Eles tinham histórico de atleta. E morreram de covid-19

Os números de esportistas que estão morrendo durante a pandemia coloca em xeque o discurso negacionista do presidente Jair Bolsonaro

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Roseli Machado e Fábio Torrecillas, atletas brasileiros vítimas da covid-19

A covid-19 tem vitimado atletas brasileiros. Nessa quinta-feira (08), a campeã da corrida de São Silvestre - a mais importante corrida de rua do Brasil - perdeu a vida por complicações do coronavírus. Roseli, de 52 anos, estava intubada havia duas semanas, em um hospital de Curitiba. Além de conquistar a tradicional São Silvestre de 1996, ela representou o Brasil nos Jogos Olímpicos de Atlanta, no mesmo ano.

“Roseli teve uma história no atletismo brasileiro, venceu a São Silvestre, integrou a seleção brasileira, treinou nos Estados Unidos. Nós tínhamos uma grande amizade, fomos atletas pelo mesmo clube, treinamos juntos quando eu era juvenil, defendemos Londrina no começo das nossas carreiras. Estou muito sentido, vem as lembranças. Treinamos juntos na pista de Londrina quando era de saibro ainda”, disse Wlamir Motta Campos, presidente da CBAT.

Fábio Torrecillas, triatleta de 40 anos, morreu no último dia 20 com complicações em decorrência da covid-19, em Maringá, no Paraná. O atleta havia conseguido completar por três vezes seguidas o Ironman Brasil, maior circuito de triatlo da América Latina. Antes de ser diagnosticado com a covid, se preparava de seis a oito horas por dia para a travessia do Leme ao Pontal - mais de 30 quilômetros de natação.

Os números de esportistas que estão morrendo durante a pandemia coloca em xeque o discurso negacionista do presidente Jair Bolsonaro. Em abril do ano passado, o dirigente do Planalto disse que a chance de um atleta morrer é “infinitamente” pequena.

Na ocasião, em defesa da retomada do futebol brasileiro, Bolsonaro isentou os jovens do agravamento da infecção justificando que “por serem jovens e com boas condições físicas”, o risco de letalidade seria menor. Anteriormente, no mês de março, em pronunciamento em rede nacional, o presidente afirmou que “nada sentiria” se fosse infectado pela covid-19 por ter “histórico de atleta”, teria no máximo “uma gripezinha ou resfriadinho”. 

Recentemente, um dos seus aliados na política, o ex-professor de educação física e atleta de Decatlo, senador Major Olimpio, 58 anos, não resistiu aos agravamentos da covid-19. O parlamentar também fez parte da Academia do Barro Branco da Polícia Militar de São Paulo. O presidente Bolsonaro não se pronunciou sobre o falecimento do senador.

Outros profissionais de modalidades esportivas que sobreviveram à infecção relataram o sofrimento durante os dias que enfrentaram a doença. O jogador de basquete, Leandro Barbosa, conhecido como Leandrinho, de 37 anos, disse ter pensado que “iria morrer” ao encarar os sintomas da covid-19.

Nadador com capacidade pulmonar para ganhar medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2012, o atleta Cameron van der Burgh, relatou ter enfrentado dificuldades no tratamento quando contraiu a covid-19.“É, de longe, o pior vírus que já encarei, apesar de ser um indivíduo saudável com pulmões fortes e viver um estilo de vida saudável e ser jovem”, disse na época em suas redes sociais.

O Brasil já registra 341 mil mortes de brasileiros pela covid-19. Na terça-feira (06), o Ministério da Saúde registrou 4.195 casos de mortes por coronavírus em 24 horas.