O caso de Lucélia Maria da Conceição Silva, 53 anos, vítima de um plano orquestrado por um casal que levou à morte de oito pessoas em Parnaíba (PI), revela o impacto devastador de uma prisão injusta. O advogado de defesa, Sammai Cavalcante, questionou: “Quanto valeria passar um dia preso sendo inocente?”. Lucélia ficou quase cinco meses atrás das grades, na penitenciária feminina de Teresina, após ser acusada de envenenar duas crianças com cajus, um crime que nunca cometeu. A defesa agora busca uma indenização de cerca de R$ 300 mil, que visa não apenas compensar os danos materiais, mas também os danos morais sofridos pela idosa.
Durante sua prisão, Lucélia enfrentou um período de extremo sofrimento. Cavalcante descreveu a situação da cliente, destacando ameaças constantes e o total desgaste emocional que ela sofreu. “Ela não conseguia dormir e sofreu ameaças veladas e diretas, apesar da segurança proporcionada pela penitenciária”, relatou o advogado. A situação se agravou ainda mais com a destruição de sua casa, incendiada por populares logo após sua prisão, uma perda que a defesa avalia em R$ 300 mil, de acordo com uma perícia realizada. O valor, porém, pode variar, dependendo da decisão da Procuradoria do Estado ou do Judiciário.
O advogado também enfatizou que, além do dano material, o sofrimento emocional de Lucélia é inestimável. “Esse pedido de indenização é um direito dela, pois a Constituição garante reparação quando há violação dos direitos de alguém, especialmente quando a responsabilidade é do Estado”, afirmou Cavalcante.
Lucélia foi presa em agosto de 2024, após ser acusada de envenenar os meninos Ulisses Gabriel, de 8 anos, e João Miguel, de 7 anos. No entanto, após a realização de perícias, foi comprovado que não havia veneno nos cajus que ela havia dado às crianças. Ela foi libertada em janeiro de 2025. A verdadeira autoria do crime, que resultou na morte de mais seis pessoas, foi atribuída a Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, e sua esposa Maria dos Aflitos da Silva, de 52, avós das crianças e responsáveis pelo envenenamento.
A prisão de Lucélia foi marcada por um erro grave do sistema de justiça, que, ao basear-se em falsas acusações, levou a mulher a ser tratada como culpada antes mesmo de uma investigação aprofundada. Durante o período de detenção, a casa de Lucélia foi destruída e ela enfrentou a humilhação pública, sendo alvo de violência física e psicológica. Atualmente, ela vive com o companheiro, que tem deficiência visual, e enfrenta dificuldades financeiras, pagando aluguel de R$ 400, que é subtraído de sua aposentadoria de um salário mínimo.
O caso gerou apoio até mesmo de pessoas de outros estados, embora a Justiça ainda não tenha declarado oficialmente Lucélia inocente. O advogado de defesa também anunciou que pedirá a antecipação do julgamento para a extinção do processo, buscando garantir que a mulher seja formalmente absolvida. O secretário estadual de Segurança, Chico Lucas, afirmou que Lucélia tem o direito de pedir a indenização, mas ressaltou que a prisão preventiva foi uma medida legal no contexto das investigações.
Lucélia, agora livre, busca reconstruir sua vida e retomar sua dignidade, após meses de sofrimento e injustiça. O pedido de indenização material e moral é um passo importante para reparar os danos causados, mas a lembrança do que ela viveu permanece como um triste lembrete das falhas do sistema judiciário e das consequências de uma acusação equivocada.