"Marielle Franco Peneira", "Lula Ladrão", "Vacina Mata" ou "Bolsonaro 2022": quem acessou o aplicativo do iFood, ontem a noite, encontrou nomes de restaurantes e estabelecimentos comerciais alterados com ofensas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e à ex-vereadora Marielle Franco (1979 -2018), além de falas negacionistas contra as vacinas. O episódio levou o nome da empresa a um dos assuntos mais comentados no Twitter.
Em nota, o iFood explica que 6% dos estabelecimentos cadastrados sofreram a alteração, mas a rede não especifica a origem do problema. No comunicado, a empresa diz ainda que tomou "medidas imediatas para sanar o problema e proteger os dados de restaurantes, consumidores e entregadores".
A invasão do aplicativo iFood por bolsonaristas foi comentada pelo jornalista Leonardo Sakamoto, em seu facebook. Veja:
No Dia de Finados, nesta terça (2), nomes de alguns estabelecimentos listados no aplicativo iFood foram alterados para "Marielle Franco Peneira", entre outros. A empresa afirma que isso ocorreu a partir da conta de um funcionário de uma prestadora de serviços, que tinha permissão para ajustar informações cadastrais.
A vereadora Marielle Franco foi executada junto com seu motorista, Anderson Gomes, após o carro em que estavam ser alvo de uma emboscada em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro. Ela recebeu quatro tiros na cabeça, ele três, nas costas. O crime covarde segue sem punição.
Desde seu assassinato, Marielle vem sendo alvo do ódio nas redes sociais e aplicativos de mensagens da extrema direita. O que aconteceu no iFood não foi um fato isolado, mas um breve afloramento de um lençol freático de esgoto que segue borbulhando no subterrâneo da sociedade.
Mentiras, como ela ter sido financiada pelo Comando Vermelho ou casada com o traficante Marcinho VP, foram bombadas por grupos que militam contra a esquerda, sendo compartilhadas até por um deputado e uma desembargadora. Memes sobre a execução da vereadora ainda são recorrentes em grupos bolsonaristas, parte dos quais celebrou a alteração no iFood.
Além do escárnio com a execução da ativista pelos direitos das mulheres, dos negros, da população LGBTQIA+ e de minorias, ou seja, tudo o que parte do bolsonarismo despreza, estabelecimentos comerciais no iFood também foram renomeados para "Lula Ladrão", "Bolsonaro 2022", "Vacina Mata" e "Petista Comunista".
De acordo com nota, a empresa identificou que aproximadamente 6% dos estabelecimentos foram afetados. "O acesso da prestadora de serviço foi imediatamente interrompido, e os nomes dos restaurantes já estão sendo restabelecidos", afirma.
Marielle segue incomodando a extrema direita mais de três anos após sua morte.
Uma das fontes para a paranoia do bolsonarismo contra Marielle é o próprio presidente da República. E não apenas porque milícias, grupos de policiais criminosos que são por ele incensados, podem ser os mandantes do crime. Há questões psicanalíticas mais profundas.
Por exemplo, em 26 de maio do ano passado, Jair resolveu fazer uma sessão de terapia na porta do Palácio do Alvorada, demonstrando ciúmes do tratamento dado à vereadora.
"Quando levei a facada, eles não falaram nada. Não vi ninguém da Folha falando 'quem matou o Bolsonaro?' Pelo contrário, levo pancada o tempo todo. Se for pegar o número de horas que a Globo fez para Marielle e no meu caso, acho que dá 100 para um, mas tudo bem", disse.
Primeiro, é necessário lembrar a Bolsonaro que ele não morreu. Segundo, houve grande repúdio nos grandes veículos de imprensa ao abominável atentado que sofreu. Terceiro, a Polícia Federal chegou à conclusão de que Adélio Bispo agiu como um lobo solitário contra ele, mas a morte de Marielle ainda não chegou a uma solução. O que a polícia afirma é que ela foi executada em um esquema profissional que envolveu até matador de aluguel - vizinho do presidente, aliás.