O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca nesta quinta-feira (3) em Buenos Aires para participar da 66ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. Esta é sua primeira visita oficial à Argentina desde a posse do presidente Javier Milei, conhecido por seu posicionamento ultraliberal. O encontro marca a transição da presidência rotativa do bloco, que passará da Argentina para o Brasil.
A presença de Lula no evento vai além de um compromisso diplomático. Em um cenário em que Milei tem criticado abertamente a integração regional – expressando desprezo pelo Mercosul e colecionando atritos com líderes vizinhos –, Lula busca reafirmar o bloco como uma prioridade estratégica da política externa brasileira.
“Não preciso destacar o quanto o Brasil valoriza o Mercosul em seu objetivo maior de promover a integração regional”, afirmou a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty, ao comentar a agenda brasileira para a cúpula.
Fortalecer o bloco como contraponto a Milei
Para o governo Lula, reforçar o Mercosul é também uma resposta direta ao discurso de Milei, que, embora critique o bloco de forma contundente, não tem conseguido apresentar saídas concretas para a grave crise econômica da Argentina. Enquanto o presidente argentino fala em rompimento e corte de laços com parceiros tradicionais, o Brasil defende a modernização do bloco, a conclusão do acordo com a União Europeia e a expansão de novas frentes comerciais.
Além das questões econômicas, a presidência brasileira pretende ampliar o papel social e político do Mercosul. Está prevista a retomada de temas como direitos humanos, igualdade de gênero e o fortalecimento de instituições regionais, como o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos, com sede na Argentina. “A política externa deve refletir os anseios da população que representa”, destacou Padovan.
Sustentabilidade e integração regional
Outro foco importante é a promoção de políticas ambientais, com o lançamento da iniciativa “Mercosul Verde”. A proposta visa destacar o potencial ambiental da região e alinhar o comércio a práticas mais sustentáveis – uma postura que contrasta com a visão negacionista de Milei em relação às mudanças climáticas.
A visita de Lula também evidencia a relevância da integração econômica no bloco, que gerou uma movimentação de US$ 17,5 bilhões entre janeiro e maio de 2025, com superávit de US$ 3 bilhões para o Brasil. Apesar das divergências políticas, o comércio regional segue sólido e ativo.