Há 2 anos acontecia a facada em Bolsonaro

O que aconteceu foi um atentado ou uma farsa?

Por Oscar de Barros, jornalista

Era 2018. Dia 06 de setembro. Portanto, dois anos atras. O Brasil vivia uma campanha política para presidente da República e, de repente, a notícia: "o presidenciável Jair Bolsonaro sofrera um atentato numa atividade política em Minas Gerais." No meio de uma multidão o então candidato do PSL havia sido esfaqueado.

Na ocasião eu escrevia para o 180graus e fiz a postagem que segue. Após a postagem reproduzimos também vídeo divulgado aqui no pensarpiaui em 31 de dezembro daquele ano. Confira os trabalhos 

Sobre atentados e simulações

 Foto: 180graus

No fim da tarde hoje o presidenciável Jair Bolsonaro foi vítima de um atentado. Segundo relatos, foi atingido por uma faca.

As instituições brasileiras, entre elas a Polícia Federal, que dava proteção ao candidato na hora do atentado, devem satisfação à sociedade. 

O fato precisa ser esclarecido! 

Estamos num momento delicado da vida nacional onde tudo pode acontecer. 

Pode acontecer atentado e pode acontecer farsa. 

A seguir exemplos de momentos nada edificantes de brasileiros e, até, não brasileiros:

Foto: 180graus

Há 25 anos, Rojas simulava contusão em partida contra o Brasil

Jornal O Estado de São Paulo 03/09/2014

A vaga da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1990 estava praticamente garantida quando um sinalizador caiu próximo ao goleiro Rojas, capitão e líder do Chile na partida disputada sob os olhares de 140 mil torcedores no Maracanã há exatos 25 anos. O incidente, que ocorreu aos 23 minutos do segundo tempo - oito minutos depois de Careca abrir o placar - tornou viável o plano do camisa 1, que tentava adiar o confronto, levando a disputa para um campo neutro.

Em segundos, o goleiro estava caído e ensanguentado, com um corte de quase três centímetros acima do olho esquerdo. Pouco depois, todos os jogadores chilenos cercaram Rojas, defendendo o capitão. Carregado pelo time como um mártir, o goleiro foi levado para o vestiário do Mário Filho. Medicado, levou quatro pontos no corte. O Chile, alegando falta de segurança, não voltou ao gramado e adiou a decisão.

A farsa, porém, não demoraria a ser descoberta. Imagens mostraram, no dia seguinte, que Rojas continuou em pé após o sinalizador atirado pela torcedora Rosenery Mello, que navegou na onda e chegou à capa da revista Playboy, tocar o gramado, ao lado do jogador. Caído, Rojas não apresentava nenhum ferimento até levar as mãos à cabeça.

Em dezembro daquele mesmo ano, a Fifa julgou o caso e definiu a punição: Rojas jamais voltaria a jogar futebol. Ele forjou o corte, registrou a Fifa. A seleção chilena, por sua vez, também estava fora da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Na tentativa de diminuir a pena, o goleiro confessou a farsa. "Mantive um bisturi na luva durante o jogo. Quando vi aquela fumaça perto de mim, me cortei. Saiu muito sangue", disse no fim de maio de 1990.

Ao explicar o que aconteceu, Rojas responsabilizou outros jogadores da sua equipe. O plano, segundo o capitão, teria sido maquinado dois dias antes da viagem ao Rio, com a ajuda do zagueiro Fernando Astengo, que já estava suspenso por cinco anos ao ser acusado de incitar jogadores a abandonar o campo. Já o médico da seleção, Alejandro Kock, teria fornecido o bisturi a Rojas. O técnico Orlando Aravena, também punido por cinco anos pela Fifa, acabou não mencionado pelo goleiro.

No dia seguinte à confissão de Rojas, Astengo desmentiu a versão do colega. "Ele não quer assumir a culpa sozinho e quer arrastar outras pessoas junto", disse o segundo capitão da seleção do Chile naquela partida contra a seleção brasileira 25 anos atrás.

Foto: 180graus

Bolinha de papel, a farsa política desmascarada

Luis Nassif, 11/04/2014

Na terça-feira houve a primeira exibição, em São Paulo, do documentário “O Mercado de Notícias”, do cineasta gaúcho Jorge Furtado. Ele entrelaça uma peça do século 17, que já abordava o papel da mídia, com depoimentos de jornalistas.

A parte mais interessante do documentário é a reconstituição do episódio da bolinha de papel que atingiu o candidato José Serra na campanha de 2010.

