Responsável por arquitetar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT) em 2016 com o pretexto das chamadas “pedaladas fiscais” — posteriormente desmoralizadas como justificativa jurídica — Michel Temer (MDB) volta à cena política como operador de um novo conluio gestado nas entranhas da elite paulista. Seu objetivo? Unificar setores da direita em torno de um projeto reciclado de “terceira via” para as eleições presidenciais de 2026 e, assim, tentar impedir uma nova vitória de Lula.
A articulação reúne os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Jr. (PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União-GO). A aposta de Temer é clara: com Jair Bolsonaro politicamente fragilizado e juridicamente ameaçado — como já ventilado até por veículos como o Estadão, porta-voz tradicional do mercado financeiro — o ex-capitão seria descartado, abrindo caminho para Tarcísio ser “ungido” como herdeiro do bolsonarismo e fiador da agenda ultraliberal que parte da elite econômica deseja continuar aprofundando.
Nas conversas de bastidor, Temer tem vendido a ideia de unificação da direita sem Bolsonaro, centrada em um novo agrupamento batizado por ele de “Movimento Brasil”. A proposta, na prática, reedita a velha cartilha neoliberal Uma Ponte para o Futuro — aquele mesmo programa formulado em 2015 sob o guarda-chuva do MDB que prometia "modernização", mas entregou congelamento de investimentos públicos, destruição de políticas sociais e entrega de recursos estratégicos ao capital estrangeiro, como o pré-sal.
Não por acaso, o próprio Temer chegou a admitir que o golpe parlamentar de 2016 só aconteceu porque Dilma se recusou a aplicar esse receituário regressivo.
Agora, o ex-presidente articula, junto a aliados como Gilberto Kassab, uma estratégia para que os pré-candidatos da direita — os mesmos que representam os interesses mais ortodoxos do mercado — mantenham suas pré-candidaturas até que uma pesquisa defina o “nome de consenso”. Hoje, Tarcísio desponta como favorito do bloco, justamente por sua política de privatizações agressivas e alinhamento automático aos interesses da Faria Lima, que enxerga no governador paulista uma chance de retomar o ciclo de desmonte do Estado iniciado em 2016.
O plano já teria o apoio de setores importantes do Centrão — MDB, PSD, Republicanos, União Brasil e parte do Novo — além do beneplácito dos financistas que orbitam a chamada “mídia liberal”.
Mas Temer não atua sozinho. Mantém laços firmes com a cúpula das Forças Armadas, especialmente com o general Sérgio Etchegoyen, um dos artífices do apoio militar ao golpe de 2016. Essa aliança entre segmentos do alto comando militar e setores da elite financeira e midiática revela que Temer, longe de estar nas sombras, permanece ativo como operador político de um projeto antipopular.
Apesar de sua imagem pública estar desgastada — marcada por escândalos, impopularidade e manobras antidemocráticas — Temer ressurge com a velha disposição de servir como fiador dos interesses da elite econômica, disposto a qualquer custo a pavimentar um retorno da agenda que retira direitos, destrói o patrimônio nacional e sabota a soberania do país. A tentativa de 2026 não é apenas eleitoral: é parte de uma ofensiva mais ampla contra qualquer projeto de nação que coloque o povo brasileiro no centro.