Julgamento do caso Marielle Franco: veja detalhes

Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz foram condenados a mais de 130 anos de prisão

O julgamento que condenou Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz pela execução de Marielle Franco e Anderson Gomes e a tentativa de assassinato de Fernanda Chaves. foram marcados por forte emoção O 4º Tribunal do Júri do Rio, localizado no Centro do Rio de Janeiro, se mobilizou durante dois dias de audiência.

Ao longo de 20 horas, os detalhes do crime vieram à tona na frente de uma multidão de pessoas que sabiam quem eram Marielle e Anderson. Mais de seis anos e sete meses depois do crime, espera-se que a Justiça tenha sido feita.

O fim do julgamento

Investigação – O promotor de Justiça Eduardo Martins mostrou imagens de resultados de busca que Ronnie Lessa fez um banco de dados (Sesefácil) sobre Marielle. Ele teve acesso a fotos e dados da vereadora e de sua filha, Luyara Santos. Ela se manteve firme ao ver sua foto ali e foi acolhida por parentes. Momentos depois, saiu do plenário e foi ao banheiro.

Emoção 

Marinete da Silva, mãe de Marielle, não conseguiu conter as lágrimas desde o primeiro momento enquanto o defensor público Fábio Amado falava sobre aquele dia.  Ághata Reis, viúva de Anderson, também se emocionou quando ouviu falar sobre seu marido. “Pai do Arthur e que dizia que tudo ia ficar bem, dando força e esperança à família, apesar das adversidades”.

Ana Paula Cordeiro, advogada de defesa de Élcio de Queiroz, também não conteve o nervosismo e chegou a trocar o nome de Anderson pelo do cliente duas vezes. Riram dela no plenário e após pedir desculpas aos presentes, terminou as alegações e chorou. Ela foi chamada para ajudar o réu a delatar em sua colaboração premiada e estava em seu primeiro júri.

“Assumi a responsabilidade deste caso com o compromisso inicial de negociar um acordo de colaboração. Não esperava ter que fazer o júri. No entanto, decidi assumir essa responsabilidade, pois todos têm direito a uma pena justa”, explicou a advogada, após o intervalo do almoço.

Na tentativa de abrandar o que estava por vir, Saulo Carvalho, advogado de Ronnie Lessa relembrou o depoimento da testemunha Natan Netuno, que na época, morava na rua há 20 anos. “Se não fosse a colaboração de Ronnie Lessa, nunca teriam chegado [a Chiquinho e Domingos Brazão, mandantes do assassinato]”, disse ele.

O dia

O relato da assessora Fernanda Chaves, que estava no carro e sobreviveu ao ataque, relembrou o dia em que tudo aconteceu após os três saírem de um evento na Lapa e seguiam para a Tijuca, na Zona Norte. Fernanda foi obrigada a sair do Brasil por segurança e sequer participou do velório e os ritos fúnebres.

“Estava tarde, era noite. Estava vazio. Anderson dirigia bem, tranquilamente. O carro era muito escuro, muito microfilmado. Eu e Marielle conversávamos sobre o dia, sobre o ato, evento que tinha acabado de acontecer. E aproveitávamos para falar sobre o dia seguinte, uma reunião importante que ela teria — iniciou Fernanda, recordando-se dos momentos após os tiros. — Eu estava muito ensanguentada, muito suja de sangue e comecei a pedir ajuda, a gritar por socorro; “Ajuda, ajuda. Liga para uma ambulância”. Essas pessoas se aproximaram. Uma mulher ofereceu ajuda. Vi uma mulher atravessando, vindo com um bebezinho pequenininho de colo. Essas lembranças sempre foram difíceis e confusas porque eu não enxergava direito. Meu corpo inteiro ardia. Eu não tinha certeza se tinha sido atingida ou não. Eu olhava para a Marielle lá dentro e queria acreditar que ela estava viva. Que ela... Imaginei que ela pudesse estar desmaiada. Como eu saí tão inteira dali, não queria admitir que ela pudesse estar morta”.

Dona Marinete

A mãe de Marielle, durante sua fala, com duração de 45 minutos, descreveu os momentos ao lado da fila. A emoção tomou conta de uma mãe e de todos que ali se faziam presentes.

“Cada vez mais dói, dói muito. Perder uma mãe, como a Luyara perdeu, nunca passou em nossa mente o que aconteceu com a minha filha. É uma falta, um vazio, um coração que tem um pedaço que foi arrancado covardemente, injustamente, naquela noite”, disse Marinete. “Fico imaginando que alguém foi pago para matar minha filha.” Veja reação da família

A reação de Mônica Benício

Viúva de Marielle, a vereador do PSOL relatou surpresa ao saber a motivação da morte da vereadora e se emocionou ao relembrar como tudo aconteceu.

“A assassinato da Marielle, a notícia da morte dela, quando vem com a confirmação da execução e não como uma tentativa de assalto, tinha também em si esse requinte de crueldade, da surpresa, da dúvida, porque a Marielle no geral era uma pessoa que se dava bem com todo mundo”, relatou.

A leitura da sentença

Lúcia Glioche, juíza do 4º Tribunal do Júri, foi a responsável pelo anúncio da sentença de Lessa e Queiroz, cujas penas somam mais de 130 anos de prisão. Veja:

Falas de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz

“Infelizmente, não podemos voltar no tempo. Hoje tento fazer o possível para tentar essa angústia de todos, assumindo a minha responsabilidade e trazendo à tona todos os personagens envolvidos nessa história. Tento fazer isso pra tirar um peso da minha consciência. Eu sei que nunca vou conseguir trazer as pessoas de volta, mas tinha que pedir esse perdão, incluindo à minha família. Eu preciso pedir perdão a essas famílias. Perdi meu pai recentemente e já foi péssimo. Perder um filho deve ser a coisa mais triste do mundo, um marido”, disse Ronnie, que teve sua fala recebida como um misto de incômodo pelos familiares, fazendo com que Anielle e Mônica se levantassem. Neste momento, mais uma vez, Luyara deixou o plenário.

Élcio de Queiroz disse que queria ter confessado o crime desde quando foi preso, em 2019. Ele foi o primeiro a negociar a delação premiada, em 2023.

“Tentei falar com o Ronnie desde que fomos presos. Lá em Mossoró falei para nos entregarmos. Mas na época, não confiava na Delegacia de Homicídios para falar com eles”, disse.

Indenizações

Lessa e Queiroz deverão pagar indenizações que somam R$ 3,5 milhões. Deste valor, R$ 706 mil são por dano moral para o filho de Anderson, Arthur, a mãe dele, Ághata Arnaus, Luyara Franco, Mônica Benício e Marinete Franco.

Ambos também deverão pagar a Arthur uma pensão até os 24 anos e as custas do processo. A pensão será calculada com base no valor de 2/3 do salário recebido por Anderson na época do crime.

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