Por Julinho Bittencourt, jornalista, na Fórum
A denúncia de que o governo do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) gastou R$ 15.641.777,49 apenas em Leite condensado no ano de 2020, além de espantosa, nos faz lembrar outro episódio, ocorrido em 2008, que envolveu o então ministro do Esporte Orlando Silva.
Na época, o ministro foi “acusado” de ter usado o cartão corporativo para pagar uma tapioca de R$ 8,30 em Brasília. Pela regra, o cartão corporativo é usado para pagar despesas de viagens. Orlando, portanto, se enganou no uso, pois estava em Brasília, sede do governo. Conforme ele mesmo explicou na ocasião, assim que foi avisado do erro pelo órgão de controle do ministério, ressarciu devidamente os cofres públicos nos seus justos R$ 8,30.
O grande problema deste caso não foi o erro do ministro, mas sim a desproporção da reação da imprensa, que em um janeiro morno, sem notícias na Esplanada, se ocupou do caso da tapioca como se fosse um Watergate caseiro. Por conta disso, é bom lembrar, Orlando teve que depor na CPI do cartão corporativo.
Toda a imprensa do país procurou o ministro para tratar do assunto. O caso ocorreu logo após a participação de Orlando na realização dos Jogos Pan Americanos no Rio de Janeiro.
O clipping com matérias da imprensa sobre o caso da tapioca, de acordo com informações do próprio ministério foi, no mínimo, dez vezes maior do que os volumes sobre o Pan, que tinha sido um esforço de Estado envolvendo as três esferas de governo, município, estado e governo federal.
Repetimos nesta Fórum – e colegas em vários outros órgãos e blogues – a desproporção com que os governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff foram tratados pela imprensa de maneira geral. A tapioca do Orlando, entre outros casos semelhantes e insignificantes, tiveram cobertura e repercussão sistemática que outros casos, como este da compra de leite condensado de Bolsonaro por milhões de reais talvez nem chegue perto. Quem viver verá.
O resultado desse trabalho diário e mesquinho de alguns veículos de comunicação nos presenteia com este governo que aí está. Quem duvida disso, que compare as consequências políticas das “pedaladas fiscais” da Dilma com o claudicante pedido de impeachment de Bolsonaro.
Um presidente que, além de gastar R$ 15.641.777,49 com leite condensado, tem sido omisso com a tragédia da pandemia do coronavírus, provocando a morte de milhares de pessoas.