A crise entre os Estados Unidos e a Ucrânia atingiu um novo patamar após um encontro tenso entre o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e o presidente dos EUA, Donald Trump, na última sexta-feira (28). O desentendimento resultou na saída antecipada de Zelensky da Casa Branca sem a assinatura de um esperado acordo sobre minerais estratégicos. O impasse gerou reações tanto entre aliados republicanos de Trump quanto entre democratas, evidenciando uma divisão na estratégia norte-americana para a guerra na Ucrânia.
Pressão republicana sobre Zelensky
Aliados de Trump intensificaram a pressão sobre Zelensky, exigindo que o líder ucraniano reavalie sua posição sobre o conflito com a Rússia ou renuncie. O assessor de segurança nacional de Trump, Mike Waltz, afirmou que não está claro se Zelensky está disposto a negociar a paz e sugeriu que uma solução poderia envolver concessões territoriais por parte da Ucrânia em troca de garantias de segurança lideradas pela Europa. “Precisamos de um líder que possa lidar conosco e com os russos para encerrar esta guerra”, declarou Waltz.
O senador republicano Lindsey Graham também manifestou ceticismo sobre a continuidade do apoio a Zelensky, enquanto o presidente da Câmara dos Representantes, Mike Johnson, foi ainda mais direto: “Ou ele reconhece a realidade e volta à mesa de negociações com gratidão, ou outro líder precisará conduzir a Ucrânia nesse caminho”.
Reação democrata e europeia
As declarações republicanas geraram forte reação entre os democratas, que acusaram Trump de enfraquecer a Ucrânia em favor da Rússia. O senador Bernie Sanders considerou “horrível” a sugestão de que Zelensky deveria renunciar e ressaltou que o líder ucraniano está “defendendo a democracia contra um ditador autoritário”. O senador Chris Murphy acusou o governo Trump de atuar como um aliado de Vladimir Putin, alegando que a Casa Branca estaria preparando um acordo para “entregar a Ucrânia”.
Na Europa, a reunião de líderes em Londres reforçou o apoio a Zelensky. O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou a formação de uma “coalição dos dispostos”, composta pelo Reino Unido, França e outros aliados ocidentais, para intensificar o suporte à Ucrânia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu o reforço dos investimentos em defesa, afirmando que é necessário “transformar a Ucrânia em um porco-espinho de aço, impossível de ser engolido”.
O futuro da guerra e da OTAN
A crise também levantou dúvidas sobre o futuro da OTAN e o papel dos Estados Unidos na aliança. O almirante aposentado James Stavridis alertou que a organização pode enfraquecer caso as divisões sobre o apoio à Ucrânia se intensifiquem. Enquanto isso, Trump tem dado sinais de que pretende reduzir o apoio militar a Kyiv, exigindo que os aliados europeus aumentem seus gastos em defesa para 5% do PIB. Essa postura tem gerado preocupação entre os líderes europeus, que buscam estratégias para manter o suporte à Ucrânia mesmo sem o respaldo pleno dos EUA.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou os países ocidentais de manterem Zelensky no poder “com suas baionetas” e afirmou que a guerra só continua porque a Ucrânia se tornou um “fantoche dos interesses estratégicos do Ocidente”. No entanto, sem uma definição clara da posição norte-americana, a incerteza sobre o futuro do conflito e de Zelensky só aumenta.
Crise entre Zelensky e Washington: o futuro incerto do líder ucraniano
A relação entre Volodymyr Zelensky e os Estados Unidos entrou em uma fase crítica, com crescentes dúvidas em Washington sobre a capacidade do presidente ucraniano de liderar seu país neste momento decisivo da guerra. O Conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, declarou à CNN que a Casa Branca busca um líder em Kiev que possa "lidar com os russos e acabar com esta guerra", sugerindo que Zelensky pode não ser a melhor opção para essa tarefa.
Durante entrevista ao programa de Dana Bash, Waltz questionou se Zelensky está preparado para conduzir a Ucrânia rumo à paz. Segundo ele, o ex-presidente Donald Trump acredita que tanto Kiev quanto Moscou precisarão fazer concessões para encerrar o conflito. Waltz também mencionou que, na recente reunião entre Trump e Zelensky, o líder ucraniano "não demonstrou estar pronto para a paz". Quando questionado sobre um possível desejo da Casa Branca de afastar Zelensky, ele respondeu de maneira evasiva: "Precisamos de um líder que possa lidar conosco, lidar com os russos e encerrar esta guerra".
