Na primeira semana da CPI da Covid, Ciro Nogueira se destaca (negativamente)

A atuação do senador Ciro Nogueira na CPI foi questionada pelos dois lados: governistas e oposicionistas

Foto: twitter

A atuação do senador piauiense Ciro Nogueira na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia no Senado foi amplamente questionada nesta primeira semana do evento. E questionada pelos dois lados: governistas e oposicionistas. 

Integrante da “tropa de choque do governo”, o parlamentar foi surpreendido com vídeo resgatado, nas próprias redes bolsonaristas, da sua campanha em 2018, quando concorreu e foi eleito para o Senado com o apoio do governador petista do Piauí Wellington Dias e afirmava veementemente que era Lula.

No vídeo, Ciro Nogueira repete por várias vezes a expressão "sou Lula", que é o mote da peça publicitária. "Sou um dos milhões de brasileiros que são Lula. Sou Lula por reconhecimento e gratidão por tudo que ele fez pelo Nordeste e pelo Piauí em especial", diz o senador. "E para mim o Piauí está acima de tudo, meu amor por minha terra é maior que qualquer questão", completa. 

Ciro x Randolfe

A abertura da CPI, no último dia 04, começou com bate-boca entre os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Tudo por conta do plano de trabalho apresentado pelo relator Renan Calheiros (MDB-AL), que para os senadores da base governista foca apenas no Governo Federal, embora no texto lido conste “ações e omissões do Governo Federal bem como as cometidas por administradores públicos federais, estaduais e municipais no trato com a coisa pública”.

Ciro Nogueira foi o primeiro a se manifestar pedindo que não fossem apresentados requerimentos com menos de 48 horas, uma vez que ferem o regimento, e pediu esclarecimento sobre requerimento que solicitava ao Tribunal de Contas da União (TCU) a cessão de duas servidoras para auxiliar os trabalhos da CPI. “Não sei quem são as servidoras e necessariamente eu posso pedir qualquer pessoa para me auxiliar aqui, assim como os senhores também podem”, respondeu senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI.

Randolfe pediu questão de ordem para que os trabalhos da CPI fossem iniciados e alegou que senadores atrasavam a sessão propositalmente (“embromando, empurrando com a barriga”). O depoente – ex-ministro Luiz Henrique Mandetta - já estava inclusive aguardando. O senador Ciro interferiu pedindo que ele citasse uma CPI que não tinha tido o plano de trabalho aprovado. A ponto que foi respondido: “Ciro, calma! O Palácio do Planalto está tranquilo. Não precisa o senhor ficar desesperado em nome deles não”. Ciro disse que não estava desesperado e Randolfe queria encobrir os desvios dos governadores.

Randolfe observou que sabia que o senador Ciro estava tendo assessoria direta da “doutora Taís, do Palácio de Planalto”. “Eu sei que a doutora Taís está lhe assessorando diretamente, está fazendo seus requerimentos, suas orientações estão vindo direto de lá. Mantenha calma, por que essa CPI vai investigar”, retrucou ele que é vice-presidente da CPI e mais a frente: “Teve aqui um exercício de maioria. Sei que vocês não estão acostumados. Democracia se faz com respeito a minoria, mas sobretudo respeitando a vontade da maioria. Oito senadores votaram no presidente Omar e na gente pra ser vice. Senador Omar designou o relator. Homem bora trabalhar, homem”, completou senador Randolfe.

Ciro x Mandetta

Ex-ministro da Saúde do governo Jair Bolsonaro, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), virou alvo de senadores governistas na CPI da Pandemia e revelou mais uma gafe do governo após o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), ler uma pergunta que, claramente, foi produzida pelo Palácio do Planalto.

“Meu caro senador Ciro Nogueira, ontem eu recebi essa pergunta, exatamente nessa íntegra, do ministro Fábio Faria (Comunicações). Acho que ele inadvertidamente mandou pra mim a pergunta, quando eu ia responder ele apagou a mensagem. Então eu vou responder para o senhor, mas também para o meu amigo, que foi parlamentar comigo, ministro Fábio Faria”, disse Mandetta.

Antes, porém, Mandetta havia iniciado sua fala na CPI com a seguinte declaração direcionada ao senador Ciro Nogueira: "Este episódio – coronavírus - é um episódio “full-grown”, senador Ciro. Se o Eric Hobsbawm for escrever O breve século XXI ele vai começar pela grande pandemia. O vírus se tornou num ataque global, mundial e não há nenhum raciocínio individual que prevaleça sobre o raciocínio coletivo", afirmou.

Ciro x bancada feminina

Na quarta-feira, 05, o senador Ciro Nogueira foi um dos envolvidos em um bate-boca com a bancada feminina que tem marcado presença na CPI, mesmo não havendo mulheres entre os membros da Comissão. A discussão provocou a suspensão da sessão enquanto a CPI ouvia o depoimento do ex-ministro da Saúde Nelson Teich. Após a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA) usar a palavra durante a sessão, Ciro demonstrou insatisfação com a participação, mesmo afirmando que o PP respeita as mulheres.

Na sequência, a palavra foi devolvida à senadora Eliziane Gama, que criticou Ciro Nogueira. A parlamentar chamou Ciro Nogueira de descontrolado após ouvir algo do piauiense fora do microfone. “É você, senador Ciro. Vossa excelência começou a ficar descontrolado desde ontem. Vossa excelência está assim desde o início desta CPI. O que é isso? Não... e nem eu aguentando grito de homem”, disparou.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), presidente da bancada feminina, reforçou as palavras de Eliziane Gama. “Há uma grande diferença de privilégio e prerrogativa. Privilégio é inadmissível em um Estado de direito, e as mulheres desta casa nunca vão pleitear. Prerrogativa é diferente. Nós pedimos ao plenário desta comissão, na data de ontem, que pudéssemos ter direito a uma fala na lista dos titulares e suplentes”, afirmou.

Governistas desaprovam Ciro

Segundo apurou a CBN, Bolsonaro desaprovou os trabalhos dos senadores durante o depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Em busca de mudanças, Fernando Bezerra (MDB), líder do governo no Senado, vai assumir um cargo na suplência da CPI para comandar a atuação dos governistas, no lugar de Ciro Nogueira (PP).