JOSÉ DE FREITAS-PI: a história de Nonato do Carimã, precursor da família Lopes Araújo na política

Um homem que teve a coragem de enfrentar os coronéis da política de José de Freitas

Por Francisco de Assis Alves de Oliveira, historiador 

Este artigo tem por objetivo abordar aspectos relacionados à história de uma  família na política de José de Freitas-PI, mais especificamente a família Lopes Araújo. Também, se constitui em um tributo de respeito, para render homenagem a Raimundo Nonato de Araújo (Nonato do Carimã), um homem que teve a coragem de enfrentar os coronéis da política de José de Freitas em uma época que o povo estava acostumado ao poder de mando e à rudeza da oligarquia política predominante na cidade José de Freitas. Situa-se no campo da história oral e está fundamentado na contribuição teórico- metodológica advinda da micro-história.

A família Lopes Araújo, possui tradicional ligação com a política na cidade de José de Freitas-PI. Esta ligação teve início em 1962, por meio de Raimundo Nonato de Araújo, o Nonato do Carimã;  filho de Francisco Lopes de Araújo e Eulália Maria da Conceição ou Eulália de Sousa e Silva. Por erro do cartório da cidade os dois nomes aparecem nos documentos de identidade dos filhos, em um  foi redigido o primeiro, e, em outro, aparece o segundo.  Falecido em Maio de 2021, aos 92 anos de idade.

Convém sempre entender que o conceito mais preciso para tradição é: Uma prática fixa, normalmente ligada à um passado memorável, que se impõe pela repetição de qualquer prática social. Tradição é criada pelo homem e é passada de geração para geração.

No ano de 1962, o Nonato do Carimã a convite de José de Araújo Chaves concorreu às eleições municipais na cidade de José de Freitas-PI, para o cargo de vereador. Ele entrou para a política atendendo ao chamado do amigo de quem era sócio/gerente de um comércio, para engajar-se na causa de um grupo político. José de Araújo Chaves, liderança política do município, foi também, um rico proprietário de terras, fazendas e da  empresa de ônibus Livramento; entre as principais fazendas destacava-se a fazenda Carimã e fazenda Veados. Na  fazenda Carimã existia um grande comércio que era gerenciado por Raimundo Nonato de Araújo, daí o apelido de Nonato do Carimã.


Nonato do Carimã disputou a eleição de vereador apoiado pelo candidato a prefeito João Craveiro de Melo, que  foi eleito pela oposição, disputando contra o candidato da situação, Ferdinand Freitas. Segundo a tradição oral da família, Raimundo Nonato de Araújo, Nonato do Carimã teve a "eleição roubada" na recontagem dos votos. Naquele tempo, 1962 a votação era realizada em cédula de papel. Desde o Brasil Império, a fraude nas eleições foi uma constante. Além do  mecanismo de coação dos eleitores, as fraudes eram utilizadas como parte da estratégia de embate entre os grupos políticos. Na contagem normal dos votos ele empatou com Abdias Martins.

Os votos foram encaminhados para uma recontagem supostamente independente na cidade de Barras-PI. Feita a recontagem, o resultado verificou-se favorável ao candidato a vereador Abdias Martins, que foi proclamado eleito; consequentemente, o Nonato do Carimã, sem ter para onde recorrer teve que aceitar a segunda apuração dos votos e conviver com o sentimento de injustiça que ele experimentou.

Dando continuidade a precursora candidatura de Raimundo Nonato de Araújo, o professor Juscelino Araújo Ferreira, sobrinho de Nonato  do Carimã, disputou a eleição municipal de 1988 para cargo de vereador. Na ocasião apoiou para prefeito Gerardo Linhares, que venceu as eleições pelo partido PDS e Juscelino Araújo ficou suplente de vereador.

Nas eleições municipais de 2000 três primos, filho e sobrinhos de Nonato do Carimã, participaram da campanha eleitoral como candidatos a vereador e vice-prefeito respectivamente. O professor Juscelino Araújo volta a disputar o cargo de vereador, ficando primeiro suplente; Francisco de Assis Alves de Oliveira, (Lopes Araújo - sobrenome materno não acrescentado na certidão de nascimento), concorreu ao cargo de vice-prefeito, sendo eleito pela chapa do prefeito Pedro Paulo Macedo da Rocha. Também, nesse mesmo ano – 2000, Francisco das Chagas Araújo, o popular mecânico de  automóveis Chico macaco, filho de Nonato do Carimã concorreu ao cargo de vereador, mas não conseguiu logra êxito.

Mantendo a tradição de mais de meio século da família nas disputas políticas do município, no ano de 2004 Francisco de Assis Araújo, filho de Nonato do Carimã pleiteou uma vaga na Câmara Municipal. Este, além de candidato a vereador, foi dirigente de partido político por mais de 10 anos. Também, em 2004, 2008 e 2012 o professor Juscelino Araújo concorreu novamente a uma vaga na Câmara Municipal.

No pleito eleitoral do ano 2020, a família volta a  participar intensivamente das eleições municipais. Desta vez representada pelos sobrinhos de Nonato do Carimã, Simão Alves Oliveira (Lopes Araújo - sobrenome materno não inserido na certidão de nascimento) e Abraão Araújo, ambos candidatos a vereador.

No aspecto da orientação do lado partidário, é importante ressaltar que historicamente a família majoritariamente segue a linha de pensamento do precursor, Nonato do Carimã, ou seja, se posiciona em oposição aos Freitas. Tendo em vista que, José de Araújo Chaves fazia oposição radical à família Freitas, a quem se deve a ideia de se lançar na  política.

Em 2024, Sara Araújo, Abraão Araújo e Simão Oliveira (Lopes Araújo, sobrenome materno não acrescentado na certidão de nascimento) estão em pré campanha para vereador. Diante de tudo isso, depreende-se que, o gosto pela política  da geração atual, está enraizado desde o século passado, provenientes da tradição familiar iniciada em 1962. 

Referências: ARAÚJO. Josefa Maria de. Testemunho oral, 2024. FERREIRA. Juscelino de Araújo. Testemunho oral, 2024. OLIVEIRA, Teresinha Lopes. Testemunho oral, 2019