Fraude e negligência: o escândalo do Laboratório PCS Saleme e suas conexões políticas no Rio de Janeiro

Dr Luizinho é o líder do Progressistas (PP) na Câmara dos Deputados

O Laboratório PCS Saleme, envolvido em um escândalo de saúde pública no Rio de Janeiro, é acusado de causar a infecção por HIV em seis pacientes transplantados. A falha ocorreu na detecção do vírus HIV em exames realizados em dois doadores de órgãos, cujos órgãos contaminados foram transplantados para vários pacientes. Entre os erros, descobriu-se que o laboratório utilizou de maneira fraudulenta o registro de uma biomédica, Júlia Moraes de Oliveira Lima, que nunca trabalhou no Rio de Janeiro e atualmente reside em Recife, Pernambuco. Júlia, que também atuou em São Paulo antes de deixar a profissão, foi surpreendida ao saber que seu registro havia sido usado indevidamente no escândalo.

O nome da biomédica apareceu em laudos assinados por Jacqueline Iris Bacellar de Assis, outra figura central na fraude, cujo nome sequer consta no registro do Conselho Regional de Biomedicina, levantando dúvidas sobre sua real identidade. O laboratório PCS Saleme também não possui registro junto ao Conselho, o que coloca em cheque a legalidade das suas operações.

Além das irregularidades com os laudos, o caso ganhou contornos políticos devido à ligação familiar entre um dos responsáveis técnicos do laboratório, o ginecologista Walter Vieira, e o deputado federal bolsonarista Luiz Antônio Teixeira Jr. (Dr. Luizinho). Walter Vieira é marido da tia de Dr. Luizinho, ex-secretário estadual de Saúde do Rio e atualmente líder do Progressistas (PP) na Câmara dos Deputados. Essa conexão familiar adicionou um elemento de controvérsia, considerando a influência política do parlamentar e seu histórico no setor de saúde.

Após a descoberta dos erros, as atividades do PCS Saleme foram imediatamente suspensas pela Secretaria Estadual de Saúde. Uma nova empresa foi contratada em caráter emergencial para prestar serviços de análises clínicas sem licitação, enquanto a Fundação Saúde confirmou que um novo contrato, seguindo as regras da lei de licitações, será elaborado. O contrato original com o laboratório, que se estendia de 2022 até setembro de 2024, totalizava R$ 21,5 milhões.

A investigação sobre o laboratório envolve várias autoridades, incluindo o Ministério da Saúde, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a Polícia Civil, a Polícia Federal e o Conselho Regional de Medicina (Cremerj). A fraude foi descoberta em setembro, após um paciente transplantado, que havia testado negativo para HIV antes da cirurgia, apresentar sintomas neurológicos e, posteriormente, testar positivo para o vírus. Outros transplantes envolvendo órgãos dos mesmos doadores também resultaram na transmissão do HIV, incluindo casos em que os receptores de rins e fígado foram infectados.

Esses erros catastróficos e as conexões políticas levantam preocupações sobre a integridade dos serviços prestados pelo laboratório e o papel da supervisão pública em garantir a segurança dos procedimentos de transplante no Brasil.