Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Congresso Nacional definiram, em uma reunião fechada na semana passada em Brasília, a "estratégia" para atuar na oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na segunda metade de seu mandato. De acordo com a colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo, os principais líderes da Câmara e do Senado decidiram concentrar sua atuação em temas econômicos, afastando-se das pautas ideológicas, que dominaram boa parte do primeiro mandato de Bolsonaro.
A oposição, agora liderada por representantes do PL e de outros partidos alinhados, deverá focar principalmente na crítica às políticas econômicas do governo. Entre os principais temas que estarão em debate, estão o aumento dos preços de alimentos e combustíveis, o descontrole fiscal, os juros elevados e a valorização do dólar. Outra proposta defendida pelo grupo de oposição é a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a gestão dos Correios, uma estatal que, segundo eles, estaria sendo alvo de um processo de aparelhamento por parte do governo.
O senador Jorge Seif (PL-SC) destacou a mudança na estratégia. "Vamos deixar um pouco de lado as pautas ideológicas, que já estão no nosso DNA, e focar mais na questão econômica, que está impactando o bolso e a mesa de cada cidadão brasileiro. A pauta econômica hoje é a prioridade da oposição", afirmou. Essa mudança de abordagem busca sensibilizar a população, ressaltando os impactos diretos das políticas do governo na vida dos brasileiros, como a alta no custo de vida e os efeitos da inflação.
O ex-presidente Bolsonaro, por sua vez, reforçou essa nova postura da oposição ao enviar, no último domingo (9), uma mensagem à bancada do PL, na qual afirmou que "a agenda de costumes já está incorporada" e faz parte da "marca da direita", citando temas como a defesa da liberdade econômica e religiosa, a redução de impostos, a defesa da propriedade privada, e a preservação dos valores tradicionais, como a família. Embora essas questões continuem sendo defendidas, Bolsonaro tem priorizado, neste momento, o ataque às políticas econômicas do governo atual.
A oposição também está buscando apoio em outras frentes. Um dos movimentos é acionar o Tribunal de Contas da União (TCU) para investigar contratos, licitações, despesas de autoridades e possíveis prejuízos nas estatais. O líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), já formalizou um pedido ao TCU para investigar a criação da fundação IBGE+, acusando a falta de transparência nas parcerias com o setor privado.
Além disso, a CPI dos Correios é vista como uma das principais bandeiras da oposição no Senado. O grupo bolsonarista conseguiu reunir 28 assinaturas para a abertura da investigação sobre a estatal, o que pode aumentar o confronto entre o Congresso e o governo de Lula. A CPI, proposta pelo senador Márcio Bittar (União Brasil-AC), visa investigar possíveis interferências políticas na gestão dos Correios, além de problemas no fundo previdenciário e eventuais irregularidades financeiras e administrativas. Para que a investigação seja instaurada, o requerimento precisa ser lido em plenário e aceito pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que ainda não se pronunciou sobre a decisão.
Com isso, a oposição se prepara para intensificar sua atuação, buscando ampliar a pressão sobre o governo Lula e conquistar maior apoio popular ao focar nas questões econômicas e nos escândalos envolvendo as estatais.