Doações de toneladas de alimentos que não aparecem no Jornal Nacional

As doações correspondem a 550 vezes o volume de alimentos e remédios enviados pelo Brasil ao Líbano

Foto: PensarPiauí
MST

Por Mariana Franco Ramos, no De Olho nos Ruralistas 

O Brasil é um país de contrastes. Se, por um lado, passamos das 115 mil mortes em decorrência da Covid-19, muitas das quais evitáveis, por outro crescem as ações de solidariedade entre os povos do campo e da cidade. Desde o início da pandemia, em março, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) distribuiu 3,1 mil toneladas de comida, número que cresce a cada semana.

Somadas com as 200 toneladas entregues até aqui pelo Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), as doações protagonizadas por camponeses ultrapassam 3,3 mil toneladas. A quantidade equivale a 114 contêineres de quarenta pés, usados para exportação, em sua carga máxima. Também correspondem a 550 vezes o volume de alimentos e remédios enviados pelo Brasil ao Líbano após a explosão no porto de Beirute.

As ações não se resumem às doações. Junto a organizações como Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD), Levante Popular da Juventude e às frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, os camponeses do MST desenvolvem as campanhas Periferia Viva e Vamos Precisar de Todo Mundo, que reforçam o papel da solidariedade, da agroecologia e dos movimentos sociais no combate à pandemia e à fome.

Ambas se colocam como um contraponto à Solidariedade S/A, veiculada diariamente no Jornal Nacional, da Rede Globo, que destaca doações realizadas por grandes empresas — muitas vezes irrelevantes em relação ao tamanho dessas corporações, em grande parte agroindústrias. “Solidariedade para nós não é dar o que sobra, porque não sobra nunca”, resume Kelli Mafort, da coordenação nacional do MST. “As famílias participam e gostam, porque também receberam doações quando estavam acampadas, debaixo de lona. Para elas é uma forma de retribuir”.

Como forma de dar mais atenção às ações que a Globo não mostra, De Olho nos Ruralistas passa a reunir, por região, informações sobre vaquinhas ou campanhas de arrecadação de fundos para o auxílio a comunidades ameaçadas pela fome. Essa cobertura se soma a uma série de reportagens que destaca as iniciativas de doação encabeçadas por movimentos do campo, parte de uma cobertura especial sobre segurança alimentar, De Olho na Fome.

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