Na coluna publicada no UOL, o jornalista Reinaldo Azevedo aborda a turbulência que domina os bastidores da extrema-direita brasileira. Segundo ele, Jair Bolsonaro, antigo líder incontestável desse espectro político, parece tentar salvar sua relevância ao anunciar, em entrevista à CNN, a possibilidade de lançar sua esposa, Michelle Bolsonaro, como candidata à Presidência da República em 2026. Porém, há uma condição: Bolsonaro assumiria a chefia da Casa Civil em um eventual governo liderado por Michelle.
O plano Michelle: solução ou desespero?
Azevedo interpreta essa movimentação como uma admissão indireta de que o ex-presidente, envolvido em diversas investigações e processos judiciais, já não vê sua candidatura como viável. Ao mesmo tempo, ao sugerir Michelle, Bolsonaro busca manter sua influência central dentro do movimento de extrema-direita, que começa a se fragmentar diante da falta de coesão.
O colunista ressalta que a escolha de Michelle não é apenas estratégica, mas também simbólica. Ela representa uma figura de "renovação" e "pureza", algo que Bolsonaro tenta usar como antítese às acusações de corrupção e ilegalidades que marcaram sua gestão. No entanto, a iniciativa de lançar a esposa para 2026 também pode ser um reflexo do desespero em conter as "costelas revoltosas" do bolsonarismo – lideranças que começam a desafiar seu protagonismo.
Tarcísio e Nikolas: as disputas internas
Dentro desse cenário, Reinaldo Azevedo também aponta o crescente mal-estar entre figuras que, até então, orbitavam o núcleo bolsonarista. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e considerado um dos nomes mais fortes para 2026, tem sido alvo de críticas do próprio Bolsonaro, que aparentemente busca minar qualquer candidatura que não seja controlada diretamente por ele.
Outro nome citado é o de Nikolas Ferreira, deputado federal e estrela da nova geração bolsonarista. Nikolas tem ganhado destaque, especialmente entre os mais jovens, mas sua ascensão incomoda Bolsonaro, que parece pouco disposto a compartilhar o palco político. Para Azevedo, essa desconfiança em relação aos aliados só agrava a crise de liderança na extrema-direita, que já enfrenta desafios de coordenação desde a derrota de Bolsonaro em 2022.
Desorganização e desorientação
A falta de um plano coeso para a sucessão presidencial revela o estado de perplexidade dentro do movimento. Reinaldo Azevedo destaca que a extrema-direita, antes unificada em torno da figura de Bolsonaro, agora se divide entre lideranças que buscam afirmar sua própria relevância. Nesse contexto, a tentativa de Bolsonaro de "legar o trono" a Michelle pode acabar acirrando ainda mais as disputas internas e enfraquecendo o grupo como um todo.
Reflexão final
Segundo Azevedo, a estratégia de Bolsonaro em lançar Michelle como candidata não só sublinha as limitações jurídicas e políticas que ele próprio enfrenta, como também evidencia uma extrema-direita aturdida e sem norte. Para o colunista, longe de ser uma solução para os problemas do movimento, a iniciativa é mais um sintoma de sua crise existencial, marcada pela incapacidade de lidar com as novas realidades políticas do país.