CPI contra o MST: uma das grandes infâmias da República

O professor e escritor Elias Jabbour fez uma defesa do MST em razão da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada pela Câmara dos Deputados

Foto: Reprodução
Mulheres do MST protestam contra agronegócio, a fome a as violências

 

Por Elias Jabbour,  professor e escritor, no Dcm

O professor e escritor Elias Jabbour fez uma defesa do MST em razão da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada pela Câmara dos Deputados. Conheça seus argumentos, publicado originalmente no perfil do Twitter do autor:

Eu classifico essa CPI contra o MST uma das grandes infâmias da República. Algo comparado à Operação Lava Jato. A razão é simples: não se trata somente de uma questão de luta pela democratização do acesso à terra em um país onde o processo de acumulação de capital foi tão rápida quanto intensa a ponto de transformar o que Marx chamava de crise de superpopulação rural em crise de superpopulação urbana, dado o processo poupador de mão obra que nossa industrialização adquiriu no final da década de 1970. O problema é outro.

O MST e suas ações tem servido para colocar o dedo na ferida do verdadeiro problema que afeta diretamente o povo brasileiro: o preço dos alimentos. A grande questão não é somente a sacralidade da propriedade privada e sim a permissão com que meia dúzia de intermediadores distorçam completamente o sistema de preços dos produtos de primeira necessidade.

Na medida em que os assentamentos do MST vão elevando sua composição orgânica do capital vai ficando claro que o absurdo dos preços dos alimentos no Brasil. O Brasil que passa fome não pode aceitar passivamente isso. E em total medida o MST, e suas ações, são uma forma legítima de dizer ao país que é intolerável existir fome em um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

Cabe alguma CPI? Sim, e ela tem que ter como objetivo decifrar e tornar pública como funciona o sistema de preços e o papel perverso dos monopsônios e oligopsônios neste sistema e na manutenção de 100 milhões de brasileiros em estado de insegurança alimentar.

Eu defendo as ações do MST de forma inequívoca, por entre outros motivos, pelo simples fato desse movimento colocar o dedo na ferida em um absurdo chamado sistema de formação de preços na agricultura brasileira. O MST é necessário tanto como instrumento de luta quanto pela construção de um projeto nacional e popular ao Brasil.