Uma cena rápida da reportagem da TV Bandeirantes mostra um braço negro, com uma camisa azul, atirando a bolinha de papel. Ao lado, uma pessoa corpulenta com camisa vinho. Não se vêem seus rostos.

Outras cenas gravadas mostram um sujeito negro de óculos escuros e camisa azul, e outro branco, corpulento, de camisa vinho, no mesmo local, pouco antes do arremesso da bolinha. Ambos próximos a Serra, e atuando na sua segurança.

Não é mencionado no documentário, mas provavelmente trata-se de um trabalho de 2010 de autoria de Sérgio Antiqueira, que recebeu apenas 1.639 visualizações no Youtube.

Com essas revelações, fecha-se o ciclo de uma das maiores tentativas de fraude eleitoral da história política recente do país.

O primeiro passo foi a escolha do local, uma região francamente hostil da cidade.

Em 1999, quando Ministro da Saúde, Serra mandou demitir 5.700 mata-mosquitos da Funasa (Fundação Nacional da Saúde) no Rio - técnicos incumbidos de combater os mosquitos da dengue.

Há indícios de que o fim dos mata-mosquitos visou liberar verbas para o governo do Estado, já que a Funasa continuou repassando anualmente os R$ 11 milhões referentes aos salários dos demitidos.

As consequências foram desastrosas, com a gripe da dengue se alastrando por todo o estado. No ano seguinte, a epidemia se abateu sobre 45 mil pacientes infectados, causando dezenas de mortes, mais da metade do total de mortes por dengue no país.  Foi o ano com mais registros de dengue da história, a maior parte concentrada no Rio.

Serra acabou inimigo mortal da categoria.  Em 2.000, eventos políticos dos quais participava já tinham sido invadidos por mata-mosquitos.  

O episódio da bolinha de papel ocorreu justamente na região oeste do Rio, onde fica o Sindicato dos mata-mosquitos. Era óbvio que haveria reação, tanto assim que Serra desembarcou cercado por um exército de seguranças, provocando ostensivamente os manifestantes e criando o clima adequado para as cenas seguintes.

As duas bolinhas

Em poucos minutos, explodem duas cenas.

A primeira, o da bolinha de papel que pipoca na cabeça de Serra e cai no chão. Serra leva algum tempo para se dar conta do fato e aparentemente perde a primeira oportunidade de montar o teatro.

A segunda oportunidade é mais à frente. Serra recebe um telefonema. Pouco tempo depois leva a mão à cabeça. Caminha mais um pouco, sem aparentar danos. Uns cinco segundos depois leva a mão à cabeça, caminha em direção ao carro da comitiva. Ainda tem tempo para conversar um pouco com alguns fãs.

Depois entra e segue para um hospital onde é atendido pelo cirurgião médico de cabeça e pescoço Jacob Kligerman – que presidiu o INCA (Instituto Nacional do Câncer) na gestão de Serra na saúde.

Na Justiça existem as provas declaratórias (que dependem apenas de declarações de testemunhas) e as provas documentais (as que têm efetivamente valor).

Klingerman declara à imprensa que Serra chegou ao consultório “com náuseas e tonteira”. Quanto às provas documentais, nada havia. Informa que não havia lesão aparente (externa), e a tomografia nada acusou. Pelo sim, pelo não, recomendou 24 horas de repouso.

Naquela noite, o Jornal Nacional divulgou reportagem onde endossava a versão da agressão com “objeto contundente” . Dizia-se ser um rolo de fita crepe. A reportagem terminava com um Serra nitidamente interpretando o papel de uma pessoa fragilizada, deblaterando contra a guerra política.

Naquela mesma noite, uma reportagem da SBT mostrava a cena da bolinha de papel (mas sem os seguranças), o telefonema recebido por Serra e, em seguida, ele levando a mão à cabeça.

Começou a guerra de versões. O Jornal Nacional chegou a convocar o perito Ricardo Molina para analisar um vídeo gravado por celular que supostamente provaria que houve um segundo objeto lançado contra Serra, um rolo de fita crepe. Não se perguntou ao perito se, mesmo supondo-se ter sido um rolo de fita crepe, qual seu poder de contusão.

Outros técnicos rebateram as análises de Molina, com vídeos colocados na Internet, mostrando que o objeto identificado como fita crepe não passava de uma sombra de algum manifestante, em um vídeo de baixíssima resolução.

No dia seguinte, o então presidente Lula comparou Serra ao goleiro chileno Rojas – que simulou ter sido atingido por um rojão em um jogo no Maracanã.

