"Não sei se o caso Marielle será solucionado", diz governador do RJ

Cláudio Castro afirma que não tem acesso ao processo e, por isso, não tem como afirmar nada sobre o caso

Foto: Reprodução/TV Globo
Governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, durante coletiva de imprensa

Questionado sobre o caso Marielle nesta terça-feira (13), o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), afirmou que cobra uma solução do caso, mas que não pode garantir um desfecho da investigação.

"Cobro que tenha solução, como cobro de qualquer outra. Por óbvio, é um caso sensível, a gente entende. Mas não tem como dizer se vai ser ou não vai ser (solucionado) por respeito ao certo. E o certo é que nem o governador, nem você saiba como está o processo. Não tenho como fazer essa afirmativa", disse ele.

Castro disse que qualquer pessoa que garanta que vai haver um desfecho não sabe o que está falando ou teve acesso ao processo.

"Eu não tive acesso a processo nenhum. Eu não tenho, como qualquer outro cidadão, não tenho como dizer se a resposta vai ser respondida. Se vai ser respondida como a família quer, como a imprensa quer, como o partido quer. Eu não tenho como responder isso pelo simples fato de que não faço parte do processo, eu não sou pólo. Esse processo é em segredo de justiça. Seria um crime se eu fizesse isso ou estaria enganando, fazendo bravata, o que não é do meu perfil".

A afirmação foi dada durante entrevista coletiva sobre a autorização para antecipar a aplicação da segunda dose da AstraZeneca de 12 semanas para oito. Cada município vai decidir se acata a recomendação ou não.

Vazamento de informações

Na segunda-feira, o RJ2 mostrou que o vazamento de informações sigilosas coloca em risco a segurança das investigações, de acordo com o Ministério Público.

Na última semana, a investigação perdeu três peças importantes: o responsável pela Delegacia de Homicídios, delegado Moysés Santana, e as promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile, que integravam a força-tarefa do MPRJ.

As duas reclamaram de interferências externas no caso e pediram exoneração.

O último ato delas foi a denúncia contra o delegado da Polícia Civil Maurício Demétrio. Ele foi preso no fim do mês passado, suspeito de comandar um esquema que exigia propina de lojistas, que vendiam roupas falsificadas.

As promotoras descobriram algo mais contra o delegado, segundo fontes ouvidas pela TV Globo. De acordo com a denúncia, Demétrio recebeu – de uma pessoa ainda não identificada – informações sigilosas do caso Marielle e Anderson.

Os dados, que fazem parte do processo, estavam no e-mail de um ex-policial civil que teve o sigilo telemático quebrado durante as investigações. O ex-policial seria ligado à contravenção e também investigado pelas mortes da vereadora e do motorista.

Demétrio dizia que esse ex-policial civil era um desafeto dele, que o estaria monitorando, colocando sua vida em risco. Narrou fatos que, em tese, o colocariam na condição de vítima de uma suposta organização criminosa. Mas, segundo as promotoras, foi uma demonstração de força e poder contra antigos adversários.

De posse dessas informações, Demétrio protocolou petições no Ministério Público Eleitoral e também no Ministério Público Federal. Informações secretas do caso Marielle e Anderson acabaram expostas, sem autorização judicial.

Por conta disso, Demétrio foi denunciado por crime de violação de sigilo.

O delegado procurou a Delegacia de Homicídios da Capital, onde o caso Marielle é investigado. Queria formalizar o acesso aos dados sigilosos.

De acordo com a denúncia, o então responsável pela Delegacia de Homicídios da Capital, delegado Moysés Santana, disse em depoimento ter recebido Demétrio a pedido do secretário de Polícia Civil, Alan Turnowsky, para que o ajudasse no que fosse possível. Mas que, em nenhum momento, forneceu qualquer documento de conteúdo sigiloso.

Santana entregou a Demétrio um documento confidencial com informações que dão conta de que Demétrio estaria sendo monitorado pelo titular das contas de telemática identificadas.

Moysés Santana foi exonerado da Delegacia de Homicídios por Turnowsky. Em pouco mais de três anos, foi a quarta troca no comando na delegacia que apura a execução de Marielle e Anderson.

As promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile estavam no caso Marielle praticamente desde o início.

Delação de viúva do Capitão Adriano

O RJ2 apurou que a insatisfação delas é antiga. Elas decidiram abandonar o caso por que discordaram da forma como estavam sendo conduzidas as negociações para a delação da viúva do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega.

Julia Lotufo revelaria informações sobre homicídios, contravenção e também sobre o caso Marielle e Anderson.

Adriano da Nóbrega foi morto em fevereiro do ano passado, num suposto confronto com a polícia da Bahia. Ele estava foragido, acusado de chefiar um grupo de matadores de aluguel e também uma milícia.

Simone Sibílio e Leticia Emile também comandaram a investigação que levou a prisão de vários integrantes da quadrilha de Adriano.

A viúva de Adriano, Júlia Lotufo, cumpre prisão domiciliar. Ela já havia conversado com três delegados da Polícia Civil que integram a Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foro (Ciaf), do MP.

Fontes ouvidas pela TV Globo contam que as duas promotoras não participaram, pelo menos, dos dois primeiros encontros, apesar de estarem designadas para o caso Marielle. Finalmente, ao ouvir o relato de Júlia, as promotoras consideraram as informações sobre Marielle superficiais e sem provas.

Como não havia fatos relevantes, elas decidiram não aceitar a delação premiada.

Mesmo assim, a proposta de delação continua sendo analisada por promotores de outra área do MP – o que teria causado desconforto.

Mais de três anos após o crime, só duas pessoas foram presas: o policial militar reformado Ronnie Lessa e ex-policial militar Élcio Queiroz – que vão a juri popular. Nem a arma do crime, nem o carro utilizado pelos assassinos foram encontrados, assim como não se sabe quem é o mandante.

O que dizem os citados

Quando questionado sobre a saída das promotoras do caso Marielle, o MP informa que cabe às duas esclarecer os motivos que as levaram ao pedido de exoneração.

Mas nem Simone Sibilio e nem Letícia Emile responderam às demandas do RJ2.

A Secretaria de Estado de Polícia Civil diz que "não há interferência externa na investigação". "O encaminhamento de um delegado que afirma estar sendo ameaçado de morte, para ser ouvido pelo delegado de Homicídios é natural e não configura qualquer tipo de interferência", diz a nota.

Com informações do G1