Entendendo a pesquisa Datafolha divulgada ontem

Os números não são bons para Bolsonaro

Foto: Divulgação
Lula

Ciristas mudam para Bolsonaro

A pesquisa presidencial Datafolha divulgada ontem revela que parte do eleitorado de Ciro Gomes (PDT) pode já estar mudando o voto para Jair Bolsonaro (PL) - ou ao menos cogita fazê-lo. 

Segundo o levantamento, o número de eleitores de Ciro que têm Bolsonaro como segunda opção de voto disparou: eram 24% no Datafolha de 1º de setembro e, agora, são 30% - um aumento de 6 pontos percentuais. Já os apoiadores do candidato do PDT que têm Lula (PT) como segunda opção representavam 35%, e agora são 33%. 

O dado pode ser efeito direto da uma estratégia de ataques de Ciro ao ex-presidente Lula (PT), seu antigo aliado. O pedetista vem adotando um discurso cada vez mais parecido com o de Bolsonaro.

Esse movimento pode ter refletido em outro dado da nova pesquisa, talvez o mais relevante desta rodada: Bolsonaro, que tinha 32% das intenções de voto, ganhou 2 pontos percentuais e foi a 34%. Paralelamente, Ciro perdeu os mesmos 2 pontos percentuais: tinha 9% e agora aparece com 7%. Lula, por sua vez, manteve os mesmos 45% de intenções de voto que já tinha no último estudo. 

7 de setembro

O movimento autoritário e criminoso desatado por Jair Bolsonaro (PL) no feriado do Bicentenário da Independência do Brasil, quando o presidente sequestrou a data cívica nacional para transformá-la num comício eleitoral para seus radicais, não lhe rendeu qualquer resultado.

O Datafolha mostrou que o líder de extrema-direita não transferiu a adesão das ruas para as urnas, tendo mais uma vez pregado (odiosamente) para seus convertidos extremistas.

A campanha de Lula também fez essa leitura. Para integrantes de seu séquito político, a permanência do índice do petista e um breve crescimento na margem de erro por Bolsonaro podem ser lidos como um tiro na água por parte atual mandatário, após tamanha gritaria com seus atos de 7 de Setembro.

Por fim, as análises gerais do novo Datafolha permanecem desembocando na mesma conclusão: o cenário eleitoral é de profunda estabilidade, de tendências cristalizadas, com 86% dos eleitores de Lula cravando que não mudam de voto de jeito nenhum e 83% de Jair Bolsonaro dizendo o mesmo.

Rejeição

O Datafolha mostrou mais uma vez um sério problema, persistente, na campanha de Jair Bolsonaro (PL) pela reeleição: a rejeição. Embora nas intenções de voto o atual mandatário tenha subido 2%, enquanto Lula (PT) se manteve estável, o número de brasileiros que não votariam nele em hipótese alguma chegou a 51%, em face aos 39% de seu adversário de esquerda.

Mulheres e Nordestinos

A pesquisa mostrou um recorte que, com sua consolidação, possivelmente será decisivo para que Lula (PT) derrote o presidente Jair Bolsonaro (PL) em outubro, ainda que não esteja claro se isso ocorrerá no 1° ou 2° turno do pleito: a vantagem massacrante do petista entre as eleitoras e entre a população dos estados do Nordeste.

O desempenho de Lula entre as mulheres, que representam quase 53% do total de eleitores do Brasil, é de 47% contra minguados 29% de Bolsonaro. Elas representam 82 milhões de votantes na eleição deste ano e o candidato à reeleição não consegue conquistar sequer um terço desse coeficiente.

Outro recorte que tira o sono Jair Bolsonaro é o de suas intenções de voto no Nordeste. Região formada por nove estados, que somados representam mais de 27% dos eleitores de todo o país, é lá que o líder de extrema-direita tem seu desempenho mais vexatório. Lula tem 60% da preferência dos votantes, contra seus ínfimos 23%. São 36 milhões de eleitores, dos quais, por esses números, quase 28 milhões optariam por Lula (obviamente há um índice de votos brancos, nulos e de eleitores que não comparecerão para votar).

Com uma rejeição gritante de 51%, com a qual um presidente jamais foi eleito ou reeleito na história do Brasil, e sem conseguir avançar significativamente nas camadas mais pobres, que recebem entre um e dois salários mínimo, Jair Bolsonaro bate no teto. Como Lula segue fixo como uma rocha com 45% das intenções do voto no 1° turno, o que significa que seu adversário não lhe tira votos, e Bolsonaro patina com o segmento feminino após quatro anos de machismo e misoginia extremos e dos mais recentes rompantes de autoritarismo contra jornalistas e candidatas, o postulante à reeleição fica sem ter de onde extrair novos eleitores para reverter a grande vantagem do petista, que embora tenha diminuído nos últimos meses, é um oceano se o objetivo almejado for ultrapassá-lo.

Mais Pobres

Lula também segue liderando com folga entre os eleitores mais pobres. 54% dos entrevistados pela pesquisa que ganham até dois salários mínimos declararam ter intenções de votar no petista em 2 de outubro. Jair Bolsonaro (PL) têm cerca de 26% na faixa.

Além disso, Lula também marca maior presença entre os eleitores menos instruídos, com 56% das intenções de votos contra 26% do atual presidente.

Já o atual presidente tem a preferência dos eleitores que ganham de 5 a 10 salários mínimos com 49% dos votos, contra 34% de Lula. Bolsonaro também vence, com 42% das intenções de votos contra 29% do adversário, entre os eleitores que ganham mais de 10 salários mínimos.

A pesquisa Datafolha entrevistou 2676 eleitores em 191 cidades brasileiras entre os dias 8 e 9 de setembro. Encomendada pela Folha e pela TV Globo, a pesquisa buscou medir as oscilações nas intenções de votos causadas pelo aparelhamento do presidente Bolsonaro em relação às comemorações dos 200 anos de Independência do Brasil na última quarta-feira (7).

Com informações da Fórum