Lula, FHC, Lava Jato e o título de Cidadão Honorário de Paris

O título concedido ao ex-presidente, aprovado por unanimidade, foi proposto pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo

Foto: Montagem: pensarpiaui
O título recebido por Lula ofusca muitos

O título de Cidadão Honorário de Paris, concedido ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Théâtre du Gymnase, lotado, em plena capital francesa, foi desejado por muita gente “boa” e “acima de qualquer suspeita” no Brasil. Diante do fato, curiosa seria, por exemplo, a provável reação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), que lecionou na Universidade Paris Nanterre, na década de 1960, fala francês fluentemente e sempre se orgulhou dessa provável identificação pessoal com a chamada “Cidade Luz”. 

Com um apartamento na sofisticada e aristocrática Avenue Foch – endereço dos milionários de Paris –, FHC até hoje não recebeu homenagem de tal porte, por parte dos parisienses. Mas o tão sonhado título coube àquele ex-metalúrgico e ex-sindicalista, com apenas o diploma de curso técnico de torneiro mecânico, numa escola do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), da região do ABC. Visto talvez com menosprezo, que depois se transformou em inveja, por parte do sociólogo, Lula conseguiu, mais uma vez, dar a volta por cima.

O título concedido a Lula, aprovado por unanimidade no Conselho de Paris, órgão equivalente à câmara municipal da capital da França, foi proposto pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo, o que reveste a merecida homenagem de importância ainda maior. Para além dos ciúmes, mágoas, ressentimentos e queixumes do ex-presidente FHC, que no passado foi chamado de “príncipe da sociologia” e depois, no Palácio do Planalto, teria mandado esquecer o que escreveu, o petista reafirmou seu prestígio internacional. Mais do que isso.

Lava Jato desmoralizada 

A homenagem é mais um golpe na narrativa lavajatista, essencial à ascensão do presidente fascista – ou neofascista – Jair Bolsonaro, que ludibriou a sociedade brasileira, fazendo-a a crer que o ex-presidente era o chefe de uma megaorganização criminosa, que nunca existiu, instalada no poder central. Sem poder comprovar a ridícula acusação do procurador federal Deltan Dallagnol, que usou um powerpoint tosco, primário, para acusar, Lula foi condenado e preso, numa fraude processual sem precedentes.

O caráter de prisão política, de tão evidente, para impedir que o petista disputasse as eleições presidenciais de 2018, teve o efeito contrário em relação ao esperado pelas elites, por seus cruéis algozes, travestidos de toga e investidos de cargos públicos aos quais desonraram para sempre. Diferentemente do que seus persecutores esperavam, o ex-presidente não caiu no ostracismo e esquecimento, ao contrário do que a chamada grande imprensa, a mídia corporativa, calculava. Da cadeia, Lula saiu ainda maior, em todos os planos.

Receber o título de Cidadão Honorário de Paris não foi suficiente para merecer a parcial e tendenciosa cobertura jornalística de veículos como o Jornal Nacional, o Estadão, a Folha de São Paulo, etc. Mas isso não tem mais importância, pois a dimensão da presença histórica do ex-presidente se faz tão grande, que por si só ameaça o projeto golpista de poder no Brasil, cuja primeira etapa culminou com a derrubada da presidenta Dilma Rousseff – ela estava lá, ao lado de Lula, para aplaudir a homenagem de Paris ao maior líder político do País.