E tudo termina em pizza: Temer costura acordão para beneficiar Tarcísio de Freitas

STF e Congresso estão juntos nessa

Mais uma vez, o Brasil assiste ao desfecho de uma grave crise institucional sem qualquer responsabilização real dos culpados. Como em tantas outras ocasiões da história recente, a impunidade é a regra — e o “grande acordo nacional” ressurge das sombras, agora com um novo protagonista: Tarcísio de Freitas, o nome escolhido pelos bastidores do poder como terceira via da elite econômica contra Lula em 2026.

A articulação, revelada pela Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (28), envolve uma costura escandalosa entre os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, e ministros do Supremo Tribunal Federal. O objetivo: aprovar uma lei que reduza as penas de condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 — tudo travestido de um suposto endurecimento contra lideranças de golpes de Estado.

Nos bastidores, o ex-presidente Michel Temer — conhecido articulador de bastidores e maestro do impeachment de 2016 — ressuscita como operador-chave dessa aliança indecorosa entre Centrão, Faria Lima, setores militares e mídia liberal. A proposta, apresentada como saída institucional à crise do bolsonarismo, nada mais é que uma manobra para limpar o caminho da sucessão presidencial, neutralizando Jair Bolsonaro e preparando o terreno para Tarcísio.

Não se trata apenas de reduzir penas ou apaziguar ânimos no Congresso. O que está em jogo é um projeto político de longo alcance. A elite brasileira, desiludida com Bolsonaro, parece ter escolhido seu novo cavalo: Tarcísio, que conquistou o entusiasmo do mercado ao leiloar a Sabesp com fanfarronice privatista. É ele quem encarna, agora, os anseios da burguesia por continuidade do projeto neoliberal sem o desgaste do bolsonarismo.

Nesse teatro de cinismo, o STF — outrora pilar de resistência institucional — se presta a avalizar a operação. Ministros da Corte participam das negociações que buscam apagar ou atenuar as responsabilidades criminais de centenas de envolvidos no 8 de Janeiro, com base em teses jurídicas frágeis como a dos “crimes de multidão”. Os técnicos do Senado já elaboram as minutas que permitirão essa reengenharia penal a toque de caixa.

O cálculo político é claro: deixar Bolsonaro apodrecer na irrelevância, isolado e sem anistia, enquanto se oferece clemência aos seus seguidores para dissolver a base do bolsonarismo e evitar turbulências institucionais. Mas a narrativa de que o ex-presidente será punido enquanto os fanáticos serão apenas “reeducados” é, na melhor das hipóteses, um afago ao autoritarismo. Na prática, estamos diante de um perigoso precedente: o da institucionalização do golpismo como algo passível de negociação política.

Esse "acordão" é mais do que vergonhoso. Ele revela que as estruturas de poder no Brasil seguem operando sob a lógica da autopreservação. Congresso, STF e setores da mídia que se dizem defensores da democracia agora operam juntos para apagar rastros e garantir que a elite mantenha o controle do jogo, custe o que custar.

Enquanto isso, a democracia — sempre invocada em discursos solenes — continua sendo tratada como moeda de troca. A história se repete: as instituições brasileiras, em vez de corrigirem as falhas do passado, preferem mais uma vez selar a impunidade com tinta fresca sobre a Constituição.