Durante participação na 11ª edição da Brazil Conference, realizada em Harvard, nos Estados Unidos, o ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), saiu em defesa do colega Alexandre de Moraes e criticou duramente o ex-juiz da Lava Jato e atual senador Sérgio Moro (União-PR). Em tom firme, Gilmar rechaçou pedidos de afastamento de Moraes da condução dos inquéritos sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, e afirmou que não há qualquer razão jurídica para que isso ocorra.
“Ele [Alexandre] já era relator desses inquéritos e dos que se agregaram depois. Não está impedido, não é suspeito, não julga em causa própria”, argumentou. E foi categórico ao diferenciar Moraes de Moro: “Não se pode, nem de longe, compará-los. Moro, de fato, se associou a Bolsonaro, já tinha conversas com ele antes das eleições e aceitou ser seu ministro da Justiça”.
As declarações de Gilmar foram feitas em um painel transmitido ao vivo e repercutiram fortemente no Brasil. Em resposta, Sérgio Moro atacou Gilmar ao insinuar relações suspeitas entre o ministro e a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em entrevista ao Estadão.
Gilmar Mendes, um dos críticos mais constantes da Lava Jato nos últimos anos, aproveitou o evento para reforçar sua visão negativa da operação. “Fico muito orgulhoso de ter contribuído para o desmanche da Lava Jato. O que se organizou em Curitiba, lamentavelmente, era uma organização criminosa”, disparou, arrancando reações do público presente.
Segundo o ministro, sua desconfiança sobre a força-tarefa surgiu antes mesmo das revelações da Vaza Jato e da Operação Spoofing. Ele apontou como indício de abuso o uso prolongado de prisões preventivas para forçar delações premiadas. “Isso é um desvio claro de função do Judiciário e do Ministério Público”, afirmou.
Gilmar também ironizou a trajetória de Moro, lembrando de uma conversa com o ex-presidente Jair Bolsonaro, na qual o próprio teria reconhecido o erro ao nomeá-lo como ministro da Justiça. “O grande mérito do Bolsonaro foi tirar Moro de Curitiba e devolvê-lo ao nada”, disse, em tom sarcástico.
Ao abordar o papel institucional do STF, Gilmar rechaçou críticas de que a Corte pratica ativismo judicial. “Se houve ativismo, foi um proativismo que decorre do nosso modelo constitucional. E, em geral, foi para o bem”, avaliou. Ele lembrou ainda que o STF teve papel decisivo durante a pandemia de covid-19, quando tomou decisões que garantiram ações de saúde pública em meio a omissões do governo federal.
Em sua análise sobre a evolução da Corte nos últimos anos, Gilmar destacou que o Supremo deixou de lado decisões monocráticas e passou a atuar de forma mais colegiada. “Esse é um grande aprendizado institucional”, disse. Em tom bem-humorado, comentou a visibilidade dos ministros do STF, comparando-os aos jogadores da seleção brasileira: “Hoje em dia, os 11 ministros são mais lembrados que os 11 da Seleção. Mas, sejamos justos, a seleção não está indo muito bem”, brincou.