Ontem, em Teresina, na manifestação contra Bolsonaro um fato se sobressaiu entre as imagens divulgadas nas redes sociais: uma mulher em frente a igreja de São Benedito, localizada na Avenida Frei Serafim, deitada sob uma mesa, sem roupas, amarrada e com uma maçã na boca. Em cartazes colados a estrutura, as seguintes declarações “Estamos no cardápio do governo, mas não seremos engolidos facilmente”.
A imagem gerou algumas críticas que o pensarpiauí, por decisão editorial, não dará enfase. Destacaremos as postagens de uma professora, um professor e de uma jornalista:
Fabíola De Azevedo Lemos
O que vamos dizer para as crianças? Que esse é o corpo que justificou o voto sanguinário? Que esse é o corpo que sustenta o palanque dos hipócritas? Que no país que elegeu Bolsonaro, a nudez de uma mulher choca mais que os dedos de uma criança fazendo arminha na campanha eleitoral? Cotidianamente outdoors vendem a nudez feminina em frente às igrejas e escolas, mas não se ouve a voz dos "indignados". O comentário horrorizado na rede social não resolve a humilhante subordinação da religião ao capital que há muito profana o Templo. O que incomoda é a coragem da mulher despida em público e indiferente ante o julgamento que nos violenta todos os dias.
Alexis Leite
A moça nua, o "Cardápio do Dia", deu um tapa na cara dos nazifascistas de Teresina. Saíram da carapaça da hipocrisia e mostraram suas bocas sujas e oportunistas: O espaço é público, como o nome diz, é de todos, coisa que Silvio Mendes, Monstrezuma e o Firmino se esforçaram para reduzir. Que religiões são essas que querem a primazia dos espaços públicos?
Cintia Lages
E esse corpo estendido no chão, ele choca vocês ? Sabem o que tem aí embaixo ? Um homem sem casa para morar, que dorme no vão do Masp, em São Paulo. Ele e outros 100 pelo menos. Na cidadetoda, são milhares. A cidade mais rica, a cidade dos sonhos de muitos trabalhadores. Não tem emprego , não tem vacina e os corpos abandonados nas ruas não chocam ninguém. O registro foi feito sexta. E hoje, em Teresina, uma performance artística que representa um corpo numa bandeja para ser servido aos poderosos - uma analogia ao quanto somos alvo num país sem comando e sem rumo. Somos explorados, devorados no dia a dia, seja pelo medo, seja pelo ódio. Chamam de amoral, se dizem envergonhados e indignados. Enxergar o imoral diz muito mais sobre eles do que sobre a artista. Quanta hipocrisia !