Os pesquisadores Tatiana Brasil, Nilson Zanchin e a doutoranda Stephanie Bath de Morais, do Instituto Carlos Chagas (ICC), fizeram uma descoberta inovadora no campo do tratamento da Leucemia Linfoide Aguda (LLA), o tipo de câncer mais comum entre crianças. Eles desenvolveram uma versão modificada da enzima asparaginase, que torna o tratamento mais eficaz e com menos efeitos colaterais tóxicos.
Essa pesquisa já resultou em patentes concedidas na China e nos Estados Unidos em 2024, e as patentes estão em processo de análise no Canadá, Índia e União Europeia.
A asparaginase é utilizada no tratamento da LLA desde a década de 1970 e é extraída de uma bactéria. Embora seja eficaz, ela provoca fortes reações imunológicas e outros efeitos adversos no organismo. A solução desenvolvida pelo ICC, vinculado à Fiocruz Paraná, propõe o uso de uma versão modificada da asparaginase humana, o que potencializa os benefícios terapêuticos enquanto minimiza os efeitos indesejados.
Tatiana Brasil, uma das pesquisadoras, explica: “A asparaginase utilizada atualmente no tratamento é a mesma desde os anos 1970, com poucas inovações. Nossa abordagem foi modificar a versão humana da enzima para garantir um efeito terapêutico mais eficaz, sem causar tantas reações adversas.”
O projeto começou em 2013, quando o Brasil enfrentava a necessidade urgente de alternativas devido à ameaça de desabastecimento do medicamento importado. Durante a pesquisa, os cientistas perceberam que, embora a asparaginase humana produzida em laboratório fosse eficaz em teoria, sua atividade inicial não era suficiente para degradar a asparagina, um aminoácido essencial para o crescimento das células cancerígenas.
Atualmente, a asparaginase utilizada no Sistema Único de Saúde (SUS) é importada. No entanto, essa descoberta abre a possibilidade de produção nacional da enzima. Além de reduzir a dependência de importações, isso pode diminuir os custos do tratamento, ampliando o acesso e permitindo que mais crianças e adultos sejam atendidos.
Tatiana ressalta que a nova enzima também pode se tornar uma alternativa terapêutica de primeira linha para adultos, que normalmente têm uma resposta imunológica mais intensa à asparaginase bacteriana. "O impacto pode ser ainda maior do que imaginávamos", conclui Tatiana.