Não é só na Saúde, na Economia o entra e sai é grande, 12 já se foram

Vem acontecendo uma debandada na cúpula econômica do governo

 

Foto: Diário do Nordeste
Paulo Guedes

 

METRÓPOLES - Na última quinta-feira (18/3), o presidente do Banco do Brasil, André Brandão, entregou o seu cargo ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Com essa baixa, já são 12 os integrantes da área econômica que batem em retirada desde o início do governo. Em comum, alegam descontentamento com os atrasos nas reformas administrativa e tributária e desconfiança de que as agendas de privatizações e a pauta liberal mais ampla serão mesmo tocadas.

O próprio ministro já reconheceu os desfalques constantes no seu time ao comentar no fim do ano passado a saída de dois secretários. “Houve uma debandada. Salim (Mattar) falou: ‘A privatização não está andando, prefiro sair’. Uebel disse: ‘A reforma administrativa não está sendo enviada, prefiro sair’. Esse é o fato, essa é a verdade”, lamentou em entrevista coletiva na época.

Mattar e Uebel eram responsáveis pelas áreas de privatização e desburocratização, respectivamente.

Pelo Twitter, onde tem 15,6 mil seguidores, o ex-secretário segue demonstrando sua insatisfação. Recentemente, um dos seus posts, que questionava justamente a interferência do governo em empresa pública, foi rebatido pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente.

“Dia muito triste para o Brasil. Roberto Castello Branco, presidente da Petrobras, será substituído por estar fazendo o trabalho certo: blindar uma empresa estatal contra o uso político, contra o populismo”, escreveu.

“Todo respeito, Uebel, mas não há interferência para ganhar votos. Não pode a todo momento um governo ser acusado disso quando troca pessoas em uma empresa”, rebateu o filho “03” de Bolsonaro.

Assim como Uebel, Rubem Novaes deixou a presidência do Banco do Brasil incomodado por ver a agenda liberal naufragando. “Há toda uma cultura política em Brasília que me desagrada, assim como me desagradou perceber que a privatização, que tanto poderia beneficiar o banco, não estava nas cogitações do governo”, contou ao Metrópoles.

Para cumprir a promessa eleitoral de reduzir o número de ministérios, Bolsonaro fundiu as pastas da Economia, do Planejamento, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços e também parte do Ministério do Trabalho. O que antes era comandado por quatro ministros passou para o controle de Paulo Guedes, razão pela qual ganhou o economista apelido de “superministro”.

Até agora, já deixaram suas cadeiras Joaquim Levy (presidente do BNDES), Marcos Cintra (secretário da Receita Federal), Marcos Troyjo (secretário de Comércio Exterior), Rubem Novaes (presidente do Banco do Brasil), Caio Megale (secretário da Fazenda), Mansueto Almeida (secretário do Tesouro Nacional), Salim Mattar (secretário de Desestatização), Paulo Uebel (secretário de Desburocratização), Wagner Lenhart (Gestão e Desempenho de Pessoal), Fernando de Holanda Barbosa Filho (Políticas Públicas para o Emprego), José Ziebarth (Programa de Desburocratização) e André Brandão (Banco do Brasil).

Lentidão do Estado

Uma das saídas mais sentidas na economia foi a do empresário Salim Mattar, apoiador de Bolsonaro desde a campanha. Em entrevista ao G1, o ex-secretário de Desestatização disse que decidiu deixar o cargo “porque é um animal do setor privado que não se adaptou à lentidão do Estado”.

Para o ex-secretário de Assuntos Econômicos do Ministério de Planejamento do governo de José Sarney, o economista Raul Velloso, a expressiva presença de militares indicados por Bolsonaro para o comando de estatais representa a real preferência do presidente.

“Essa ideologia pró-privatização acredito que seja uma convicção do ministro da Economia (Paulo Guedes), não do presidente. Nunca ouvi Bolsonaro falar de privatização e das vantagens disso, em comparação com as empresas públicas. Na prática, na hora em que Bolsonaro enche estatais de militares, ele não está querendo preparar uma empresa para a privatização”, disse Velloso ao Metrópoles.

Procurado, o Ministério da Economia não se manifestou e orientou o Metrópoles a buscar no Diário Oficial da União os nomes de todos os exonerados até agora.