E o Drauzio Varella capitulou

No fim, a Globo se desculpou da matéria de Drauzio Varella e até o Drauzio Varella se desculpou.

Foto: Mais Goias
As hordas da vingança e do medo comemoram. Saíram vitoriosos.

Por Gustavo Conde, no facebook

No fim, a Globo se desculpou da matéria de Drauzio Varella e até o Drauzio Varella se desculpou.

É estarrecedor.

Nem o próprio Drauzio entendeu a verdadeira dimensão do humano que ele trata em seu histórico trabalho junto aos presos.

Certamente, ficou assustado com o volume de ódio que lhe foi dirigido nas redes.

Mas, é lamentável que cheguemos ao ponto de comprar a tese da vingança que paira na sociedade brasileira, para seguir em frente.

Porque pedir desculpas por aquela matéria é legitimar esse desejo de vingança.

Eu vou lembrar aqui da morte do menino João Hélio no Rio de Janeiro, em 2007, quando depois de um assalto, ele ficou preso no cinto de segurança para fora do carro e foi arrastado até morrer.

O pai de João Helio deu declarações à época que surpreenderam muita gente, porque ele não manifestou desejo de vingança aos assaltantes.

Foi uma aula de civilização a conduta ética desse pai, pois ele sofreu imensamente com a perda do filho, manifestou todo o seu amor e sua dor, mas não caiu na moenda do linchamento e da vingança que alimenta esse fascismo brasileiro - que não é de hoje nem só da direita.

O pai de João Hélio estava preocupado em lutar para que aquele episódio não se repetisse e que outros pais não sofressem como ele sofreu.

Em geral, trabalhadores têm esse senso de ética. Classes médias e elite querem logo sair matando (mas, eles terceirizam essa função para as polícias).

No mais, fica essa lição amarga de que o ódio prossegue dando as cartas neste país.

Globo, reportagem e segmentos inteiros das 'esquerdas democráticas' da internet acabaram por deslegitimar a possibilidade de prestar solidariedade àqueles que sofrem e pagam pelo mal que cometeram, de se confiar em uma justiça possível que pune dentro da lei, de se observar e tentar superar a crueldade que impera em todo o sistema carcerário brasileiro.

A tese do olho por olho e dente por dente vai conquistando mais espaço entre bárbaros e civilizados, transformando a sociedade inteira em um aglomerado difuso, confuso e suicida.

A capitulação de Drauzio Varella é chocante. A primeira nota emitida por ele foi corajosa e traduziu o que sempre foi (e é): um médico dedicado, inteligente e humanista.

Mas a onda de ódio, de cancelamento e de lacração afugentou até a conduta sempre admirável de um de nossos maiores exemplos de cidadão.

É péssimo o pedido de desculpas numa situação como essa.

As hordas da vingança e do medo comemoram. Saíram vitoriosos.