Davi Alcolumbre apóia Lula, mas o preço é altíssimo

Senador do Amapá pressiona por controle de cargos estratégicos e tenta derrubar ministro de Minas e Energia

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), tem se consolidado como um dos principais articuladores políticos do governo Lula no Congresso Nacional. Essa aliança, no entanto, tem um custo elevado. Segundo reportagem do Estado de S. Paulo, o apoio do senador ao Palácio do Planalto tem sido condicionado à ocupação de cargos estratégicos no governo federal, ampliando sua influência sobre estatais e agências reguladoras.

Num momento em que o projeto de anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro avança na Câmara dos Deputados, Alcolumbre acena com a possibilidade de barrar a proposta no Senado — mas exige contrapartidas. Entre elas, nomeações no Banco do Brasil, nos Correios e em agências como a Aneel, ANP e ANM, além da saída do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), com quem rompeu politicamente.

A relação entre Alcolumbre e Silveira se deteriorou ao longo de 2023. O senador argumenta que, ao buscar apoio para reassumir a presidência do Senado, comprometeu-se com aliados como Eduardo Braga (MDB-AM) e Otto Alencar (PSD-BA) a viabilizar indicações em órgãos reguladores. Silveira, porém, tem resistido a essas articulações, dificultando a execução dos acordos. A tensão aumentou quando o ministro — originalmente indicado por Rodrigo Pacheco — aproximou-se de Lula e da primeira-dama, Rosângela da Silva, tornando-se parte do núcleo mais próximo ao presidente. Sua permanência passou a ser vista como um obstáculo direto à expansão do poder de Alcolumbre em áreas-chave do governo.

Mesmo antes de reassumir oficialmente a presidência do Senado, em fevereiro deste ano, Alcolumbre já exercia forte influência sobre a Esplanada dos Ministérios. Foi dele a indicação de Waldez Góes (Integração Nacional) e de Juscelino Filho (Comunicações), este último afastado após denúncias de corrupção ligadas ao uso de emendas parlamentares.

Com a queda de Juscelino, o senador articula a nomeação do deputado Pedro Lucas Fernandes (União-MA) para manter o controle sobre o Ministério das Comunicações e evitar que outras alas da base governista avancem sobre a pasta.

Diante do avanço da proposta de anistia na Câmara — impulsionada pelo PL e setores da extrema direita — o Planalto conta com Alcolumbre para barrar o texto no Senado. A oposição, no entanto, teme que a decisão sobre a tramitação ocorra sem transparência.

"Pode ser que ele (Alcolumbre) trave [a votação]", afirmou o senador Eduardo Girão (Novo-CE), crítico da articulação. “Minha preocupação é com os acordões que foram feitos, não só com o Lula. O mínimo que se espera é neutralidade e imparcialidade. Que ele coloque o projeto em pauta”, cobrou.

Enquanto isso, o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou um pedido de urgência para a votação do projeto, com o apoio de 262 parlamentares — acima das 257 assinaturas necessárias. A decisão final sobre o andamento da proposta caberá ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), após consulta aos líderes partidários.