“Forças ocultas” podem levar Bolsonaro à renúncia

O presidente não tem coragem de demitir o ministro da Saúde, Henrique Mandetta, por temer arcar com o ônus de sua demissão, enquanto a pandemia avança

Foto: República
Jair Bolsonaro poderá renunciar, por força das circunstâncias de agravamento da crise epidêmica da COVID-19

A situação política do presidente Jair Bolsonaro se agrava, a cada minuto, hiato no qual diminui rapidamente sua popularidade, em queda livre, apesar de ainda contar, por enquanto, com o nada desprezível capital que ainda acumula, algo em torno de menos de 30% da população. Porém, até mesmo esse núcleo duro bolsonarista poderá se esvair, caso haja agravamento geral da crise sanitária e econômica provocada pela pandemia da COVID-19. Sendo assim, não é muito difícil prever que o presidente vai terminar renunciando.

A tendência existe e tem sido sinalizada por vários segmentos, da oposição e do próprio governo. O manifesto assinado por lideranças de oposição, como Fernando Haddad, Ciro Gomes, Guilherme Boulos, Flávio Dino e presidentes nacionais de todos os partidos de esquerda, exigindo sua renúncia, é um belo indicativo. Os generais que o rodeiam no Palácio do Planalto também não estão muito satisfeitos com Bolsonaro, que se tornou incontrolável. Esses militares se transformaram em “bombeiros”, apagando incêndios a toda hora.

Jair nunca teve compostura, ética, bagagem intelectual, qualificação técnica, compromisso com a sociedade, entre outros aspectos nada qualificadores, para exercer os cargos que ocupou, ao longo de sua vida profissional e trajetória como parlamentar. Muito menos não o tem, nem nunca terá, para ocupar o de Presidente da República, que é uma instituição em si. Ou seja, ele não respeita, até agora não respeitou e dificilmente respeitará, em momento algum, a liturgia da posição que ora ocupa.

No limite da paciência

Por isso, não é de se admirar que até mesmo esteja no limite a paciência dos generais da ativa – exceto os de pijama, de extrema-direita, bolsonaristas de carteirinha –, que teoricamente assessoram Jair, no Palácio do Planalto. Certamente, há canais de comunicação ativados entre a ala presidencial – e outros setores do governo federal –, o Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e setores do empresariado, que trabalham com o cenário de renúncia, por força das circunstâncias, insuportáveis até agora.

O presidente, em sua cruzada negacionista, pode até ter um ganho fôlego extra, na briga com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que teria contrariado esses generais, ao ter dado declarações, em entrevista ao Fantástico, da Rede Globo, responsabilizando Bolsonaro pelo sinais trocados no combate à epidemia. Ao que parece, a ordem é desconstruir, desmoralizar o ministro, minando, de forma efetiva, as ações do governo federal no sentido de combater as consequências da pandemia da COVID-19 no Brasil.

O objetivo seria ridicularizar Mandetta, até ele tomar a iniciativa de pedir demissão do próprio posto ministerial. Ficaria fácil acusá-lo de abandonar o País no momento mais necessário da história, em nome de motivações menores referentes a orgulho ferido, oportunismo político-eleitoral, insubordinação, etc. Mas o ministro teria o antídoto: ficar, dobrar a aposta na falta de coragem de arcar com o ônus de sua exoneração, a ser assumido por Bolsonaro, e criticar o chefe, por contrariar as recomendações da OMS e propagar o genocídio.