Por Renato Rovai, jornalista, na Fórum
A Globo fez uma matéria muito acima da sua média na cobertura do parecer da ONU sobre o julgamento de Lula por Sérgio Moro. Mas pra que essa matéria viesse ao ar foram necessárias mais de 30h, o que mostra como a emissora e mídia tradicional piscam quando precisam noticiar algo favorável ao ex-presidente.
O jornalista Jamil Chade revelou o resultado do processo na ONU na quarta pela manhã. A jornalista do grupo Globo, Bela Megale confirmou a notícia ainda no começo da tarde. Mas isso não foi suficiente para que o Jornal Nacional fizesse a matéria ainda na edição daquele dia.
Foi só na quinta à noite que Renata e Bonner anunciaram numa reportagem de 6 minutos o que havia ocorrido. Ouviram um dos especialistas que avaliaram o processo de Lula, relembraram da decisão do STF que acusou suspeição de Moro no processo, mostrou Lula, mas não o entrevistou e deu a palavra final ao “juge voleur” que afirmou que na verdade a ONU só considerou a decisão do STF, não o processo como um todo. Uma mentira absurda já que até um parecer do comportamento psicológico dele foi analisado pelos pareceristas da ONU.
Mesmo levando em consideração que o tratamento editorial poderia ser melhor, a reportagem foi um cavalo de pau editorial. Ela foi mais favorável a Lula do que qualquer outra matéria do Jornal Nacional sobre o ex-presidente. E se analisada dentro do contexto da sinalização de jornalistas como Miriam Leitão e Merval Pereira que já apontaram posição de combate a Bolsonaro nesta eleição mesmo que se para isso venham a ter que engolir o sapo barbudo, a reportagem da Globo sobre o caso ONU/Lula pode indicar uma nova postura da emissora neste 2022.
Nas quatro eleições que o PT venceu com Lula e Dilma foi necessário derrotar a Globo além dos candidatos que foram ao 2º turno. Dessa vez há sinais de que pode vir a ser diferente. Mas isso não significa que no dia seguinte da eleição a Globo não vá para a oposição.
Isso ainda pode mudar? Sim, pode. Mas quando a Globo se mexe para um lado ela costuma não recuar tão rápido. Bolsonaro pode ter conseguido o que parecia impossível, a Globo, sem exageros, pode ir de Lula nesta eleição.