Conspirando nos EUA com dinheiro público, enquanto abandona seu mandato na Câmara dos Deputados, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) anunciou nesta segunda-feira (24) que está articulando com o deputado trumpista Richard McCormick, do partido Republicano da Georgia, a imposição de sanções ao Brasil.
Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do ditador João Baptista Figueiredo que foi denunciado pela tentativa de golpe, se encontraram com McCormick. O deputado brasileiro, que está nos EUA, tem mantido uma relação constante com o colega trumpista para articular os ataques ao Brasil.
Em publicação na rede X na noite desta segunda, Eduardo revelou que, em conluio com o estadunidense, quer que Donald Trump imponha sanções ao Brasil utilizando a Lei Magnitsky, de 2012, usada pelos EUA contra aqueles que considera infratores dos direitos humanos.
"Agradeço a menção ao meu pai, Pres. Jair Bolsonaro, e o apoio do nobre Deputado americano Richard McCormick (Rep.-Georgia). A perseguição política enfrentada hoje no Brasil, através da 'LAWFARE' (guerra judicial), está envergonhando nosso Brasil diante do mundo. É lamentável ver que as sanções Magnitsky, normalmente reservadas para DITADURAS e violadores de direitos humanos, agora estão sendo consideradas contra autoridades do nosso país", diz Eduardo, como se não tivesse articulada a sanção ao Brasil com o deputado estadunidense.
O conluio foi tanto, que o comentário se deu sobre uma publicação de McCormick feita na rede X menos de uma hora antes.
"O Juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes está armando o judiciário para fraudar a eleição de 2026, silenciando a oposição e protegendo o Presidente Lula. A acusação de Jair Bolsonaro não é justiça — é perseguição política, assim como o que foi feito ao Presidente Trump", diz o deputado americano, propagando a narrativa bolsonarista e ressaltando que "Moraes também é uma ameaça aos EUA, censurando empresas americanas, suprimindo a liberdade de expressão e violando a soberania digital".
"Peço ao governo Trump e ao Congresso que imponham sanções Magnitsky, proibições de visto e penalidades econômicas. Os EUA devem defender a democracia, a liberdade de expressão e o estado de direito — antes que seja tarde demais", emendou McCormick.
Um pouco antes de Eduardo, Jair Bolsonaro foi às redes e comemorou a publicação, agradecendo "a solidariedade e consideração" do deputado republicano.
"É triste o que nosso país vem passando ultimamente. Esperamos que não chegue a um ponto mais extremo, por conta de alguns que se consideram deuses e acima da lei, colocando em risco toda a estrutura do nosso amado país. Deus os abençoe", afirmou o ex-presidente denunciado por golpe de Estado.
Bolsonaro também agradeceu ao senador republicano Mike Lee, do Arizona, que anunciou que viajará "para o Brasil no final deste ano com alguns dos meus colegas do Senado e pretendo fazer algumas perguntas difíceis sobre o Juiz Alexandre de Moraes e a suposta instrumentalização política do sistema judiciário brasileiro".
"Muito obrigado, Senador Mike Lee. Infelizmente, o Brasil foi convertido em um laboratório de ativismo judicial, abusos de poder e aplicação seletiva da lei para fins políticos", escreveu Bolsonaro às 23h46.
"Sua visita ao Brasil será fundamental para expor essa realidade ao mundo. Como jurista é constitucionalista, sua participação como amicus curiae ou observador desse processo, também seria muito útil à causa da democracia e do Estado de Direito no Brasil", emendou.
Conspiração contra o Brasil
Eduardo Bolsonaro, que já afirmou que abandonou o trabalho na Câmara para se dedicar à conspiração nos EUA para beneficiar seu pai, tem se reunido frequentemente com parlamentares e políticos ligados a Trump para conduzir um levante para achacar autoridades brasileiras, em especial Alexandre de Moraes, e tentar livrar o ex-presidente da cadeia.
No dia 11 de fevereiro, Eduardo esteve com Paulo Figueiredo no gabinete de McCormick, segundo o filho de Bolsonaro, "um grande aliado na causa da liberdade a ajudando o Brasil no processo de resgate da democracia".
Dois dias depois, Eduardo compartilhou uma publicação de McCormick, dizendo que "o senhor e sua equipe têm sido incríveis" e que "nossos ideais convergem e nosso trabalho está apenas começando".
"Foi ótimo conversar com meu amigo e guerreiro Eduardo Bolsonaro", escreveu o deputado republicano propagando fake news divulgada por Elon Musk sobre "ajuda da Usaid [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional] para interferência eleitoral no Brasil".
No fim da noite desta segunda-feira, Bolsonaro também agradeceu a Elon Musk que compartilhou a publicação do senador Mike Lee sobre a "visita" ao Brasil no final do ano: "good", escreveu o bilionário.
"Hugs from Brazil, @elonmusk", comentou Bolsonaro, mandando abraços em inglês.
Com informações da Fórum
O conspirador do Brasil colônia
Desde 1711, Portugal passou a exigir altas taxas dos mineradores do Brasil colônia. Anos depois foi criada a Intendência das Minas, uma administração subordinada diretamente a Lisboa. O pagamento do “quinto” foi estabelecido pela Fazenda Real, correspondente a um quinto do total do ouro extraído. Foram criadas as Casas de Fundição, onde o ouro taxado recebia um carimbo, como a única forma de poder circular. Por fim, uma atitude mais drástica para acabar com a fuga das mãos reais de uma grande parte dos tributos, fixou-se uma cota anual mínima para assegurar o quinto: 100 arrobas, 1 500 kg de ouro. Se os tributos não atingissem essa quantia, a população teria que complementar a soma estipulada - era a “derrama”.
No período áureo da mineração, as derramas eram feitas num clima de pavor e violência. A população vivia revoltada, mas com o quase esgotamento das minas e com a situação precária de Vila Rica (atual Ouro Preto), ameaçada de uma derrama violenta, os inconfidentes, entre eles, o tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade, os poetas Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, marcaram um levante para a ocasião da derrama de 1789.
Joaquim Silvério dos Reis, informado do levante, escreveu uma carta de delação, em 11 de abril de 1789, ao governador de Minas Gerais, Visconde de Barbacena, alertando as autoridades coloniais para a existência de um movimento em Vila Rica, que pretendia proclamar a República e libertar o Brasil de Portugal. A derrama foi suspensa e os principais líderes foram presos. Tiradentes foi executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, tendo sido declarados infames a sua memória e os seus descendentes. Sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, tendo sido rapidamente cooptada e nunca mais localizada; os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do Caminho Novo: Santana de Cebolas (atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (antiga Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde fizera seus discursos revolucionários. Arrasaram a casa em que morava, jogando-se sal ao terreno para que nada lá germinasse.
Como prêmio o delator Silvério dos Reis, cobrou o preço de seu serviço: uma certa quantidade de ouro, o perdão das dívidas fiscais, a nomeação para o cargo de Tesoureiro das províncias de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro, uma mansão para moradia, pensão vitalícia, título de Fidalgo da Casa Real, fardão e hábito da Ordem de Cristo, um encontro em Lisboa com o Príncipe Regente Dom João. Não se sabe se as promessas foram cumpridas.
Silvério dos Reis sofreu atentados no Brasil porque sua fama de traidor correu rápida, com o que fugiu para Lisboa, voltando ao Brasil em 1808. Foi para o Maranhão, onde sua mulher tinha raízes e lá faleceu em fevereiro de 1819.