De volta ao centrão, Bolsonaro diz não saber se há corrupção no governo

O mercado de compra de votos dos parlamentares, que vem sendo chamado de Bolsolão, foi revelado, em maio, por investigação do O Estado de S.Paulo

Foto: Exame
Jair Bolsonaro

 


Por Leonardo Sakamoto, jornalista, no Facebook 

Jair Bolsonaro (PL) costumava afirmar que a sua chegada ao poder havia eliminado a corrupção do governo federal. Contudo, menos de uma semana após sua filiação ao partido de Valdemar da Costa Neto, ocorrida no dia 30, adotou outro tom. "Não vou dizer que no meu governo não tem corrupção, porque a gente não sabe o que acontece muitas vezes", disse a apoiadores em frente ao Palácio do Alvorada nesta segunda (6).

É um alívio que ele abrace esse discurso. Porque era uma ofensa à inteligência do cidadão brasileiro ver um governo que articula com o Congresso Nacional um mecanismo de distribuição de bilhões em emendas parlamentares via orçamento secreto visando a bloquear o impeachment do presidente afirmar que não há corrupção.

O mercado de compra de votos dos parlamentares, que vem sendo chamado de Bolsolão, foi revelado, em maio, por investigação do jornal O Estado de S.Paulo. O STF bloqueou a farra, exigindo transparência na distribuição de recursos, mas os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), lutam para manter os repasses já feitos sob sigilo.

Se Bolsonaro não acredita que isso não é errado terá que chancelar como mentirosas as denúncias de aquisição de apoio no Congresso por parte do governo Lula no que ficou conhecido como mensalão.

O mesmo centrão fisiológico, que garante suporte em troca de recursos para ajudar em sua reeleição, foi o lugar escolhido para Jair se abrigar. O patriarca das rachadinhas não apenas voltou ao seu lar, como também garantiu um naco do seu governo aos indicados do centrão - fazendo o oposto do que havia prometido na campanha. E, com isso, reafirmou os problemas que já conhecemos de confusão entre o que é público e o que é privado.

Por exemplo, em 7 de outubro do ano passado, o presidente afirmou que havia acabado com a operação Lava Jato porque, segundo ele, não há mais corrupção no governo.

"É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação", afirmou.

Não foi ele quem acabou com a operação, na verdade foram os próprios membros da força tarefa que se implodiram ao passarem por cima da lei para atingir seus objetivos. Mas há aliados do presidente que tiveram papel fundamental na derrocada da operação, como o procurador-geral da República, Augusto Aras.