Debates eleitorais: para quê e para quem

Por Arnaldo Eugênio, doutor em antropologia

Por Arnaldo Eugênio, doutor em antropologia 

Na época das eleições – como as que irão acontecer em outubro deste ano no Brasil –, o debate (em francês, débat: controvérsia, querela) entre candidatos é uma importante ferramenta democrática. Desse modo, confrontando entre si, os postulantes aos cargos eletivos podem expor suas proposições diferentes sem os filtros de propagandas partidárias ou de aplausos apaixonados das claques nos comícios (Lei nº 9.504/97).

Em tempos de ódio e de falta do contraditório nas redes sociais, os icônicos e tradicionais debates eleitorais perdem espaço, mas não o sentido. Nas mesas de bares, na mídia ou nas universidades, o diálogo propositivo fica restrito a grupos de asseclas partidários, que compartilham as mesmas opiniões e até visões distorcidas da realidade, não raro eclode uma discordância pontual.

Na verdade, os debates são espaços democráticos orientados principalmente para os eleitores indecisos – ou seja, aqueles que tendem a não ser parcial a qualquer ideologia ou partido político. Eles atingem índices significativos de popularidade, por isso, sendo capazes de influenciar os resultados das eleições, quando algum dos candidatos consegue se destacar e/ou outro se recua a debater.

A finalidade dos debates é conquistar os eleitores em dúvida e/ou consolidar os possíveis votos. Nesse sentido, quando um candidato se recusa a debater por motivos vãs, este prenuncia ao eleitor a insegurança e a obscuridade no que pensa e pretende fazer com o mandato depois de ser eleito. Isso gera muita insegurança no eleitor, que tende a não votar, por descrédito, no candidato que falta a um debate público. 

Para os candidatos que aceitam e participam de debates, estes precisam não só apresentar suas ideias e propostas, mas informar como irão operacionalizá-las. Pois, trata-se de um momento de grande expectativa para o eleitor/povo, sobretudo pelo enfrentamento de visões distintas sobre políticas públicas que, evidentemente, impactarão na vida da população, por, no mínimo, quatro anos.

Os candidatos que se negam ao debate estão mostrando aos eleitores que, na verdade, as discussões sobre as suas ideias políticas e visões de mundo não convergem para o bem coletivo. Por isso, é “estratégico” não expô-las, e, assim, evitar um embate negativo com o eleitor antes do dia das eleições: a rejeição.

Na Grécia Antiga, no contexto da Ágora, os cidadãos atenienses discutiam diversas questões nas praças públicas. No contexto da Revolução Francesa, os jacobinos e girondinos disputavam os rumos do evento que mudaria a história, popularizando a noção de esquerda e direita, que ainda perdura no mundo. 

Hoje, a televisão (ou teledebates) não é mais o único meio de comunicação a promover os debates entre candidatos, pois é comum em jornais, rádios, internet e até as universidades. Assim, como é amplo o alcance do público/eleitor, um bom desempenho do candidato nos debates, principalmente quando há ausência de outrem, pode ser decisivo para a sua vitória e derrota do faltoso.

Na verdade, não é obrigatório que candidatos, mais bem colocados ou não nas pesquisas, compareçam aos debates agendados. Mas, a ausência revela, por um lado, o medo de dialogar com o povo e, por outro, esconde do eleitor suas reais intenções se vier a ser eleito. Ou seja, a ausência de candidato em debate público é uma postura de réu confesso: não se comprometer em nada com os eleitores.

Portanto, o candidato que foge ao debate subestima a inteligência do eleitor e, por isso, poderá ser julgado e rejeitado nas urnas. Pois, em campanhas eleitorais, toda ausência é sintomática: 1º) gera um fato político contrário; 2º) torna-se alvo de desconfianças do eleitor; e 3º) revela a obscuridade no que quer se propor.