A presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), Dilma Rousseff, foi oficialmente reconduzida ao cargo neste domingo (23), durante o Fórum de Desenvolvimento da China, realizado em Pequim. Sua reeleição à frente da instituição criada pelos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ocorreu por indicação da Rússia, após articulação direta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A permanência de Dilma no comando do banco, sediado em Xangai, consolida sua liderança internacional e reforça o papel estratégico do Brasil no fortalecimento do Sul Global. Para o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, a continuidade de Dilma representa um avanço fundamental na política externa brasileira. “A reeleição da presidenta Dilma fortalece a presença do Brasil nos BRICS e intensifica a ponte estratégica com a China, além de ampliar nossas relações internacionais em um momento geopolítico desafiador”, afirmou.
Desde que assumiu a presidência do NDB em março de 2023, Dilma promoveu uma reestruturação profunda na instituição, que enfrentava um período de inoperância e instabilidade herdado da gestão do diplomata Marcos Troyjo. Entre os principais avanços estão a recuperação da liquidez, o retorno ao mercado de capitais e a reativação do programa de emissão de títulos na China, os chamados Panda Bonds.
Em seu primeiro biênio de gestão, o NDB realizou cerca de 40 operações de captação em diversas moedas, arrecadando aproximadamente US$ 14 bilhões. Destacam-se duas emissões em dólares, de US$ 1,25 bilhão e US$ 1,2 bilhão, além de US$ 4 bilhões em yuanes. A criação de um comitê executivo de governança, em abril de 2023, foi outro marco da nova fase do banco.
A recuperação institucional foi reconhecida por agências internacionais. A Fitch reafirmou o rating “AA” do banco com perspectiva estável, e a agência japonesa JCR elevou a nota para “AAA”, destacando os avanços em governança e segurança financeira.
Durante o Fórum, Dilma voltou a criticar a gestão anterior, sem citar nomes: “Uma das coisas mais graves que aconteceram no banco foi quando não tomaram empréstimos por 16 meses. Quando você não tem liquidez, você não investe”.
Em entrevista ao Brasil 247, Dilma destacou o papel do BRICS na nova ordem mundial. “O BRICS é um fator de estabilidade em tempos de incerteza. O parâmetro das relações internacionais não pode ser a força, tem que ser o respeito entre os países”, defendeu.
O Brasil também ampliou sua participação nos projetos do NDB, com os desembolsos no país passando de 12% para 18%, alinhando-se à participação acionária brasileira. Entre os investimentos estão o Hospital Inteligente (em parceria com a USP e os ministérios da Saúde e da Ciência e Tecnologia), obras de infraestrutura hídrica na Paraíba e financiamento para a CPFL Energia.
Além disso, a atuação internacional do banco tem se expandido. A Argélia ingressou no NDB em 2024 e o Uruguai está em processo de adesão. Outros 17 países já manifestaram interesse em se tornar membros, ampliando o alcance global da instituição.
A recondução de Dilma ocorre também em um momento de afirmação política pessoal. Durante o evento em Pequim, a presidenta aproveitou para rebater críticas da imprensa brasileira. Ao ser questionada pela Folha de S.Paulo sobre denúncias de metas atrasadas e relatos de assédio moral, Dilma ironizou: “Não vi. Não quero [comentar]”. Em seguida, criticou o histórico do jornal: “Agora, vocês têm que parar de fazer ficha falsa, tá? Conhece a ficha falsa? Lembra dela?”, referindo-se à publicação de um documento sem origem comprovada em 2009, quando foi pré-candidata à Presidência.
A presença de Dilma no Fórum ao lado de líderes como o primeiro-ministro chinês Li Qiang, o CEO da Apple, Tim Cook, e o brasileiro Cristiano Amon, CEO da Qualcomm, evidenciou o protagonismo do NDB como alternativa às instituições financeiras tradicionais.
Nas redes sociais, o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), celebrou a recondução de Dilma: “Sua liderança à frente da instituição demonstra o papel estratégico do Brasil no cenário internacional, no desenvolvimento sustentável e na construção de um mundo multipolar”.
Com governança reforçada, solidez financeira e crescente influência internacional, o NDB se consolida como um dos principais vetores de financiamento para o desenvolvimento sustentável entre países emergentes — e a recondução de Dilma Rousseff simboliza também sua própria resiliência política e administrativa.