O brasileiro não é omisso, ele protesta; para saber, basta não ficar ligado na grande mídia

Motoristas de aplicativos e trabalhadores da Petrobrás são categorias que protestam por dias melhores

Recentemente o Chile tem se tornado exemplo de manifestações, de protestos contra governos. Os chilenos têm ido às ruas aos milhares e, isto, provoca reflexões em certos setores do pensamento brasileiro. Comparando os dois povos caracterizam os nascidos aqui como omissos, sem disposição para o combate.

Mas basta se desligar dos veículos de mídia tradicionais (veículos comerciais) e se verá que há movimentos de insatisfação espalhados pelo Brasil

Com o auxílio dos sites Brasil 247 e Brasil de Fato, o pensarpaiuí destaca movimentos de ontem e de hoje para mostrar, que se não está unido numa praça/avenida, num protesto de milhões, parado o brasileiro não está.

Foto: Brasil247
Protesto de motoristas de aplicativos

    Entregadores de aplicativo fecham avenida em Londrina por melhores condições de trabalho

Dezenas de entregadores de aplicativos como Uber, iFood e Rappi fecharam a avenida Higienópolis, em Londrina (PR), na tarde desta terça-feira (4), em protesto por melhores condições de trabalho e de remuneração. Uma das principais queixas do entregadores é com relação a baixa taxa por quilometragem em Londrina.

Atualmente, o valor por quilômetro na cidade está em torno de R$ 0,80, mas o ideal seria R$ 1,50/km, de acordo com os trabalhadores. Segundo Fabiano Goulart, um dos entregadores presentes no protesto, o rendimento semanal com as entregas diminuiu muito ao longo do tempo. Até o ano passado, costumava ser de até R$ 1.300 por semana. Contudo, agora não está conseguindo nem R$ 50 por dia.

“Como aumentou o número de pessoas trabalhando com os aplicativos acabou dificultando muito o nosso trabalho. Nós queremos discutir essas taxas com os aplicativos. Ao longo do tempo foi variando o valor”, afirmou, em entrevista ao jornal Folha de Londrina.

Além da discussão da taxa cobrada por quilometragem, trabalhadores também protestam por melhores condições de trabalho. Eles afirmam que os prazos de entrega são curtos, o que faz com que os profissionais tenham que trafegar em alta velocidade, se expondo ainda mais aos riscos do trânsito das grandes cidades.

“Eles fizeram promessas para muitos pais de família que o negócio ia ser bom. E agora está todo mundo na mão deles”, afirmou um dos manifestantes ao Esquerda Diário.

Em resposta, o iFood disse em nota que “tomou conhecimento da movimentação dos parceiros de entrega em Londrina e reforça que entende a importância de manifestações e da liberdade de expressão”.

No entanto, a empresa destacou que é importante esclarecer que “neste modelo de atuação os entregadores são parceiros independentes, que atuam de acordo com a sua conveniência, gerenciam seu próprio tempo, podendo, inclusive, atuar por outras plataformas. A empresa reitera que mantém canais oficiais para quaisquer esclarecimentos, dúvidas e orientações”.

Foto: Brasil de Fato
Trabalhadores da Petrobras

Em greve, petroleiros subsidiam venda de gasolina e gás de cozinha à população

A paralisação nacional dos petroleiros chega ao seu quinto dia com a adesão de cerca de 18 mil trabalhadores, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP).  Na manhã desta quarta-feira (5), com o objetivo de ampliar o diálogo com a população e alertar sobre os prejuízos causados pela política de privatização e desmonte da Petrobras, sindicatos da categoria subsidiaram a compra de gasolina e gás de cozinha em diferentes estados do país. 

No Espírito Santo, por exemplo, o litro do combustível foi vendido a R$2. Já em Alagoinhas, na Bahia, um botijão de gás de gás estava à venda por R$50. Em Canoas, no Rio Grande do Sul, a R$40. O mesmo subsídio também foi oferecido aos moradores de Araucária, no Paraná. 

Segundo a FUP, a ação mostra como os brasileiros são punidos pela atual política de reajuste de preços de derivados do petróleo adotada pela estatal, que acompanha o preço internacional do barril do petróleo, sujeito à variação do dólar, desencadeando aumentos sucessivos. 

A partir da ação de subsídio, os sindicatos também argumentam que é possível vender o gás de cozinha a custo de produção nacional, mantendo o lucro das distribuidoras, revendedoras e da própria Petrobras. 

Por tempo indeterminado

Em greve desde o dia 1º de fevereiro, os petroleiros protestam contra a demissão de mais de mil trabalhadores com o fechamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná (Fafen-PR), subsidiária da Petrobras, e o descumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT).

Localizada em Araucária, a Fafen é uma das mais importantes unidades de fertilizantes nitrogenados do país. Criada em 1982, foi privatizada pelo governo Itamar Franco na década de 1990 e estatizada novamente por Dilma Rousseff, em 2013.

A FUP denuncia que demissões em massa ocorreram sem nenhuma comunicação prévia ao sindicato ou à própria Federação. Ainda de acordo com a entidade, a paralisação segue por tempo indeterminado e já alcançou 30 unidades do chamado Sistema Petrobras em 12 estados brasileiros. 

No dia anterior ao início da greve, um grupo de cinco dirigentes da FUP, que é considerada a maior entidade representativa dos petroleiros, ocuparam uma sala no quarto andar do prédio da estatal, localizado no Rio de Janeiro.

Tadeu Porto, um dos sindicalistas que participa da ocupação, afirma que a água e energia foram cortadas e só foram estabilizadas novamente após pressão de uma vigília formada por diversos movimentos sociais, sindicais e parlamentares do lado de fora do prédio. 

“Nós só vamos sair depois que o pleito da categoria petroleira for atendido. Queremos dar uma saída digna para esses companheiros e companheiras. Nossa ideia principal é manter a fábrica [Fafen] produzindo. Com os empregos lá dentro, com fertilizante dentro do Brasil, com a tecnologia e com a indústria brasileira”, defende Porto.

O dirigente da FUP critica a política da Petrobras, alinhada ao capital estrangeiro em detrimento dos trabalhadores e da economia nacional, assim como a falta de diálogo com as entidades representativas do setor.

“Sabemos que não é desejo da empresa negociar. Ela não quer que resistamos a esse desmonte. Sabemos que o plano de privatização da Petrobras é um dos maiores desse governo e não só dele, mas da agenda neoliberal do Brasil que deu um golpe de Estado muito provavelmente para tomar conta desse petróleo”, denuncia. 

Solidariedade 

O acampamento formado do lado de fora da sede da petrolífera, no Rio de Janeiro, conta com apoio de dezenas de sindicatos da categoria, assim como partidos e organizações como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),  Levante Popular da Juventude, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). 

Nesta quarta-feira (5) acontece uma série de atividades no local, como oficina de batucada, panfletagem e duas aulas públicas com Dorival Gonçalves Júnior, professor da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). 

Tadeu Porto acredita que, em meio a tantos retrocessos, o movimento de greve pode inspirar trabalhadores de todas as categorias. 

“Nosso objetivo é que essa mobilização consiga salvar empregos no Brasil, que consiga reverter o quadro de desindustrialização e desemprego, e mostre para as outras categorias que quem tem a força efetivamente é a classe trabalhadora. O que está faltando pra gente é nos organizarmos um pouco melhor”, completa o dirigente da FUP.