O vídeo de 2010 – trazido à tona pelo documentário – ao provar que foram os próprios seguranças de Serra que atiraram a primeira bolinha, desnuda de vez a que poderia ter sido uma das grandes fraudes midiáticas-políticas da década. E não foi graças ao contraponto exercido pelas redes sociais.

O resultado final foi a desmoralização do candidato por um partido alto de Tantinho da Mangueira.

“Deixa de ser enganador

Pois bolinha de papel

Não fere e nem causa dor”

Foto: 180graus

Em 1989, sequestro de Abílio Diniz foi relacionado ao PT e desmentido logo após eleições, mostra pesquisa

Rede Brasil Atual 25/09/2010

A cobertura da mídia sobre o sequestro do empresário Abílio Diniz, executivo do grupo Pão de Açúcar, em 1989, foi decisiva para o resultado do segundo turno das eleições, em que concorriam Fernando Collor de Mello (PRN) e Luís Inácio Lula da Silva (PT). A conclusão é da professora de comunicação Diana Paula de Souza que realizou a pesquisa "Jornalismo e narrativa: uma análise discursiva da construção de personagens jornalísticos no sequestro de Abíolio Diniz e suas repercussões políticas".

Jornais da época suscitavam envolvimento do PT na ação, usando fontes da polícia. Após a vitória de Collor, as acusações foram desmentidas. O estudo analisou os jornais O Globo, Jornal do Brasil (JB) e Folha de S. Paulo, de 17 a 20 de dezembro de 1989.

O sequestro de Diniz aconteceu em 11 de dezembro de 1989, por integrantes do Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), mas só foi revelado após a libertação do executivo, no dia 16 de dezembro, véspera do segundo turno da primeira eleição direta no Brasil, pós-ditadura.

Segundo a pesquisadora, no dia 17 de dezembro começaram os "relatos jornalísticos sobre material de propaganda política do PT que teria sido encontrado junto com os sequestradores". E logo no início das investigações "percebe-se um esforço dos veículos para estabelecer uma conexão entre o sequestro e o então candidato à Presidência da República, Luís Inácio Lula da Silva", como no trecho de O Globo do dia 18 de dezembro. "Tuma assegurou que os terroristas integram duas organizações de extrema esquerda no Chile - Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) e Organização de Resistência Armada (Ora) e que em poder dos que foram presos foi apreendido material de propaganda política do PT".

Diana descreve que apesar da aparente objetividade do jornal, que atribui as informações a uma fonte principal, Romeu Tuma, há uma associação entre terrorismo, movimentos de esquerda e o Partido dos Trabalhadores.  "A publicação faz uma ligação sutil do PT com o MIR e o ORA, já que se refere aos três organismo na mesma frase, sugerindo que o PT teria ligação com as organizações guerrilheiras". Os jornais citam também que camisetas e faixas do PT teriam sido encontradas com os sequestradores, mas que isso não seria indício de envolvimento do PT com o sequestro.  

Por outro lado, Diana cita que Fernando Collor de Mello, concorrente de Lula no segundo turno, "teve o apoio de Roberto Marinho, dono das Organizações Globo, o que se refletiu no jornalismo praticado pelos veículos de comunicação do grupo". "O exemplo clássico foi a edição do Jornal Nacional que se seguiu ao último debate entre os dois candidatos, realizado no dia 14 de dezembro de 1989", descreve a pesquisa.

O estudo também reproduz um trecho do JB que de forma semelhante a O Globo destaca uma possível ligação do MIR com o PT. "Além da casa da Rua Ilashiro Miazaki, a polícia informou ter invadido um apartamento nas proximidades (Rua Charles Darwin), onde morariam os sequestradores que já estavam presos, e lá teria encontrado panfletos do MIR, propaganda eleitoral da campanha de Luís Inácio Lula da Silva, agendas com telefones de dois líderes petistas, o vice-prefeito paulistano Luiz Eduardo Greenhalgh e o vereador Eduardo Suplicy, presidente da Câmara Municipal, e de Airton Soares, do PDT. Foi encontrada também, segundo a polícia, uma barraca com ventilação no teto, que teria sido usada no sequestro do publicitário Luiz Sales, libertado no início de outubro após pagamento de um resgate de US$ 2,5 milhões. Ainda no final da tarde, o ministro da Justiça, Saulo Ramos, que acompanhava o caso através de telefonemas a cada 10 minutos, afirmou não ter nenhuma informação sobre a agenda".

