O Senado Federal escolheu, neste sábado (1º), Davi Alcolumbre (União-AP) para a presidência da Casa pelos próximos dois anos. Esta será a segunda passagem do parlamentar pelo cargo, que já ocupou entre 2019 e 2021. A eleição marcou um momento de forte articulação política, garantindo a Alcolumbre apoio tanto da base governista quanto da oposição. Ele obteve 73 votos.
Conhecido por sua atuação nos bastidores e por sua capacidade de articular consensos, Alcolumbre manteve influência na Casa mesmo durante a gestão de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chegando a comandar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), considerada a mais importante do Senado. Sua eleição reflete uma estratégia de equilíbrio entre forças políticas, reunindo apoio de legendas que, fora desse contexto, costumam estar em lados opostos do espectro político.
A composição da nova Mesa Diretora evidencia esse arranjo: o PL, principal partido de oposição ao governo federal, ficará com a primeira vice-presidência, ocupada por Eduardo Gomes (PL-TO), enquanto o PT, sigla do presidente Lula, indicou Humberto Costa (PT-PE) para a segunda vice-presidência.
Apesar do amplo apoio, algumas siglas se posicionaram contra ou optaram por não se envolver na disputa. O Novo e o PSDB foram os únicos partidos que não respaldaram sua candidatura, enquanto o Podemos deixou seus senadores livres para votar como quisessem.
Os colegas dizem que muito de sua força está em atender às demandas internas do Senado.
Em seu discurso na eleição, neste sábado, ele deixou isso bem claro:
"Não haverá democracia forte sem um Congresso livre, sem um Parlamento firme, sem um Senado soberano, autônomo, e independente", afirmou.
Alcolumbre também sinalizou que vai batalhar pela liberação das emendas parlamentares, suspensas pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que apontou falta de transparência no processo. O governo havia acertado a liberação da verba em acordo com o parlamento.
Quem é Davi Alcolumbre?
Aos 47 anos de idade, ele é um dos políticos mais influentes da República. Presidente do Senado entre 2019 e 2021, foi um dos principais articuladores das duas vitórias de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que liderou a chamada “Câmara Alta” nos últimos quatro anos.
Nos últimos dois anos, o senador amapaense comandou a Comissão de Constituição e Justiça, a mais importante da Casa. Acumulando poder e capacidade de articulação, é ele também quem controla a distribuição de emendas aos senadores e influencia na indicação da maioria dos cargos.
Em 2019, Alcolumbre enfrentou Renan Calheiros (MDB-AL) na disputa pela presidência do Senado. Foi a eleição mais acirrada dos últimos anos. Na ocasião, a primeira votação foi anulada, após a contagem dos votos depositados na urna revelar 82 cédulas – quando são 81 senadores no total, três por estado – incluindo duas delas sem envelopes. Diante do imbróglio, Renan acabou abandonando a disputa. Com os votos de 42 senadores, Alcolumbre foi eleito o mais jovem presidente do Senado, aos 41 anos.
Durante a sua primeira presidência, Alcolumbre atuou como fiador do governo do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Foi, por exemplo, um dos principais articuladores da aprovação da dita “reforma” da Previdência, que restringiu o acesso às aposentadorias. Habilidoso, soube se repaginar e se aproximar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais recentemente. Foi assim que, no comando da CCJ, articulou para aprovar desta vez o novo arcabouço fiscal do governo petista.
Alcolumbre: Biografia
David Samuel Alcolumbre Tobelem nasceu em 1977, em Macapá, capital amapaense, e é empresário. É casado com Liana Andrade e pai de dois filhos: Davi e Matheus. Começou na política no PDT, partido pelo qual se elegeu vereador de Macapá em 2000. Também foi secretário de Obras do município. Em 2002 foi eleito deputado federal, sendo reeleito em 2006 e em 2010. Em 2006 se filiou ao DEM, fazendo parte do diretório nacional e do conselho político do movimento jovem da legenda.
Em 2014 foi eleito senador, com 36,26% dos votos válidos. No Senado, presidiu a Comissão de Desenvolvimento Regional e Turismo (CDR) e participou de colegiados como a Comissão Temporária para Reforma do Código Comercial e da Representação Brasileira no Parlamento do Mercosul. Em 2018, foi candidato ao governo do Amapá, mas não se elegeu.
Em 2021, o DEM se fundiu ao PSL, formando o União Brasil. Na eleição de 2022, Alcolumbre foi reeleito senador, com o apoio de 196 mil eleitores.
Além da influência plena no Senado, e do livre trânsito com o governo de ocasião, o candidato favorito ainda mantém pontes com o Judiciário. Ele é próximo, por exemplo, dos ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Flávio Dino. Este último comanda no Supremo Tribunal Federal (STF) investigações sobre o chamado Orçamento Secreto, o esquema de distribuição de emendas que surgiu ainda durante o governo Temer, e se ampliou sob Bolsonaro. Nesse sentido, Dino tem cobrado critérios técnicos e de transparência na aplicação dos recursos de emendas. Ao mesmo tempo, também investiga eventuais desvios na destinação das verbas.