Jaques Wagner: 'base sólida no Congresso vem com o tempo e a participação de Lula é fundamental'

Líder do PT no Senado também disse que o governo federal “está sob nova direção"

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Jaques Wagner

247 - O líder do PT no Senado, Jaques Wagner, afirmou que as dificuldades na articulação política do governo no Congresso Nacional irá melhorar com o tempo e que a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é fundamental neste processo. 

”A gente está substituindo agora um governo que, por não exercitar a política, estabeleceu uma relação com o Congresso diferenciada. Extremamente árida e excessivamente pragmática. Para o leito natural da política voltar, vai levar um tempo mesmo. Você não dá cavalo de pau na Câmara, com 513 deputados. É fundamental a presença do presidente Lula, não no dia a dia do exercício da política, mas porque ele tem o poder de galvanizar", disse o senador.  

Questionado se é possível construir uma base no Congresso sem o uso de emendas de relatores, que no governo Jair Bolsonaro (PL) ficaram conhecidas como "orçamento secreto",Jaques Wagner respondeu afirmativamente. "Claro. Sempre tivemos. Orçamento secreto só fez degringolar as relações Executivo-Legislativo. Não dá para alguém gastar, e outro ser responsável por tocar o governo", disse. Ainda segundo ele, o governo federal "está sob nova direção, o Lula quer fazer governo, projeto macro. Não dá para transferir toda capacidade de investimento ao Parlamento". 

Wagner disse, ainda, considerar difícil que o presidente Lula entregue o comando do Ministério da Saúde por meio de alguma indicação partidária, como deseja o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e outras lideranças do Centrão.

"Acho difícil. Cada um pode pretender o que quiser, mas algumas áreas, como Saúde e Educação, são muito distantes. Pode acontecer, mas acho muito difícil e não por uma pressão desse tipo: ‘Entregue isso aqui, se não acontece aquilo’. As duas partes têm que se acostumar: o presidente Lula tem que saber que o Congresso que ele tem é diferente do que ele tinha nos mandatos anteriores, e o Congresso tem que saber que o presidente é diferente do que eles tinham (Jair Bolsonaro)". 

"Não acredito que haverá mudanças nos ministérios antes de um ano de governo", afirmou o senador. "O que está acontecendo no Turismo não está relacionado ao governo, mas sim à relação partidária do União Brasil. Se houve conflito e a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, não representa mais o partido, teremos um problema para administrar", ressaltou.

Questionado sobre a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que tornou Bolsonaro inelegível pelos próximos oito anos, o parlamentar foi sintético: "Não cabe a mim julgar. Na verdade, eu não estava muito preocupado se ele seria condenado ou não. Do ponto de vista da minha agenda política-eleitoral, isso muda muito pouco".

Sobre a possibilidade de a eleição de 2026 poder ser mais desafiadora para a esquerda caso Bolsonaro se candidate novamente, o senador discordou. "Poderia ser mais fácil. Ele é um déjà-vu. Qualquer outro candidato pode despertar a expectativa de compartilhar as mesmas ideias ou ideologia, mas com uma abordagem diferente", argumentou. 

Segundo Wagner, Lula está "recolocando sua candidatura" e pode buscar a reeleição. "Ele deixou de lado essa conversa de que não é candidato. Ainda há muito a acontecer até lá, mas se ele estiver com energia e vontade, provavelmente será [candidato]", concluiu.