filiados a ocuparem cargos do primeiro e segundo escalão, desde que se licenciem de suas posições em diretórios do partido. A medida permite que Sônia Guajajara aceite o possível convite para o Ministério dos Povos Originários.

O partido quer manter sua independência e fazer crer que, caso algum militante aceite trabalhar para o governo federal, tratou-se de uma decisão individual. Na prática, o partido evitou uma debandada dos descontentes com o futuro governo Lula. E permitiu que Boulos e o presidente Juliano Medeiros fiquem mais próximos do ex-metalúrgico.

Tendências lideradas por Luciana Genro, Sâmia Bomfim e Mônica Seixas já perceberam que Lula 3 vai ser ainda mais de centro, para não dizer de centro-direita nos costumes, na economia, na relação com o Congresso. Talvez o petismo não cometa os mesmos erros na pauta ambiental, já que a propaganda positiva fortaleceria sua imagem internacional.

Mas pautas importantes para movimentos sociais serão engavetadas. Equidade de gênero nos principais cargos do primeiro escalão, esqueça-se. Liberdade de escolha para o aborto, nem pensar. Enfim, pautas de Direitos Humanos não serão prioridade.

A primeira amostra da independência do partido foi a votação que mudou as regras do orçamento secreto para tentar atender às exigências do STF. PT e PL a favor, PSOL e Rede contra. Pode ser jogo de cena do petismo para agradar Lira, mas como um partido de esquerda aceitaria o orçamento secreto?

Nos próximos quatro anos irão se repetir os dilemas e os conflitos dos partidos à esquerda em governos do PT. Apoiar quando necessário, criticar sempre que possível e atacar quando acordos com a direita ameaçarem suas bandeiras. Ainda que esses ataques sirvam de combustível para a direita incendiar o governo. Essas vozes dissidentes da esquerda são apenas o que o PT já foi um dia.