A insatisfação com Zelensky não se restringe ao governo Trump. Em entrevista à Breitbart Radio, Waltz comparou o presidente ucraniano a uma "ex-namorada que quer discutir tudo o que foi dito há nove anos, em vez de avançar no relacionamento". Já o Secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou à ABC News que não teve mais contato com Zelensky desde sexta-feira e que o objetivo da administração Trump é levar Ucrânia e Rússia à mesa de negociações. Segundo ele, Trump seria "a única pessoa no mundo que tem alguma chance de conseguir isso".
No Senado, a frustração também é evidente. O republicano Lindsey Graham declarou à Fox News que a conversa entre Zelensky, Trump e o vice-presidente J.D. Vance foi uma "oportunidade perdida". Em um tom duro, Graham questionou se Zelensky ainda tem condições de conduzir a Ucrânia à vitória ou se "o país precisa de alguém novo". Essa mudança de postura é significativa, pois há poucos meses, Graham havia elogiado Zelensky como "o aliado que esperei por toda a minha vida" durante a Conferência de Segurança de Munique.
O ex-oficial de inteligência do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, Scott Ritter, afirmou à RT que o governo de Zelensky chegou ao fim. Segundo ele, a recente reunião entre o líder ucraniano e Trump foi uma "armadilha" para expor suas fragilidades e justificar sua remoção. Ritter destacou que Zelensky completou seu mandato em maio de 2024, mas se recusou a convocar novas eleições sob a justificativa da lei marcial. Para ele, a paciência de Washington se esgotou, e a administração Trump está determinada a substituí-lo.
A reunião de sexta-feira entre Zelensky, Trump e J.D. Vance evidenciou essa crise. Enquanto Trump defendia a necessidade de negociações com Moscou, Zelensky insistia que a Rússia não era confiável e reivindicava mais apoio militar. Trump, no entanto, foi categórico ao afirmar que Zelensky não estava "em posição de ditar" a política externa americana. Para Ritter, esse foi o ponto de ruptura. "Este é o fim do governo Zelensky. Ele não vai se recuperar disso. A Ucrânia não pode se dar ao luxo de tê-lo como líder", declarou.
As tensões refletem mudanças profundas na política externa dos Estados Unidos sob a nova administração. Uma análise do The New York Times destaca que Trump e Vance estão rompendo com a retórica tradicional da hegemonia norte-americana, expondo as fragilidades das alianças ocidentais. O artigo cita Henry Kissinger, que previu que Trump poderia "marcar o fim de uma era" e forçar mudanças radicais na política global. O jornal argumenta que os EUA não podem mais sustentar um sistema global de alianças sem custos significativos e que o cenário exige redistribuição de responsabilidades entre os aliados.
O texto também questiona a crença de que a Ucrânia pode derrotar a Rússia apenas com apoio ocidental, classificando essa visão como ilusória. Segundo o New York Times, sem uma intervenção direta dos EUA, a vitória ucraniana é altamente improvável, tornando inevitável algum tipo de negociação com Moscou. O jornal ressalta que, embora a abordagem de Trump seja realista, sua falta de diplomacia pode gerar tensões desnecessárias e ampliar a crise.
A postura americana também gerou reações da Rússia. O ex-presidente Dmitry Medvedev acusou os países ocidentais de prolongarem a guerra e agirem contra os interesses do próprio povo ucraniano. Em publicação no X (antigo Twitter), Medvedev ironizou um encontro de líderes europeus em Londres, classificando-o como "russofóbico e anti-Trump". Para Moscou, o Ocidente não busca uma solução pacífica, mas sim a perpetuação do conflito para enfraquecer a Rússia.
Enquanto isso, o jornalista e ex-deputado australiano George Christensen publicou uma thread no X revelando bastidores da reunião entre Trump, Zelensky e Vance. Segundo ele, o encontro foi marcado por uma troca ríspida de acusações, com Trump encerrando a conversa de forma categórica: "Você não tem as cartas agora". Christensen sustenta que Zelensky nunca teve controle da situação e que seu governo sempre foi mantido por financiamento e propaganda ocidental.
Diante da pressão crescente, Zelensky resiste à ideia de deixar o cargo. Em entrevista à Fox News, ele rejeitou a sugestão de Lindsey Graham para que renunciasse, afirmando: "Só sairei se o povo ucraniano pedir". No entanto, com a perda de apoio americano e a mudança de postura da Casa Branca, seu futuro parece cada vez mais incerto. A guerra que antes era vista como uma luta de resistência ucraniana agora se transforma em um dilema geopolítico para Washington, enquanto Zelensky luta para manter sua posição em meio ao isolamento crescente.