Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook
Indicadores mostram que a economia dos Estados Unidos vai bem, mesmo assim, para uma parte da população a percepção é de que as coisas vão mal. Com isso, a candidata democrata Kamala Harris, que representa o atual governo, não consegue se beneficiar dos frutos do crescimento econômico. Há um claro paralelo com o Brasil, o que transforma a eleição norte-americana desta terça em um recado para as pretensões de reeleição de Lula em 2026.
Os Estados Unidos vivem quase uma situação de pleno emprego. A taxa de desocupação de setembro foi de 4,1%, baixíssima, e o PIB cresceu 2,8% no último trimestre. Então qual o problema? A força de um governo não depende apenas de indicadores econômicos, pois, como disse a saudosa economista Maria da Conceição Tavares, o povo não come PIB.
Apesar de terem estabilizado após as altas causadas pela pandemia, os preços nos EUA seguem em um patamar alto, principalmente da moradia. Sim, inflação baixa não significa que os preço caem, apenas que estão subindo menos. Sem contar que os juros demoraram para começar a cair. Em um país em que os trabalhadores vivem endividados e pagando parcelas de tudo, de carro a celular, juros altos são péssimos para o humor coletivo. O copo está na metade, mas enchendo. Mas, aí, entra a lente da ultrapolarização, que faz com que os seguidores de Donald Trump interpretem a realidade como se o copo estivesse em menos da metade e esvaziando.
Toda essa situação é muito semelhante à vivida pelo governo Lula 3. O desemprego está em apenas 6,4% e não para de cair. A renda média dos trabalhadores também aumentou no último ano, com a volta do aumento do salário mínimo acima da inflação. E o PIB deve crescer mais do que 3%. O ano passado teve inflação menor e dentro do teto da meta, mas isso não significa que os preços voltaram a patamares anteriores ao salto inflacionário de 2021 e 2022 sob o governo Jair Bolsonaro. E há uma disputa sobre a interpretação dos resultados da economia também aqui. Se Kamala Harris conseguir convencer as regiões empobrecidas dos estados decisivos, ficaremos sabendo a partir de amanhã. De qualquer forma, a eleição dos EUA serão uma aula para o governo do Brasil, se ele souber escutar.