Depois do CFM, bolsonarismo busca ampliar espaços na OAB

Candidatos mobilizam discursos conservadores e críticas ao STF

Após conquistar posições estratégicas no Conselho Federal de Medicina (CFM) neste ano, aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) agora miram a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), adotando discursos polarizados e acenos ao conservadorismo. As eleições para as seccionais da OAB, que envolvem os 26 estados e o Distrito Federal, começaram ontem e seguem até o dia 30, conforme reportado pelo jornal O Globo.

Em uma entrevista recente a uma rádio paulista, Bolsonaro reforçou o caráter político da disputa e orientou os advogados a observarem atentamente os candidatos, alertando para as "chapas ligadas à esquerda". Para ele, a atual direção da OAB falhou na defesa de investigados e réus no Supremo Tribunal Federal (STF). "O advogado é um dos pilares da democracia. Se ele não pode falar, está amordaçado, adeus democracia", declarou o ex-presidente.

São Paulo como epicentro da disputa política

Em São Paulo, Bolsonaro tem demonstrado apoio a Alfredo Scaff, cujo discurso e campanha se alinham com a agenda bolsonarista. Um de seus apoiadores, o advogado Tiago Pavinatto, ganhou notoriedade ao defender publicamente a prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e ao classificar o Judiciário como um "poder ditatorial". Outra chapa de direita, liderada por Caio Augusto Silva Santos, tem como candidata a vice Angela Gandra, filha de Ives Gandra Martins, jurista conhecido por seu envolvimento em polêmicas sobre intervenção militar.

O contraponto vem de Leonardo Sica, candidato da situação, que, embora seja sobrinho de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, tem se distanciado de pautas conservadoras, buscando uma abordagem mais moderada.

Disputas nacionalizadas

Além de São Paulo, Bolsonaro também se envolveu em outras disputas regionais. Em Santa Catarina, Rodrigo Curi tem utilizado imagens ao lado do ex-presidente para reforçar sua aliança com a figura bolsonarista. No Distrito Federal, Everardo Gueiros, conhecido como Vevé, declarou que sua candidatura visa restaurar à OAB a missão de "defender o direito do povo de ter um julgamento justo e legítimo".

A politização das eleições também se reflete no Paraná, onde o vereador Eder Borges (PL) tem apoiado Flávio Pansieri, associado a pautas conservadoras. Em resposta à crescente polarização, Luiz Fernando Casagrande Pereira, advogado da chapa situacionista, criticou a transformação da campanha da OAB em uma disputa ideológica: "Nunca houve essa mistura de política com a eleição da Ordem. A campanha virou só isso, pedir voto acusando os outros de serem de esquerda", afirmou.

Polarização no Rio de Janeiro

No Rio de Janeiro, as tensões também estão altas. Ana Tereza Basilio, candidata da situação, recebeu apoio de figuras proeminentes tanto do campo conservador quanto do progressista, como o ex-presidente da OAB Felipe Santa Cruz. Seu adversário, Marcello Oliveira, por sua vez, conta com o respaldo de lideranças do PT, como o deputado Marcelo Freixo.

Em meio a acusações mútuas de instrumentalização política, Rodrigo Mondego, aliado de Oliveira, criticou a guinada conservadora da OAB, alertando para os riscos de uma mudança ideológica na instituição: "A mobilização desse ultraconservadorismo anti-constitucional vai empurrando a OAB para se tornar uma espécie de CFM", afirmou.

A disputa pela OAB, agora mais politizada do que nunca, reflete o aprofundamento da polarização política no país, com a Ordem dos Advogados se tornando mais uma arena de confronto ideológico em um cenário de crescente divisão no Brasil.