No contexto nacional, desde 2024, tem-se percebido no Brasil uma sequência de movimentos partidários da extrema-direita e da esquerda, para comandar o protagonismo político e influenciar a opinião pública. Para tanto, é fundamental desenvolver habilidades de comunicação e liderança, além de intuição política afiada.
Isto aguça a imaginação política de analistas, de jornalistas e do senso comum a conjecturarem sobre os rumos do jogo político, que está sendo desenhado para as eleições de 2026 – no âmbito nacional, e principalmente no estadual. Aqui, o “meu conjecturar” não busca ser uma verdade ou cientificidade, mas, um exercício de imaginação política ou de futurologia.
No caso do Piauí, três fatos políticos estimulam a elaboração de conjecturas livres: 1) a insatisfação pública do vice-governador Themístocles Filho (MDB); 2) o afago financeiro de Ciro Nogueira (PP) aos prefeitos; e 3) a inclinação de Rafael Fonteles (PT) por Washington Bandeira, de vice-governador na chapa majoritária para 2026.
Nesse contexto, a partir do momento em que Themístocles Filho torna público a sua insatisfação por ter sido preterido como vice e de seus aliados partidários pela restrição de espaços no governo, abre-se uma janela de oportunidades para uma união de forças entre os insatisfeitos e os opositores (prefeitos e vereadores) do PP, do PL, do Republicanos, do União Brasil e de parte expressiva do MDB camaleônico.
Por um lado, ele ativará o arquétipo da raposa – como fez para tirar o PSDB da prefeitura de Teresina, em 2020 – e se mover nos interstícios de desagrado no governo. Por outro lado, como líder do MDB, avivará em muitos de seus aliados partidários o modo “camelão da política”, ou o interesse objetivo e imediato.
Em consonância com a exclusão de Themístocles da vice de Rafael, o afago financeiro de Ciro Nogueira – um elo bolsonarista no nordeste – aos prefeitos busca distrair o clã rafaelista, enquanto tenta construir uma frente oposicionista, captando as motivações e vulnerabilidades do governo, para criar situações favoráveis que neutralize a capacidade governista de reação, antes do período eleitoral de 2026.
A ousada articulação política de Ciro Nogueira com prefeitos (inclusive do PSD e do PT), além de intentar, por dentro, dividir a base aliada do governo, busca, por fora, atrair os municipalistas através da antecipação, da prevenção e da persuasão. Incutindo neles a mensagem sub-reptícia de defesa incondicional da autonomia dos gestores municipais, ou seja, a escolha política é livre do prefeito.
Já a inclinação de Rafael Fonteles por Washington Bandeira para ser o vice-governador na chapa majoritária de 2026, assegurando a Chico Lucas total apoio à prefeitura de Teresina em 2029, cumpre um acordo anterior, apostando na reeleição através da alta aprovação popular e da base aliada. E, com isso, manter a hegemonia petista no Piauí, remodelar o partido com os “rafaboys” e se viabilizar à sucessão de Lula em 2030 – contando com a reeleição.
Assim, conjectura-se que Rafael (ou Nazareno) Fonteles optará por Washington Bandeira pelo grau de confiabilidade, associada a integridade, liderança, visão estratégica, habilidades de comunicação eficazes, capacidade de tomar decisões e, sobretudo, pelo senso de adaptabilidade política e acato ao comando rafaelista.
Todavia, na dinâmica política, nem tudo é tão certo e infalível como se pensa e se quer. Pois, existem ameaças reais que podem frustrar os planos de reeleição de Rafael Fonteles: o arquétipo da raposa de Themístocles Filho, o MDB camaleônico, o modo maquiavélico de Ciro Nogueira, as “viúvas de Wellington Dias”, o incômodo da velha-guarda petista e a coalizão de forças de oposição (e parte da base aliada).
Portanto, para se manter no poder, como ensina Maquiavel, Rafael deve considerar como virtudes o que todos consideram como vícios e vice-versa.