Cada vez mais pressionado por ter promovido um esquema de criptomoedas que levou milhares de seguidores a perder dinheiro, o presidente da Argentina, Javier Milei, concedeu uma entrevista à emissora TN tentando minimizar o escândalo envolvendo a criptomoeda $Libra. Durante a conversa, Milei alegou que seu objetivo era apenas ajudar um empreendimento privado e que "saiu mal". Ele responsabilizou os investidores pela decisão de participar da iniciativa e admitiu que não tem conhecimento sobre o setor. "Isso foi um tapa na cara", reconheceu.
No entanto, uma cena que acabou vazando, chama a atenção, indicando que a entrevista foi interrompida para evitar que ele se complicasse ainda mais.Em um certo momento, Milei falava sobre a postagem e foi interrompido por um dos seus assessores, que imediatamente indicou que a entrevista parasse naquele momento. O vídeo mostra ainda o jornalista sem saber como guiar o roteiro, após a abrupta interrupção. Veja ao final do texto.
Defesa e ataques à oposição
O presidente afirmou que não tem nada a esconder e que, ao contrário de outros políticos, não se esconde em momentos de crise. "Se você não dá a cara, é porque está sujo", declarou. Ele também acusou a oposição de explorar o caso politicamente. "Mais cedo ou mais tarde, a espuma vai baixar, e a população vai perceber o quão rasteira e miserável é a política tradicional, que está nervosa porque as pesquisas indicam que eles estão em baixa", afirmou.
Milei negou que o escândalo afete sua credibilidade e reiterou que deseja ser investigado. "Podem me investigar o quanto quiserem. O próprio Hayden Davis disse que não recebi e não receberia nada. Criamos uma unidade de investigação que está dispondo todas as informações à Justiça", declarou.
A origem do escândalo
Segundo Milei, o projeto foi apresentado a ele pelo empresário Mauricio Novelli, dono da escola de traders NW Professionals, e por Hayden Davis, criador da $Libra. O presidente justificou que a iniciativa buscava financiar empreendedores sem acesso ao mercado formal. "Achei que essa era uma ferramenta interessante para financiar pessoas que, de outra forma, não teriam acesso a crédito", disse.
Questionado sobre a remoção do post em que promovia a criptomoeda, Milei afirmou que tomou a decisão devido à repercussão negativa. "Assim que postei, surgiram comentários dizendo que minha conta tinha sido hackeada, o que é falso. Fixei o tuíte para mostrar que era meu. Quando os comentários negativos aumentaram, apaguei o post. Como nunca apago tuítes, foi uma decisão atípica", justificou.
O presidente também minimizou o impacto da crise, alegando que o número de pessoas afetadas é muito menor do que os 40 mil investidores mencionados em algumas informações. "No melhor dos casos, a cifra real é de 5 mil pessoas, e a chance de que entre elas haja argentinos é remota", afirmou. Ele também responsabilizou os investidores pelo risco assumido. "Quem entrou nisso fez isso de forma voluntária. É como ir a um cassino e perder dinheiro", declarou.
Acusações sobre suborno e novas investigações
Enquanto Milei tenta minimizar o caso, novas denúncias surgem. O jornalista e economista Alejandro Bercovich revelou, no programa La ley de la selva, transmitido pela emissora C5N, que uma pessoa próxima ao presidente teria recebido um pagamento de US$ 5 milhões para que ele promovesse a $Libra. A acusação tem como base informações do empresário Diógenes Casares, especialista em finanças descentralizadas, que afirma ter tido acesso a detalhes do esquema.
"Um importante empresário do setor assegura que alguém do entorno de Milei cobrou 5 milhões de dólares para que o presidente fizesse essa promoção", disse Bercovich. Segundo Casares, antes de Milei promover a criptomoeda, rumores já circulavam sobre o lançamento de um token vinculado ao presidente. "Me disseram que alguém próximo a Milei recebeu um suborno milionário para colocar o token diante do presidente", explicou Casares.
Bercovich contestou a versão de Milei de que poucas pessoas foram afetadas, classificando o episódio como "um escândalo que sacode a Argentina e parte do mundo". "O Dia dos Namorados foi marcado por um presidente promovendo um golpe com criptomoedas, que gerou US$ 110 milhões em ganhos para alguém do entorno de Milei", denunciou o jornalista.
Críticas de Maduro e vazamento de bastidores
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também se manifestou sobre o caso, chamando Milei de "golpista de criptomoedas em série" e "fantoche das potências mundiais, que busca saquear e destruir a Argentina". Em seu programa de TV Con Maduro Más, ele afirmou que Milei "não só viola os direitos humanos, atacando os setores mais vulneráveis, mas agora se tornou um fraudador em série reconhecido publicamente em todo o mundo".
Além disso, um vazamento de bastidores da entrevista de Milei chamou atenção. Durante a gravação, um de seus assessores interrompeu a entrevista abruptamente quando o presidente falava sobre a postagem promovendo a criptomoeda. O jornalista presente ficou visivelmente confuso com a interrupção repentina, levantando suspeitas sobre possíveis tentativas de controlar os danos do escândalo.
Crise de confiança e impacto no governo
O escândalo amplia a crise de confiança no governo Milei, que já enfrenta dificuldades políticas e econômicas. O envolvimento direto ou indireto do presidente com uma fraude financeira pode aprofundar a instabilidade de sua gestão, enquanto novas investigações continuam surgindo. Milei segue negando qualquer participação ilegal e aposta em ataques à oposição para desviar o foco das denúncias. No entanto, a crise está longe de se dissipar.