Joaquim Almeida: Não pode haver “união nacional“ em torno de alguém que prega a divisão do país

Falar de “união nacional“ neste momento e em torno dos que pregam exatamente o oposto disso é fazer o jogo daqueles que querem destruir o país

Foto: cidade verde.com
Joaquim Almeida

Sem carona para os escorpiões

Joaquim Almeida, advogado

Muitos aqui, aproveitando-se da crise nacional pedem união em torno de Bolsonaro. Não, não e não! Não pode haver “união nacional“ em torno de alguém que prega sistematicamente a divisão do país, que só olha para o seu rebanho, que só pensa em seu prestígio político e prega a derrubada da democracia. Não se brinca de roda com os extremistas.
Aprendi desde cedo que não há diálogo político algum com fascistas e comunistas (os verdadeiros). Não se dá carona para escorpiões.

O verdadeiro diálogo deve ser feito entre os moderados – mas não os bobos ou os covardes – e não com aqueles que querem destruir a Democracia, que não pode e nem deve ser encarada como mera palavra vazia.

A Democracia não pode ser sequestrada como vem sendo feita pelas oligarquias de direita e de esquerda, que se refastelam em orgias de privilégios. A Democracia só tem sentido se for popular e radical. Popular porque ela deve servir ao povo, ter com fundamento as suas aspirações e seus objetivos. Deve ser radical, não para imprimir qualquer violência e intolerância ou para sair do caminho do bom senso e do “meio”, mas porque ela deve procurar ir à raiz das coisas; ir ao fundo das questões e resolvê-las. Deve ser radical para não tolerar a deseducação, a falta de oportunidades, a miséria, os privilégios, a impunidade e a patifaria das oligarquias partidárias. Deve ser radical para ter a Liberdade como primado maior e não para servir de valhacouto de elites degeneradas. Deve ser radical porque ela não pode ser capturada pelos endinheirados e financistas, manipuladores do sistema político.

A união que devemos procurar fazer é entre homens e mulheres que querem um Brasil que dê oportunidades para todos, para que cada um, através de seus próprios méritos, possa alcançar o seu destino.
Sem oportunidades iguais, que significa educação pública de qualidade, saúde pública de qualidade, segurança eficaz, a mais ampla liberdade de criação e trabalho para todos, o discurso da meritocracia é uma falácia, um embuste dos privilegiados.

É hora de o Brasil separar o joio do trigo. Não vamos nos unir com aqueles que pregam o fechamento das instituições e a destruição da Democracia – imperfeita, sim, mas superior a qualquer outro regime.

Somente a Democracia e o Estado de Direito permitem ao povo a mais ampla liberdade de organização e manifestação e, consequentemente, o choque de ideias e a pressão legítima sobre os representantes do povo.

Não vamos nos unir com quem prega um liberalismo mofado, que deixa o povo na miséria, sem educação, sem saúde e desempregado. Esse liberalismo do mercado financeiro e dos grandes monopólios está morrendo a golpe de vírus.

Felizmente.

É hora de reconstruir o Centro (não o centrão da direita carcomida, fisiológica e corrupta), de unir as forças moderadas e democráticas. Isso só pode ser feito com homens e mulheres que pensam, à direita e à esquerda, mas que saibam convergir para uma posição central e de consenso. O que importa é o diálogo. O caminho está no meio, com liberdade e soberania .

O Brasil é daqui para frente. Aprender com o passado para não repetir os erros. Vigiar e lutar para que o presente não vire um grande pesadelo.

Falar de “união nacional“ neste momento e em torno dos que pregam exatamente o oposto disso é fazer o jogo daqueles que querem destruir o país .

OBS: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do pensarpiaui.