Francisco de Assis Pereira da Costa, de 53 anos, foi preso temporariamente na manhã desta quarta-feira (8), acusado de envenenar uma refeição que resultou na morte de quatro pessoas e intoxicou outras cinco em Parnaíba, no litoral do Piauí, durante a ceia de Ano-Novo. Entre as vítimas fatais estão os enteados de Francisco, Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, e Francisca Maria da Silva, de 32 anos, além de dois netos dela, Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses, e Lauane da Silva. Uma criança de 4 anos permanece internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT).
O delegado Abimael Silva, da Delegacia de Homicídios de Parnaíba, afirmou durante coletiva de imprensa que o veneno utilizado foi terbufós, um pesticida encontrado na panela usada para preparar o arroz da refeição. Segundo ele, as investigações apontaram contradições nos depoimentos do suspeito, que mudara sua versão dos fatos diversas vezes. Inicialmente, Francisco negou ter consumido a comida, mas depois admitiu ter ingerido parte da refeição. A análise das circunstâncias indicou que não houve acesso de terceiros à residência, levando os investigadores a focarem nos conflitos internos da família.
Francisco tinha um histórico de hostilidade em relação à família da esposa, Maria dos Aflitos. De acordo com relatos, ele nutria ódio particular por Francisca Maria, chamando-a de "tola", "matuta" e "praticamente inútil". Também manifestava desprezo pelos filhos dela, referindo-se a eles como "primatas" e criticando sua higiene pessoal. “Ele não falava com nenhum dos enteados e deixou claro, mesmo nos depoimentos, que seu sentimento de ódio por Dona Francisca era inabalável, até mesmo no leito de morte dela”, destacou o delegado.
Durante buscas na casa do suspeito, a polícia encontrou um baú trancado, cuja chave Francisco mantinha em um colar. No interior do baú, havia materiais que exaltavam a figura de Adolf Hitler e conteúdos relacionados ao nazismo, embora Francisco tenha negado ser adepto da ideologia. Esses materiais serão analisados para compreender a personalidade e possíveis motivações do acusado.
Na noite de Réveillon, a família compartilhou uma refeição preparada em casa. Horas após o jantar, todos começaram a passar mal. Francisco também foi hospitalizado, mas seu atendimento ocorreu quatro horas depois dos demais, o que levantou suspeitas sobre a manipulação do alimento. “Esse atraso foi fundamental para nossas investigações, pois indicava que ele poderia ter consumido o veneno de forma calculada”, explicou o delegado.
O suspeito também demonstrou comportamento contraditório ao participar do velório das vítimas e conceder entrevistas à imprensa, aparentando estar abalado, mesmo sendo o principal acusado. Segundo testemunhas, ele mantinha um relacionamento conturbado com a avó das crianças e outros membros da família.
A mãe de Francisco, Maria da Costa Silva, defendeu o filho, alegando que a própria Francisca Maria teria preparado a refeição contaminada antes de tirar a própria vida. Segundo ela, Francisca estava abalada pela perda do ex-marido e dos filhos mais velhos, mortos em 2024 após consumirem cajus envenenados com chumbinho, em um caso já encerrado judicialmente. Maria também afirmou que Francisco consumiu o alimento contaminado e chegou a ser internado no hospital, embora tenha recebido alta no dia seguinte.
Francisco de Assis está preso temporariamente por 30 dias, prazo que pode ser prorrogado enquanto as investigações avançam. A polícia continua analisando evidências materiais e depoimentos para esclarecer completamente os motivos e a dinâmica do crime. “Estamos diante de um caso de extrema gravidade. A presença de material nazista é um elemento importante para entender o comportamento do suspeito e as razões por trás de um ato tão bárbaro”, concluiu o delegado.