Cobertura foi decisiva

Mario Sérgio Conti, em seu livro Notícias do Planalto: a imprensa e Fernando Collor, afirma que a eleição foi decidida na última semana, momento "em que a imprensa esteve envolvida nos fatos principais". Para Conti, o sequestro de Diniz está entre os fatores que podem ter contribuído para a eleição de Collor e derrota de Lula.

O autor, uma das fontes de Diana, narra que  "na manhã de domingo, o dia da eleição, O Estado de S. Paulo noticiou na primeira página que 'um padre da zona sul, simpatizante do PT, foi avalista da casa alugada pelos sequestradores'. Fleury deu uma entrevista ao jornal dizendo ter sido encontrado material de propaganda petista numa casa alugada pelos sequestradores. O Estadão transcreveu declarações de Saulo Ramos e Romeu Tuma negando que houvesse qualquer evidência de que os criminosos fossem ligados ao PT. Saulo Ramos levantou a hipótese de que os bandidos espalharam material de propaganda petista na casa para que, se fossem presos, se beneficiassem das penas mais brandas que a lei estabelecia para os crimes com motivação política. Uma das reportagens de O Estado relato que Alcides Diniz, irmão do sequestrado, sustentava que o PT participara do sequestro. Mas a reportagem não esclarecia que Aldes Diniz era amigo de Leopoldo Collor e se engajara na campanha do candidato do PRN. A principal manchete do jornal O Rio Branco, do Acre, foi 'PT sequestra Abílio Diniz'".

Defesa

A análise da pesquisadora aponta que Lula só se defendeu da suposta conexão que os jornais faziam entre o PT e o sequestro numa pequena "retranca ao pé da página, espremida por um bloco de anúncios publicitários. O título é: "Lula teme 'maracutaia'", explica a especialista.

O trecho de O Globo em que o então candidato petista se manifesta sobre o assunto sugere que "Lula não deu importância ao sequestro, já que estava em um jogo de futebol". "A ênfase nos termos populares utilizados por ele parece querer desqualificar o candidato para o cargo que pretendia ocupar", analisa a autora.

Desmentido

Os desmentidos sobre a ligação do sequestro de Diniz com o PT "se tornam mais enfáticos a partir do dia 19 de dezembro de 1989, quando o resultado das eleições já era sabido", cita Diana.

Conti descreve que "as investigações posteriores provaram que nenhum militante do PT estivera envolvido no sequestro de Abílio Diniz, realizado por aventureiros ligados a grupos esquerdistas da América Central. Os sequestradores disseram em juízo que policiais civis os torturaram e, antes de os apresentarem à imprensa, os forçaram a vestir camisetas do PT. A Polícia Civil estava sob o comando do secretário da Segurança, Luiz Antônio Fleury Filho. A vítima, Abílio Diniz, protestou contra a tortura de seus algozes. Quase um ano depois, em outubro de 1990, o governador de São Paulo, Orestes Quércia, superior imediato de Fleury, disse numa entrevista ao Estado de S. Paulo que durante o sequestro 'houve pressões no sentido de que se conduzissem as investigações para envolver o PT'". 

O JB chamou o atrelamento do PT ao drama do executivo de "trama policial". "Segundo o jornal, os advogados dos sequestradores 'denunciaram ontem que a polícia vestiu uma camiseta do candidato à Presidência da República pela Frente Brasil Popular, Luís Inácio Lula da Silva, em um deles e o fotografou, [...] a dois dias das eleições presidenciais". A polícia negou a denúncia dos advogados de armação.

Em O Globo,do dia 19, o ministro da Justiça Saulo Ramos suscita que "os sequestradores podem ter usado a camiseta do PT como disfarce, aproveitando a eleição".

No dia 20, O Globo sai com a manchete "Tuma: sequestro de Abílio não foi político". Na matéria, Romeu Tuma, então Diretor Geral do Departamento de Polícia Federal, admite que a associação do sequestro com o PT pode ter prejudicado Lula no segundo turno das eleições. "Ele admite que a associação entre o sequestro e o PT possa ter prejudicado Lula. O próprio Delegado não viu as supostas camisetas e repudia qualquer ligação do caso com o PT. A informação partiu do secretário de Segurança de São Paulo, Antônio Fleury Filho, e acabou sendo contestado pelos próprios sequestradores [...] Eles afirmaram terem sido obrigados por policiais a vestirem as camisetas após serem presos".

Também no dia 20, a Folha de S. Paulo publicou retranca "'Sequestro pode ter prejudicado Lula', que 'São Paulo foi o único Estado onde Collor cresceu significativamente entre o sábado e o domingo', segundo pesquisa de boca de urna realizada pelo Datafolha".