No Globo, Wellington Dias, diz que PT tem que procurar o centro

Wellington Dias defende que a legenda defina até abril do ano que vem o nome do candidato à Presidência em 2022

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Entrevista ao Globo

Por Sérgio Roxo, no O Globo 

Governador do Piauí no quarto mandato, Wellington Dias defende que o PT defina até abril do ano que vem o nome do candidato à Presidência em 2022. Petista diz que resultado da eleição municipal acendeu uma luz amarela para o partido, que precisará aprender com a ‘avaliação do povo’.

Qual a avaliação do resultado da eleição para o PT?

Em número de votos, tivemos uma estabilização, embora eu avalie que vamos ter que colocar um cuidado muito especial na estratégia para 2022. A eleição municipal é um alicerce, mas as eleições estaduais e a nacional são diferentes. A luz amarela acendeu. Precisamos aprender com o que temos de avaliação do povo.

O senhor acha que deveria trocar a direção do partido diante do resultado?

Não. Eu entendo que a gente tem que pensar para frente.

Como deve ser a escolha do candidato em 2022?

Eu defendo que até o início de 2021, até por volta de abril, temos que ter a definição de um nome para apresentar à sociedade, para viajar pelo Brasil. Hoje há claramente um lado que é representado pelo presidente Bolsonaro. O governador (João) Doria representa um outro campo político. Precisa de uma definição do nosso lado. Essa é a parte urgente.

Até abril, pode ser que o STF não tenha julgado o habeas corpus do ex-presidente Lula que pode liberá-lo para disputar a eleição. Como fica?

Nós já passamos por isso. Em 2018, sabendo que teria toda uma conjuntura que poderia impedir a candidatura do Lula, nós sustentamos o nome dele. Vai ser o Lula? É o Lula. Não é fácil achar o substituto dele, mas já tem um substituto, eu diria, quase natural projetado, que é o (Fernando) Haddad, se ele quiser.

O ex-governador Jaques Wagner falou que o PT não pode ficar refém do Lula. O que o senhor acha?

O Lula, com tudo que aconteceu, com todas as injustiças, ainda é o maior líder popular do Brasil. Só discordo do Wagner nisso: não me sinto refém do Lula. Temos que ter o respeito de aguardar a decisão dele.

O senhor vê possibilidade de composição com quem?

Eu defendo uma construção de centro-esquerda. Tudo que pudermos fazer por isso é importante. Meu parâmetro é o que ocorreu em 2002 (com o empresário José Alencar de vice de Lula). Acho que nessas eleições (de 2020), o povo disse que quer algo mais sereno, mais ao centro, centro-esquerda. O próprio (Guilherme) Boulos compreendeu isso. Tinha a firmeza de um líder de esquerda, mas compreendeu que não dava para ser extremo. Precisava ter bastante equilíbrio. Eu creio que equilíbrio e serenidade é o que povo quer.

Há como atrair um partido mais ao centro para 2022?

Se a gente tiver um líder, uma pessoa do centro, que possa se combinar com o nosso campo, eu acho que haverá uma boa aceitação.

O governador Rui Costa chegou a falar em um projeto conjunto que envolva PSDB e o DEM. O senhor concorda?

A gente vai ter que dialogar com o que se chama centro no Brasil. Eu vejo como natural, em um primeiro turno, que o Partido dos Trabalhadores tenha candidato a presidente. E defendo que a gente busque um nome mais ao centro para composição. E com vistas ao segundo turno, vamos ter que ter um diálogo, sim, com essa parte do centro. Tem aí uma pauta comum: compromisso com a democracia, com o meio ambiente, com princípios universais de defesa dos direitos humanos, algum compromisso com o social. Nós, do outro lado, vamos ter que ter compromisso com capital produtivo, com investimento para crescimento.

Muita gente acha que a recuperação do PT teria que incluir uma autocrítica. O senhor concorda?

Sob qualquer aspecto, (o governo do PT) foi o melhor período do Brasil. Então, o partido acertou muito mais do que errou. Por que vou ficar preso àqueles pontos contra esse ou aquele? As pessoas também erram e acertam. E quem não ousa arriscar não avança. O partido, em um dado momento, ousou arriscar. Fez as alianças que fez, e isso teve consequência. Mas isso o povo já sabe. O povo quer saber como vai ser para frente. Temos 1,6 milhão de filiados, cerca de 1,55 milhão desses têm em comum a defesa do combate à corrupção. A gente precisa dar um sinal claro de que o país mudou. E a gente agora tem compromisso com essa nova pauta.

O que o PT precisaria fazer de prático?

Vamos ter que ter uma atualização da pauta. O Brasil mudou. Já não é mais aquele país da fome. Ainda tem pobres e miseráveis, mas tem uma nova classe média. Precisa de uma reformulação e, ao mesmo tempo, a gente precisa definir o que o partido quer representar. Eu defendo que a gente tem que defender o setor produtivo. A própria política de segurança é um problema grave no Brasil, e a gente tem que ter uma alternativa real. O partido tem um legado muito bom, tem nomes projetados. Qual o maior líder dos mais pobres hoje no Brasil? É o Lula. Quem é o líder que consegue falar com a classe média? O Haddad. Tem líderes muito destacados: o Rui Costa (governador da Bahia), o Camilo (Santana, governador do Ceará), a Fátima (Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte).

O candidato do PT em Teresina, Fábio Novo, não usava as cores do partido na campanha. Como está a imagem do partido?

Quando se pergunta ao eleitor qual o partido mais aprovado, o PT ainda está em primeiro lugar. O problema é que realmente, com tudo que aconteceu nos últimos anos, teve o desgaste, ninguém pode desconhecer isso em relação ao Partido dos Trabalhadores. O lado bom é que isso vai passando. O Brasil tem uma crise com todos os partidos. A gente olha o PT porque era o partido do governo. Há um sentimento antipolítica, antipartido.

O senhor acha que as dificuldades na eleição são reflexo das denúncias de corrupção?

O uso de instituições, juízes, promotores, mais meios de comunicação, fez com que o PT pagasse um preço acima daquilo que realmente foi. E aí há uma mistura de fatos reais com fake. Isso realmente causou prejuízo.

Em julho, ocorreu uma operação no Piauí contra desvios em contratos de transporte escolar e houve buscas na casa do senhor e no gabinete da sua mulher, que é deputada federal e foi secretária da Educação. O que senhor tem a dizer sobre essa operação?

Estamos abrindo um processo por abuso de autoridade contra a delegada que fez a operação. Nem eu nem ela somos investigados. A investigação é sobre um grupo que estaria criando empresas para poder participar de licitações. Teria um superfaturamento de R$ 52 milhões num pagamento total de despesa de transporte escolar de R$ 110 milhões. Ou seja, o superfaturamento é a metade. Quando se vai olhar os dados do Ministério da Educação, o Piauí é o segundo custo mais baixo de transporte escolar do Nordeste e o nono do Brasil. Então, não bate. Isso foi feito às vésperas das convenções (partidárias) com um intuito fortemente eleitoral. Pelas perícias,  demonstramos que nada disso é verdadeiro.